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Tribo ergue ocas em praia de luxo de Niterói

OESP, Metrópole, p. C10
07 de Mai de 2008

Tribo ergue ocas em praia de luxo de Niterói
Comunidade teme que área se torne um 'camelódromo de artesanato'

Clarissa Thomé

Moradores de Camboinhas, um dos endereços mais valorizados de Niterói, estão mobilizados para se livrar dos mais novos vizinhos: 38 índios guaranis que se mudaram para uma área de sambaquis (cemitérios indígenas) à beira da praia. A Sociedade Pró-Preservação Urbanística e Ecológica de Camboinhas (Soprecam) encaminhou ofício ao Ministério Público Federal, questionando a propriedade da terra - alega que os guaranis estão destruindo área de restinga, de preservação ambiental.

A associação de moradores reclama que os índios têm nadado nus e ressalta que são aculturados - não existindo justificativa para que vivessem numa aldeia. "Têm laptop e carro. E estão transformando a praia ali num camelódromo de artesanato, para desespero dos moradores", afirma a advogada da Soprecam, Adriana Alves da Cunha e Souza.

Os índios dizem que se instalaram no local como forma de preservar a área de sambaquis. "Ali tem cinco cemitérios e já havia autorização da prefeitura para a construção de um condomínio. Há cinco anos, fazemos manifestações contra esse empreendimento. Então, sugerimos ao Instituto Estadual de Florestas (IEF) um projeto para proteção ambiental com manejo indígena. Estamos negociando", diz o advogado Arão da Providência Araújo Filho, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ).

"Acho que o discurso da Soprecam é o da intolerância, da discriminação. Somente as crianças nadam nuas. Queremos ter laptop e televisão, que nossas crianças tenham acesso à informação como as crianças brancas, mas sem perder nossa cultura. A cultura originária incomoda? Então será necessário falar claro e partir para o extermínio, porque somos urbanos agora", afirmou Araújo Filho, que é um índio guajaja.

FUGA DE PARATY

Os guaranis chegaram no fim de março e ergueram quatro ocas e uma escola, onde os pequenos aprendem guarani, português e matemática. Deixaram Paraty, no litoral sul fluminense, depois de uma disputa étnica e fugindo de dificuldades financeiras. "Lá em Paraty não tem mais terra, querem que a gente more em cima de pedra, onde não dá para plantar nem criar galinha. Aqui vende mais artesanato. E não tem (lugar) mais bonito", afirma Lídia Nunes, de 52 anos, ou Para Poty conforme o nome indígena, a porta-voz do grupo.

O Ministério Público Federal informou que abriu procedimento para investigar a denúncia da Soprecam. Em nota, a IEF informou que a legislação não permite a presença de moradores em unidades de conservação - os índios estão na área do Parque Estadual da Serra da Tiririca. "Pretende-se um acordo para que haja uma desocupação pacífica e consensual." A Fundação Nacional do Índio informou que não recebeu nenhum pedido para que a região seja reconhecida como terra indígena.

OESP, 07/05/2008, Metrópole, p. C10

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