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Testemunhas ligam ministro a fraude

FSP, Poder 1, p. A10
29 de Nov de 2014

Testemunhas ligam ministro a fraude
Neri Geller, da Agricultura, foi citado em depoimentos de investigação sobre venda ilegal de terras da reforma agrária
Irmãos de ministro estão presos em Cuiabá; peemedebista não foi notificado e, por isso, disse que não falaria

GABRIEL MASCARENHAS DE BRASÍLIA (HELSON FRANÇA) COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CUIABÁ (MT)

Depoimentos colhidos pela Polícia Federal e pela Procuradoria de Mato Grosso envolvem o ministro da Agricultura, Neri Geller (PMDB), no suposto esquema de venda ilegal de terras destinadas à reforma agrária no Estado.
Como Geller possui foro privilegiado, os autos foram enviados ao STF (Supremo Tribunal Federal). A corte ficará responsável por eventual apuração sobre ele.
A Operação Terra Prometida, deflagrada na quinta (27), prendeu 40 pessoas. Dois irmãos do ministro, Odair e Milton Geller, se apresentaram nesta sexta (28) e estão detidos em Cuiabá.
Segundo a Polícia Federal, os prejuízos causados aos cofres públicos pelo esquema podem atingir R$ 1 bilhão.
Os depoimentos que citam o ministro constam de decisão assinada pelo juiz federal Fábio Henrique Rodrigues de Moraes Fiorenza, à qual a Folha teve acesso.
Nela, o juiz diz que "o chamado Grupo Geller' seria comandado" pelo peemedebista. Segundo a apuração, o grupo da família possui mais de 15 lotes fraudados.
Num dos depoimentos, uma funcionária de Odair afirmou que Neri Geller, "na condição de ministro da Agricultura, tem se empenhado em pressionar o superintendente do Incra através do presidente do Incra".
Em outro trecho, um dos depoentes contou que o "grupo de bandidos", além de tomar os lotes, ficava com 70% do o crédito que o governo mandava para os assentados.
Uma testemunha que não se identificou disse que a "organização criminosa tem braços políticos [...] que fizeram doações para campanhas", entre elas a de Neri Geller, eleito deputado em 2010.
Horas após a PF iniciar as diligências, o ministro disse, em nota, que não estava envolvido na operação. Afirmou ainda não acreditar na participação de seus parentes.
Nesta sexta, a PF também enviou nota à imprensa destacando que ele não foi investigado no processo que resultou na prisão de seus irmãos.
A citação ao nome de Geller e o envio do material ao STF, no entanto, pode precipitar sua saída do cargo. A substituição dele já era tratada como questão de tempo.
Antes da prisão de seus irmãos, o ministro vinha tentando costurar sua permanência. Na semana passada, procurou o alto escalão do PMDB, incluindo o vice-presidente Michel Temer.
A Folha não conseguiu falar com Geller. Sua assessoria informou apenas que ele não foi notificado e, por isso, não iria se pronunciar sobre as citações a seu nome.
O Incra não respondeu aos contatos da reportagem. Edy Piccini, advogado dos irmãos, afirma que ambos são inocentes e se entregaram após orientação do ministro.

Quadrilha usava laranjas, aponta Polícia Federal

(HELSON FRANÇA) COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CUIABÁ

As investigações da Polícia Federal apontam que a quadrilha alvo da Operação Terra Prometida atuava para conseguir, de forma fraudulenta, títulos de cerca de mil terras destinadas à reforma agrária.

A polícia afirmou que fazendeiros e empresários pressionavam e ameaçavam os assentados a vender os lotes por preços muito abaixo do mercado. Em muitos casos, os ocupantes eram retirados das terras à força.

Depois da desocupação, os documentos eram falsificados e "regularizados" com ajuda de funcionários do Incra de Mato Grosso. A quadrilha também usava laranjas, que se tornavam beneficiários dessas terras.

Segundo a Polícia Federal, em um dos 15 lotes que indiretamente pertenciam aos irmãos do ministro Neri Geller (Agricultura), Odair e Milton Geller, o laranja identificado como proprietário nunca havia morado no local.

De acordo com cálculos da investigação, cada um dos lotes envolvidos no esquema é avaliado em cerca de R$ 100 mil.

A operação foi realizada em municípios de quatro Estados: Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A PF expediu 227 mandados: 52 de prisão preventiva, 146 de busca e apreensão e 29 medidas proibitivas. Até a conclusão desta edição, 40 mandados de prisão haviam sido executados.

Fraudes na Reforma Agrária

> O esquema
Segundo a Polícia Federal, um grupo de fazendeiros e empresários negociava, mediante ameaças físicas contra assentados, a compra de áreas destinadas à reforma agrária no Mato Grosso por um valor menor que o de mercado

> As suspeitas
A PF estima que a quadrilha tenha conseguido se apossar ilegalmente de cerca de mil lotes da União destinados à reforma agrária. O grupo era auxiliado por servidores do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)

> Os envolvidos
Odair e Milton Geller, irmãos do ministro da Agricultura Neri Geller (PMDB), foram presos na quinta (27). Segundo a PF, eles ocuparam 15 lotes de um assentamento no município de Itanhangá (MT)

R$ 1 bilhão
É o prejuízo estimado decorrente das transações ilegais

227
mandados judiciais foram expedidos, sendo 52 deles de prisão preventiva

FSP, 01/12/2014, Poder 1, p. A10

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/197834-testemunhas-ligam-ministr…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/197832-quadrilha-usava-laranjas-…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/197833-fraudes-na-reforma-agrari…

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