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Tolerância zero com novas ocupações

O Globo, O País, p. 14
Autor: FELDMANN, Fábio
17 de Ago de 2010

Tolerância zero com novas ocupações
Candidato do PV ao governo de São Paulo defende rigor contra invasões ambientais e diz que sua campanha será 'pedagógica'

Fábio Feldmann

SÃO PAULO. Com 1% nas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PV ao governo de São Paulo, Fábio Feldmann, 55 anos, diz que sua campanha tem "caráter pedagógico". Diz acreditar que pode forçar os adversários a discutir a sua principal bandeira, a sustentabilidade, em um fenômeno semelhante ao que ocorre com a sua colega de partido, Marina Silva, na disputa presidencial.
Deputado federal por três vezes, Feldmann ganhou destaque durante a passagem pela Secretaria estadual do Meio Ambiente no governo de Mario Covas. Na época, implantou um polêmico rodízio de veículos, que valia em toda a região metropolitana de São Paulo e impedia a circulação de carros com dois finais de placa ao longo do dia. Se eleito, defende rigor total quanto a invasões de áreas de proteção ambiental.
- Minha política é clara com relação a novas ocupações: tolerância zero.
Confira os principais trechos da sabatina realizada pelo GLOBO ontem:

O Globo: O senhor acha que os problemas mais graves de São Paulo estão relacionados ao meio ambiente?

Fábio Feldmann: Eu acho que não, mas queria chamar a atenção para o programa de governo, que tem três eixos básicos: baixa intensidade de carbono, economia criativa e economia da biodiversidade e ecossistemas. A grande crítica a mim e a Marina é que somos monotemáticos, mas isso é coisa de quem não sabe do que estamos trabalhando.

O Globo: Como o senhor recebe críticas de que a sua campanha em São Paulo e a de Marina Silva à Presidência só se preocupam com a sustentabilidade?

Feldmann: O desafio é mudar o selo verde e ir além, mas não dá para abrir mão dessa questão. E são campanhas diferentes. A Marina está em outro patamar de campanha. Eu saí candidato muito mais tarde e estou estruturando a candidatura agora.

O Globo: É realmente mais válido o PV ter uma candidatura própria ou seria mais efetivo embutir esse ideário numa aliança com um candidato mais forte?

Feldmann: A razão pela qual eu saí do PSDB e fui para o PV é porque temos um desafio de colocar nossos temas na agenda central do país. Não dá para ficar discutindo na periferia. E uma candidatura permite chamar atenção e provocar os outros candidatos. E a campanha da Marina nesse sentido é muito bem-sucedida. Nenhum candidato presidencial teria falado de mudança de clima não fosse a presença de Marina em Copenhague. Fui para o PV não por questão eleitoral, mas política.

O Globo: Como foi sua saída do PSDB, deu-se pelo mesmo motivo que Marina deixou o PT, por não ter encontrado espaço para discutir temas de sustentabilidade?

Feldmann: Mantenho relação boa com os tucanos no campo pessoal, é sabido e notório. Mas, do ponto de vista político, nem PT nem PSDB têm capacidade de compreender nossos temas.

O Globo: Essa sua proximidade com os tucanos pode fazer com que o senhor apoie Geraldo Alckmin num eventual segundo turno?

Feldmann: Eu espero que eles me apoiem, mas acho cedo discutir isso. A lógica desta eleição, basicamente em São Paulo, é que vamos bater no candidato melhor nas pesquisas, mas minha estratégia é colocar os temas que são importantes para o estado.

O Globo: O senhor é a favor de um rodízio de veículo em todo o estado?

Feldmann: Eu estou propondo uma política de transporte sustentável, que eventualmente necessita de rodízio por questão de saúde publica.

O Globo: O senhor considera factível essa promessa de construção do trem-bala entre o Rio e São Paulo?

Feldmann: Eu sou a favor do transporte ferroviário, mas eu acho uma loucura um país que tem muito pouco transporte público na cidade investir o que lhe permitiria construir 300 quilômetros de metrô. Acho essa discussão eleitoral. Se for financiado por iniciativa privada, tem meu apoio. Com dinheiro público, não serei favorável.

O Globo: Como o senhor avalia a ocupação irregular do espaço urbano, principalmente em áreas de mananciais?

Feldmann: Como secretário de Meio Ambiente, a primeira medida que tomei foi cortar luz e água nessas áreas. Normalmente as áreas ocupadas são as mais vulneráveis. Ocupou, imediatamente retira. Com polícia. E em hipótese nenhuma instala infraestrutura. (...) Minha política é clara com relação a novas ocupações: tolerância zero. Realmente o Estado não exerce o poder de polícia. Antes era difícil. O caso das invasões de terras em mananciais é diferente da questão rural, de ser uma área produtiva ou não produtiva. A ocupação ali compromete o abastecimento de água nosso ou de futuras gerações.

O Globo: O ensino público de São Paulo é alvo de críticas, os professores fazem greve, a progressão continuada é criticada. O que pode ser feito para melhorar a situação?

Feldmann: A educação garante igualdade de oportunidades mais adiante. Temos que investir muito e estimular as escolas, e motivar professores e alunos. A educação que a gente pratica tem a cabeça do século XX. No novo mundo digital, temos que repensar a educação. O menino de periferia sem acesso ao mundo digital não tem condições de competir no mercado (...) Não sou contra a progressão continuada desde que exista de fato o apoio a esse aluno.

O Globo: A valorização do professor em São Paulo está virando assunto nacional, como melhorar essa situação?

Feldmann: Os professores precisam ser motivados e bem pagos. E tem que se estimular os que estejam mais capacitados. Temos de fazer um grande investimento na sociedade para mostrar a importância dos professores. Isso passa pelo salário, mas não apenas. E por um sistema de meritocracia, óbvio.

O Globo: É possível se sentir seguro com uma polícia que ganha tão mal quanto em São Paulo?

Feldmann: Policial mal pago significa corrupção. Então é óbvio que precisa se trabalhar muito na valorização do policial. Defendo que se entenda a economia da criminalidade e a tolerância zero com o crime organizado. Como? Com inteligência na polícia.

O Globo: O PV é muito heterogêneo. Ele realmente foi refundado?

Feldmann: A vinda da Marina me estimulou a me candidatar. Estou fora da vida política e de cargos há 12 anos. Há necessidade do partido de dar um salto. Ele é maior na sociedade do que ele é efetivamente. A partir de 1ode janeiro do ano que vem, líderes do partido como a Marina, Gabeira e eu seremos responsáveis pela ação do partido nos parlamentos. Vamos ser mais cobrados.

Participaram da sabatina: Anderson Hartmann, Flávio Freire, Germano Oliveira, Leila Suwwan, Marcelle Ribeiro e Sérgio Roxo

O Globo, 17/08/2010, O País, p. 14

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