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Um programa bem legal com os índios, em pleno Alto Xingu

OESP, Viagem, p. V1, V8-V11
24 de Mai de 2005

Um programa bem legal com os índios, em pleno Alto Xingu
Projeto turístico estabelece refúgio onde os visitantes entram em contato com o cotidiano de uma tribo
Cristiana Vieira

"Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse as suas vergonhas", dizia um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha sobre o primeiro encontro dos colonizadores portugueses com os índios. Eles já foram donos de tudo. Mas, hoje, cerca de 560 áreas indígenas ocupam apenas 9,89% da área total do Brasil.

O Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso - uma das maiores reservas indígenas da América Latina, que abriga hoje cerca de 4 mil índios de 14 etnias -, foi criado em 1961 para garantir melhores condições de vida para a população local. Embora esteja numa área de 28 mil quilômetros quadrados - que corresponde ao Estado de Alagoas -, o parque não é aberto à visitação. Estudiosos das causas indígenas só têm acesso por meio de uma autorização emitida pela Fundação Nacional do Índio (Funai), que pode levar meses para ser expedida.

Conviver com os índios parece um sonho distante. Mas o turismo caminha a passos largos em direção ao Alto Xingu, em Mato Grosso, onde foi criada uma área para receber turistas interessados em conhecer um pouco da rotina de uma tribo. Trata-se de um projeto turístico que, desde 1996, recebe hóspedes naquela região. "Mas o fluxo sempre foi mínimo e acabei desistindo", explica o proprietário das terras, João Vicentini. Para que desta vez dê certo, ele contratou um consultor, que chegou à conclusão de que o plano só seria possível se esses hóspedes tivessem contato com alguma tribo.

O Xingu Refúgio Amazônico, no município de Feliz Natal, a dez horas do parque, fica nas proximidades da área onde os índios da tribo waurá montaram a aldeia Puiwa Poho para receber os hóspedes. Lá, eles fazem demonstrações de como é a vida numa aldeia. Mostram sua rotina, contam lendas e histórias, apresentam danças e preparam um saboroso peixe assado com beiju, imperdível. "Se até 2007 não tivermos retorno, vamos queimar tudo e voltar definitivamente para o parque", avisa Takapé, o chefe da aldeia.

MISTURAS

Esqueça aqueles índios do livro didático. Embora eles mantenham suas tradições e crenças, aos poucos agregaram características levadas pelos brancos. Usam chinelos e relógios de pulso, têm modernas máquinas digitais e contam que não existe aldeia sem um aparelho de TV. O que não é novidade, principalmente para estudiosos que tiveram oportunidade de realmente conviver com eles.

Mas os índios têm muito medo da vida urbana. "Índios de outras etnias, que perderam suas terras e vivem fora do parque, vão para a cidade e aprendem coisas ruins", diz o presidente da Associação Puwixa Wene, Yawaritsawa, de 24 anos, um dos envolvidos no projeto da pousada. "As pessoas não respeitam e eles viram indigentes, aprendem a beber..."
O empresário Luis Klein conheceu o refúgio no mês passado. Ele nem sabia para onde estava indo, pois foi sua mulher que organizou toda a viagem. "Eu me surpreendi com a estrutura na aldeia, mas ainda falta muita coisa", disse Klein, que doou R$ 10 mil para a compra de um rádio difusor e a construção de um poço na aldeia.

As boas lembranças da viagem como essa ficam por conta das emocionantes demonstrações de carinho dos índi os. "Nunca vou esquecer a experiência que tive na aldeia", disse a nutricionista Joelma Dvoranovski. "Quero voltar com a minha mãe."
Viagem feita a convite da FreeWay Brasil e do governo do Estado de Mato Grosso

Passe o dia na aldeia Puiwa Poho

Criado para servir ao turismo, lugar reproduz com fidelidade os costumes e as tradições nativas
É chegado o dia de conhecer a aldeia Puiwa Poho, que significa rio dos matrinxãs. Do Xingu Refúgio Amazônico até lá, são gastos, em média, 40 minutos. Tempo suficiente para apreciar as cenas amazônicas navegando pelo Rio Von Steinen, nome dado em homenagem ao responsável pela primeira expedição naquela área. Seja pelo espelho d'água, pelo azul do céu ou pelas histórias contadas pelos índios-guias durante o percurso, aquele cenário certamente ficará gravado na memória de quem passar por ali.

Durante o percurso é inevitável fantasiar a inesquecível experiência que está por vir. Quando todos descem do barco e caminham em direção ao centro da aldeia... "Aceitam um cafezinho?", pergunta o índio Takapé, chefe da tribo, que se rebatizou de Miguel, sugerindo uma maneira de recepção que, obviamente, não passa de uma brincadeira. Seus companheiros ficam por ali esperando pelos visitantes, que são recebidos com um tímido aperto de mão e até com beijinhos. Aos poucos, adultos e curumins se aproximam para cumprimentar os visitantes.

Enquanto os olhos curiosos dos turistas dão um giro de 360 graus pela aldeia, Takapé explica que está ali para cuidar do rio e não deixar que as pessoas o poluam. "Não queremos que venham aqui contaminar o rio e os peixes e nos trazer doença", explica. Da oca ecoa o choro de uma criança. A figura do índio de cabelo "tigelinha", preto, brilhante e liso e com o corpo todo pintado e enfeitado contrasta com os acessórios trazidos da cidade, como chinelos e relógios de pulso.
Os preparativos para a apresentação da Festa Taquara, para alegrar a aldeia e comemorar a fartura, estão sendo finalizados. Um retoque na pintura aqui, um nó na roupa ali e o som das taquaras atrai os presentes para o centro da aldeia. Vai começar a dança. Aos poucos, eles saem da oca seguidos pelas índias e até pelos turistas que quiserem participar do espetáculo - o que os deixa muito felizes e honrados. Entram em todas as ocas. "Se a oca não estiver pronta, a gente dança ao redor dela", explica o índio Karaputan.

Mas a dança não é só para chamar e agradecer aos deuses. Os homens falam das mulheres e elas, dos homens. "Falam mal, falam besteiras e até de suas partes íntimas", conta o índio Yawaritsawa, também conhecido como Careca. "Mas é tudo brincadeira. Para eles isso não é ofensa." Os índios sempre dão um jeitinho de parar a dança justamente na hora em que as mulheres começam a revidar...

A aldeia tem espaço reservado para a exposição de artesanatos. Há colares, pulseiras e brincos de miçanga e de penas, além de cerâmicas, pinturas, jogos americanos feitos de talo de buriti, cocares... Há até produtos de outras tribos - uma maneira de conseguir variedade e ajuda mútua. Os índios são bons vendedores. Sabem combinar uma peça com aquela que você escolheu e ainda oferecem outros artigos. A renda do artesanato será revertida para a Associação Puwixa Wene. Os preços variam de R$ 5 (uma pulseira) a R$ 1 mil (um cocar), mas como eles ainda não têm muita noção de valores e de quanto cobrar pelas peças, o mesmo produto pode ter uma variação de 500% no preço.

E LÁ VEM HISTÓRIA

Uma pausa para ouvir as lendas pode durar, tranqüilamente, duas horas. Imagine a cena. Dois índios sentam-se um ao lado do outro e, ao redor deles, os visitantes. Aquele índio, que há poucos minutos falava em perfeito português, conta a lenda em trumai aiwará, o idioma da tribo, e faz algumas pausas para o seu companheiro traduzir. Enquanto ele conta lendas como a da mulher do mato "com seus cabelos longos, pretos, que grita alto pela floresta e exala um odor que pode matar as pessoas envenenadas", a tarde cai e começam a surgir as estrelas. A fogueira é acesa e bate aquele sono...
A idéia é fazer uma oca para que os turistas tenham a oportunidade de passar a noite lá. Mas há de se estar preparado para encarar os borrachudos - e não ter medo de onças, que podem rodear a oca, o que não deixa de ser uma oportunidade única. Assim como aproveitar a opção de voltar para a pousada e curtir um passeio de barco sob a luz do luar.

E ainda há atividades para que o dia na aldeia seja proveitoso. Num rápido giro na mata, acompanhado pelo raizeiro Amutuwa, surgem ervas contra dores de estômago, para fazer as crianças começarem a falar, contra queda de cabelo e dores no rim, para engravidar, para não engravidar e até "remédios" para atrair homem ou mulher. "Para entrar na mata tem de pedir permissão e ajuda aos espíritos", ensina o guia.

Na hora de partir, mesmo sabendo que ainda receberão os turistas no dia seguinte, os índios vão para a beira do rio levar seu carinho e se despedir com calorosos abraços. Mais uma das cenas para ficar num cantinho da memória.

'Trabalho centrado na conservação' - Explica o consultor Lúcio Machado, responsável por avaliar e desenvolver o plano de ação para o fomento do turismo local
Embora o Xingu Refúgio Amazônico, que fica no município de Feliz Natal, seja a base de quem parte para essa viagem, as melhores lembranças são do contato, mesmo que pouco, que se tem com os índios.
O projeto turístico na região é um sonho que desde 1996 não tinha saído do papel. O dono da propriedade, João Vicentini, que trabalha com lavoura e pecuária, já tentou fomentar o turismo em suas terras por várias vezes, mas nunca obteve sucesso. "Eu tenho muitas atividades, não dou conta", explica.

A saída foi encontrar uma pessoa para avaliar e desenvolver as idéias. "Percebemos que só seria viável se fosse um turismo com índios", conta o biólogo e consultor especializado em turismo alternativo Lúcio Antonio Machado. "Agora, vou assumir a gestão do negócio", explica.

Para que o plano dê certo desta vez, eles fizeram contato com os índios da tribo waurá e, depois de longas negociações com a comunidade, decidiram montar uma aldeia e se preparar para receber os hóspedes no refúgio.

Para manterem essa espécie de parceria, os índios passam um período na aldeia e outro no Parque Indígena do Xingu. "O índio tem suas necessidades e não tem condições de esperar pela Funai e pelo governo", acredita Machado. "O turismo não é a saída, mas pode ajudar no processo", explica ele. "O turista pode ajudar os jovens índios a manterem a tradição e a reconhecerem seus valores, mostrarem que são admirados, bem-vistos e apoiados."
Machado acredita que em um ano o projeto já tenha fluxo turístico razoável. O objetivo é atingir um público de bom nível cultural, que goste da Amazônia e do seu povo. "É um projeto muito difícil, não adianta vender para todo mundo", diz, justificando que o valor do pacote, na casa de R$ 4 mil, é uma forma de selecionar os visitantes. "Queremos levar pessoas que admirem os índios."

ACERTOS

Não se pode negar que a área é muito bonita, mas alguns ajustes ainda estão sendo feitos. De manhã, o hóspede pode ser acordado pelo barulho dos macacos que ficam muito próximos das ocas - sim, os quartos são em forma de oca. À noite, todos querem passar alguns momentos admirando a luz do luar, contando as estrelas...

Para ocupar o tempo na pousada serão organizadas oficinas de cestaria com o índio Hamutuá, pai de Yawaritsawa, que guia os hóspedes nos passeios. O bate-papo noturno pode ser ao redor de uma fogueira e há planos para que a sesta ou as leituras matutinas sejam feitas numa área cheia de redes.

Para a aldeia, segundo Machado, é repassado US$ 65 por visitante. "Isso não é o bastante; queremos agregar outras coisas. O maior trabalho é com a preservação." Segundo ele, embora seja uma ação pequena, é importante para o Xingu. E é a primeira vez que os índios começam a atuar fora do parque para mostrar o que têm de melhor. "O trabalho é concentrado na conservação. É o fundamento de todo o projeto", diz ele, que tem certeza de que o empreendimento servirá de modelo. E é o que se espera!

Ele quis conhecer a vida fora da tribo. Virou guia
GUIA NATIVO: Yawaritsawa é o índio que mais tem contato com os hóspedes. Ele mora na sede do refúgio e acompanha os visitantes em todos os passeios. Apesar de seus 24 anos, esse garoto, que passou pela reclusão pubertária (quando escolhido pelo pai para herdar os ensinamentos indígenas), quis conhecer a vida fora da tribo. Ele passou uma temporada em Santa Catarina, fazendo estágio com Lúcio Machado, o atual gestor do refúgio. "Derrubei muito copo em cima de cliente até aprender a segurar uma bandeja", conta.

'Trabalho centrado na conservação' - Explica o consultor Lúcio Machado, responsável por avaliar e desenvolver o plano de ação para o fomento do turismo local
Embora o Xingu Refúgio Amazônico, que fica no município de Feliz Natal, seja a base de quem parte para essa viagem, as melhores lembranças são do contato, mesmo que pouco, que se tem com os índios.

O projeto turístico na região é um sonho que desde 1996 não tinha saído do papel. O dono da propriedade, João Vicentini, que trabalha com lavoura e pecuária, já tentou fomentar o turismo em suas terras por várias vezes, mas nunca obteve sucesso. "Eu tenho muitas atividades, não dou conta", explica.

A saída foi encontrar uma pessoa para avaliar e desenvolver as idéias. "Percebemos que só seria viável se fosse um turismo com índios", conta o biólogo e consultor especializado em turismo alternativo Lúcio Antonio Machado. "Agora, vou assumir a gestão do negócio", explica.

Para que o plano dê certo desta vez, eles fizeram contato com os índios da tribo waurá e, depois de longas negociações com a comunidade, decidiram montar uma aldeia e se preparar para receber os hóspedes no refúgio.

Para manterem essa espécie de parceria, os índios passam um período na aldeia e outro no Parque Indígena do Xingu. "O índio tem suas necessidades e não tem condições de esperar pela Funai e pelo governo", acredita Machado. "O turismo não é a saída, mas pode ajudar no processo", explica ele. "O turista pode ajudar os jovens índios a manterem a tradição e a reconhecerem seus valores, mostrarem que são admirados, bem-vistos e apoiados."

Machado acredita que em um ano o projeto já tenha fluxo turístico razoável. O objetivo é atingir um público de bom nível cultural, que goste da Amazônia e do seu povo. "É um projeto muito difícil, não adianta vender para todo mundo", diz, justificando que o valor do pacote, na casa de R$ 4 mil, é uma forma de selecionar os visitantes. "Queremos levar pessoas que admirem os índios."

Caminhada revela o que há na mata

Signo de sorte e dinheiro, recolha sementes de olho-de-tigre que encontrar pela trilha
As horas parecem que não passam na pousada. Depois de conhecer a aldeia, ficar na piscina - mesmo tendo de "dividir" espaço com os borrachudos -, tomar banho de rio e perder horas durante as refeições só para ficar mais tempo jogando conversa fora, resta entrar na mata para uma caminhada bem tranqüila.

O ideal é fazer um passeio de canoa e voltar por trilha. O trecho já é conhecido por quem visitou a aldeia. Mas curtir aquelas paisagens é imperdível. Durante o percurso, os índios até brincam que vão bater as canoas. "É para dar mais emoção", diz Yawaritsawa, no papel de guia. Mas o percurso é curto e leva cerca de meia hora até o ponto ideal para começar a caminhada.

Se os trilheiros colaborarem fazendo silêncio, aumentam as chances de cruzar com várias espécies de macaco, periquito, porco-do-mato, quati, tatu, aves... "O difícil vai ser encontrar uma onça", diz Yawaritsawa, cuja palavra serve de consolo para quem tem medo.

Para encarar a trilha não é necessário muito preparo físico, mas é importante se proteger dos muitos mosquitos que perturbam os turistas ao longo do trajeto. Calça, blusa de manga comprida, boné, tênis, óculos de sol e protetor solar são essenciais. Tome muito cuidado com as formigas. Uma picada pode fazê-lo perder o passeio.

OLHO-DE-TIGRE

Surge, a cada parada, uma história ou uma curiosidade contada por alguém que nasceu ali. O percurso até que é curto, mas os detalhes são muitos. Plantas que curam, bichos que se tornam atração, formiguinhas carregando seus alimentos, marcas das garras de onças nas árvores, o som dos macacos, pássaros e até uma parada na lagoa fazem parte do roteiro.

Se encontrar no caminho uma semente de olho-de-tigre caída no chão, não hesite em recolhê-la. "Tem de guardar na carteira para dar sorte e trazer dinheiro", explica o guia. "Mas só funciona se ganhar de outra pessoa."
O passeio é válido não só pelas belezas e pelo exercício, mas principalmente pela oportunidade de ouvir as histórias que o simpático e atencioso Yawaritsawa tem para contar.

Expedições tiveram início 61 anos atrás
O etnógrafo alemão Karl Von Steinen liderou a primeira expedição no Alto Xingu, em 1884. Mas a região só começou a ser desbravada em 1944 com a Expedição Roncador-Xingu, organizada pelo governo para abrir e construir campos de pouso naquela área ainda inexplorada. Dois anos depois, os irmãos Leonardo, Cláudio e Orlando Villas-Boas passaram a integrar as expedições e a trabalhar pela causa dos índios.

Em 1961 foi criado o Parque Nacional do Xingu, com 28 mil quilômetros quadrados de área. A reserva foi dividida em três partes: norte (Baixo Xingu), região central (Médio Xingu) e sul (Alto Xingu). A idéia era proteger o meio ambiente e os nativos. Com a criação da Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1967, o local virou Parque Indígena do Xingu.
Orlando Villas-Boas dirigiu o parque por 17 anos. E criou um programa de assistência médica por meio de convênio com a Universidade Federal de São Paulo, que também cede professores que ensinam português.

Na década de 1980 começaram as invasões de pescadores e de caçadores ao território do parque. No fim dos anos 90, as queimadas em fazendas pecuárias ameaçavam atingir o parque e as madeireiras chegavam perto dos limites demarcados.

Atualmente, a população indígena em Mato Grosso é de 25.123 indivíduos. Em todo o Brasil, estima-se que haja 345 mil - contando-se os que vivem nas aldeias. Fora delas, calcula-se que existam de 100 a 190 mil índios. Historiadores estimam que antes da chegada dos portugueses havia entre 1 milhão e 3 milhões de índios e 1.400 tribos.

VISITAS

Para visitar o Parque Indígena do Xingu é preciso pedir autorização com antecedência. O interessado tem de redigir uma carta com os motivos pelos quais quer ter acesso ao parque e apresentar carteira de vacinação. Pode levar meses para se obter a permissão.

Estudiosos opinam sobre o projeto
A favor, citam os recursos obtidos com o turismo; contra, a falta de estrutura
Projetos de convivência entre turistas e índios sempre causaram polêmica. E assim vão continuar. Opiniões contra e a favor dessas iniciativas dão margem a discussões sem fim. Os que discordam, falam da falta de informação sobre o impacto ambiental dessas ações. Quem concorda com a troca de experiências, cita a obtenção de recursos com o turismo como um dos benefícios para os povos indígenas.
"Os índios têm todo direito de transitar fora da terra deles", diz o vice-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Roberto Lustosa. "Um projeto como esse é melhor do que invadir terras indígenas", completa. Segundo Lustosa, o índio quer ter benefícios da sociedade. "Eles têm plena consciência de que devem manter a tradição", diz.

Para alguns estudiosos, como a professora do Departamento de História e de Turismo da PUC-SP Lucília Siqueira, essa pode ser uma maneira de inseri-los na sociedade. "A cultura se transforma. A questão é se eles têm condições de saber para onde se transformar", diz. Embora não conheça o projeto, a respeitada antropóloga e professora da PUC Carmem Junqueira acredita que os índios precisam de recursos financeiros. "Eles têm educação, saúde e ainda assim estão lutando para obter recursos", diz, ressaltando que, para um projeto turístico dar certo, é necessário infra-estrutura. "Pode ser bom, desde que os índios não sejam instrumentalizados", explica.

OUTRO LADO

O foco muda quando um programa desse tipo é avaliado por uma pessoa que trabalhou no projeto de educação do Programa Xingu, dentro das escolas das aldeias indígenas.
"Não foram divulgadas informações sobre os problemas ambientais que interferem na vida dos habitantes do parque, como a poluição das cabeceiras do Xingu, o desmatamento e as invasões dos limites de terra, entre outros", ressalva a doutoranda da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Adriane Costa da Silva. "Trata-se de uma preocupação real ou apenas marketing para vender pacotes turísticos a consumidores ecologicamente motivados?", questiona.

Ela acredita que, na perspectiva dos xinguanos, o turismo é uma forma de comunicação, uma maneira de ganhar visibilidade na mídia e garantir direitos. "Há brasileiros que ainda se espantam quando se dão conta de que existem índios de carne e osso. Neste sentido, divulgar a cultura indígena por meio de um projeto de turismo ecológico é interessante", diz. "Mas, o que está se tornando visível nesse roteiro? Qual o papel desempenhado pelos habitantes da Terra Indígena Xingu na concepção e desenvolvimento deste projeto?", indaga Adriane.

FAÇA AS MALAS

Passagem aérea: o trecho São Paulo-Cuiabá-Sinop-Cuiabá- São Paulo custa a partir de R$ 1.539,08 na TAM (0--11-3123- 1000). O trecho São Paulo- Cuiabá-São Paulo custa a partir de R$ 558,16 na TAM, de
R$ 614,16 na Gol (0300-789- 2121) e de R$ 1.149,10 na Varig (0--11-4003-7000). Já Cuiabá- Sinop-Cuiabá custa a partir de R$ 665,08 na Cruiser (0300-789- 2112), de R$ 681,08 na Trip (0300-789-4747) e de R$ 696,30 na Mega (0--65-694-2222).

PACOTES

O pacote de quatro noites da FreeWay (0--11-5088-0999; www.freeway.tur.br) inclui passagem aérea, traslados, hospedagem com pensão completa, transporte fluvial, taxa de visitação na aldeia Puwixa Poho, passeios e guias. Algumas operadores revendem o pacote da empresa em São Paulo: Chão Nosso (0--11-3862-2202; www.chaonosso.com.br) e Pisa Trekking (0--11-5052-4085; www.pisa.tur.br). Preço: R$ 4.824 por pessoa.

OESP, 24/05/2005, Viagem, p. V1, V8-V11

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