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A tradição de contar e entoar histórias

Diário do Pará - http://diariodopara.diarioonline.com.br
01 de Dez de 2011

A tradição de povos ribeirinhos e indígenas em contar e entoar histórias faz parte da cultura desde os nossos antepassados. Essa tradição amazônica será relembrada e resgatada no I Encontro de Contadores de Histórias da Amazônia (Ecoham). O encontro é uma parceria da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves e do Movimento de Contadores de Histórias da Amazônia (Mocoham), acontece nesta quinta (1o) e sexta-feira (2) no prédio do Centur.

A programação será composta por rodas de conversa com pesquisadores regionais e nacionais, roda de histórias, oficinas e relatos de experiência. As inscrições completas (palestras, mesas-redondas, programação cultural e uma oficina) custam R$ 15 para estudantes e R$ 30 para profissionais e as parciais (palestras, mesas-redondas e programação cultural) custam R$ 10 para estudantes e R$ 20 para profissionais. As inscrições podem ser feitas na gerência da Biblioteca Pública Arthur Vianna ou pelo blog dos Contadores de História da Amazônia (http://mocoham.blogspot.com).

O encontro tem como tema "Mergulhar na Memória, Revolver Histórias". A ideia foi construída a partir das reflexões sugeridas pelo escritor indígena Daniel Munduruku. Para ele, "as histórias moram dentro da gente, lá no fundo do coração, elas ficam quietinhas num canto, parecem um pouco com areia no fundo do rio: estão lá, bem tranquilas, e só deixam sua tranquilidade quando alguém as revolve. Aí elas se mostram...".

Confira aqui um bate-papo com o escritor indígena:

P: Foram criados inúmeros estereótipos do índio, que criam uma imagem distorcida dele. Contar histórias com valores indígenas é uma maneira de quebrar esse preconceito cíclico?

R: As pessoas não conhecem as tradições indígenas. Elas realmente têm tido acesso à superfície, aquilo que foi sendo mostrado pelos meios de comunicação e pela educação formal por meio da escola. E tudo parou por aí. Nossa visão genérica desses povos os diminuiu e enfraqueceu sua presença entre os brasileiros. Nós sequer sabemos como chamá-los [por isso usamos um "apelido"]. Contar histórias a partir das tradições indígenas pode ser um instrumento legal para diminuir essa distância, mas ela precisa ser contextualizada porque muitos contadores acabam replicando o estereótipo mesmo sem saber. Ele faz isso quando não contextualiza, quando não explica a quem ouve de quem está falando, onde vive aquela gente, como é o cotidiano dela. Sei que é uma prática difícil, já que quem conta história está focado na narrativa, mas é importantíssimo que estes profissionais-brincantes possam criar formas de educar quem os escuta.

P: A missão de um escritor infanto-juvenil exige uma carga a mais de preocupação com a linguagem ou o conteúdo? Dialogar com a fase que o homem começa a talhar o pensamento, exige um pouco mais de responsabilidade?

R: Eu diria que há um erro de compreensão da sociedade ocidental. Há uma separação que, de fato, não existe quando se busca formar a cabeça do ser humano. A cabeça da criança precisa de desafios. É importante dosar estes desafios com pitadas de conteúdo que as faça refletir. A formação de uma criança critica exige que ela leia conteúdos que a façam interagir com a realidade que vive. Minha experiência é que toda criança consegue transcender mais que o adulto. A criança costuma ir além do real do adulto, ao mundo da fantasia onde existe outra realidade capaz de fazê-la caminhar no mundo. Por isso não é incomum ver crianças "conversando" com seus amigos invisíveis enquanto brincam no quintal ou no igarapé. Nesse momento elas estão interagindo com este outro mundo. O adulto desavisado irá dizer que ela está "louca", confusa e que precisa ser tratada. Quem está louco é o adulto que perdeu a capacidade de transcender. A transcendência não é algo místico, é algo humano. Só a criança sabe ser humana.

P: Ser contador de história é rememorar o passado, ensinar como lidar com o futuro, uma forma de falar expor as falhas da sociedade? Ou não é nada disso?

R: Contar história é encontrar a si mesmo. Quem narra tem que fazer o caminho para dentro de si. Não é possível contar uma história - contar de verdade - se ela não disser algo para seu narrador. O que ela vai dizer, depende de cada pessoa. As histórias tradicionais são reveladoras de um passado que se atualiza em nossa memória. Por isso ela nos compromete com o presente. Um bom contador de histórias não é quem traz o passado para o presente, é quem dá ao presente um significado a partir das histórias que conta. Se isso vai dar liga para questionar a sociedade ou educar alguém, depende de como aquela vai cair no coração de quem a ouve.

INSCREVA-SE

O I Encontro de Contadores de Histórias da Amazônia. Nesta quinta (1o) e sexta-feira (2), na Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, nos espaços de Hall e Auditório Ismael Nery. Contato: 3202 - 4332.

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