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Transgênicos

O Globo, Tema em discussão, p. 6
Autor: WEID, Jean Marc Von Der
29 de Ago de 2005

Transgênicos

Questão científica

Somente uma visão dos fatos puramente ideológica pode explicar a persistente oposição aos produtos transgênicos. Porque eles apresentam o pecado original de, em boa parte, terem sido criados em laboratórios de empresas multinacionais como a Monsanto. É o que explica a desconfiança com que continuam a ser encarados.
Mas, se não bastassem os oito anos seguidos em que eles vêm sendo consumidos no mercado americano, sem efeitos deletérios perceptíveis, e os evidentes benefícios ao meio ambiente de lavouras como a da soja RR (que requer menos aplicação de agrotóxicos), em junho a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que os alimentos geneticamente modificados hoje conhecidos são seguros; o que não se aplica, é claro, aos que ainda virão a ser produzidos. Estes não poderão ser dispensados dos testes a que todos são sempre submetidos.
Afirma-se, com toda a razão, que mesmo assim não há comprovação definitiva de que esses produtos não causam danos à saúde (ou mesmo ao meio ambiente). Mas todo avanço tecnológico implica algum risco; cabe aos cientistas conceberem e aplicarem os testes mais extremamente rigorosos, para reduzir esse risco ao mínimo possível. É o que se tem feito com os transgênicos. De resto, comprovação final de inocuidade não têm sequer os alimentos comuns.
Quem está realmente preocupado com questões ambientais melhor faria se exigisse a rápida regulamentação da Lei de Biossegurança, que foi sancionada em março mas até agora não pôde entrar em vigor. Em qualquer hipótese, com ou sem apoio legal, os agricultores continuarão a cultivar lavouras transgênicas como a soja, que são mais lucrativas — e que permitem ao Brasil competir em pé de igualdade com Argentina e outros países que adotaram esses produtos entusiasticamente. Mas é preciso proporcionar aos técnicos da Embrapa segurança para continuar pesquisando e mantendo o país na linha de frente da biotecnologia.

Outra opinião

Crítica e isenção

Jean Marc Von Der Weid

A mídia deu destaque a um documento divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo qual os transgênicos no mercado não acarretam riscos. Mas o documento também afirma: (1) "é necessário uma base de evidências para facilitar avaliações mais coerentes"; (2) "as controvérsias foram alimentadas por avaliações conflitantes e evidências incompletas"; (3) "ênfase deve ser dada a avaliações de risco que considerem efeitos intencionais e não intencionais"; (4) "resultados contraditórios podem refletir diferentes condições regionais ou agrícolas"; (5) "os riscos (...) devem ser avaliados caso a caso, levando em conta características dos organismos e dos alimentos GM (geneticamente modificado) e de diferenças nos ambientes receptores".
Estas recomendações estão longe de dar carta-branca à liberação indiscriminada dos transgênicos, como vem fazendo a CTN-Bio. E o estudo da OMS merece reparos quanto fala de inocuidade. A comissão externa contratada foi composta por técnicos de quatro entidades vinculadas às empresas de biotecnologia, um à OCDE, um da FAO e um que parece ser crítico à liberação dos OGMs (organismos geneticamente modificados). As quatro primeiras liberaram os transgênicos sem exigir outras provas que não as limitadas e incompletas pesquisas das empresas. É bom lembrar que há pouco tempo foi divulgado um estudo secreto da Monsanto apontando sérios problemas com ratos alimentados com milho transgênico.
O estudo da OMS cita 287 documentos consultados, mas sem indicar quais apresentam pesquisas divulgadas em revistas científicas. É questão-chave, pois a OMS não faz pesquisas próprias. O estudo afirma que é difícil avaliar os riscos e que é necessário pesquisar mais. Nossa imprensa deveria estudar de forma crítica o relatório, antes de repetir suas conclusões por se tratar de entidade supostamente isenta.

Jean Marc Von Der Weid é economista.

O Globo, 29/08/2005, Tema em discussão, p. 6

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