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Tensão e morte no campo

CB, Brasil, p.14
17 de Fev de 2004

Tensão e morte no campo
Em Abelardo Luz, Santa Catarina, um fazendeiro morreu em confronto com índios que reivindicam 2 mil hectares de terras. No Mato Grosso do Sul, um guarani-caiová levou um tiro. Famílias querem vingança

O clima de conflito entre índios e fazendeiros aumentou nas últimas 48 horas. Em Abelardo Luz, cidade a oeste de Santa Catarina, um fazendeiro foi morto e seis pessoas ficaram reféns de cerca de 200 índios caingangues, na madrugada de ontem. Eles reivindicam a desapropriação de 2 mil hectares para 41 famílias. Os caingangues fecharam a estrada que passa pelas terras, na localidade de Toldo Embu, na noite de domingo.

Na madrugada, Olices Stefani, 53 anos, presidente do Sindicato dos Empregadores Rurais de Abelardo Luz, foi ao local para saber o que estava acontecendo. Foi morto com um tiro na cabeça. Seis ruralistas, que também passaram pelo local, foram feitos reféns, dois deles liberados ainda na manhã de ontem.

Valdir Colatto, secretário de Articulação Nacional de Santa Catarina, enviou um ofício ao presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Mércio Pereira Gomes, pedindo a intervenção pessoal dele para a libertação dos reféns dos índios caingangues em Abelardo Luz. ''A situação é insustentável e o confronto poderá tomar dimensões incontroláveis'', alertou. O protesto terminou às 19h15, quando os outros quatro reféns ficaram livres.

O cacique Albari Santos disse que os índios se defenderam. ''Ele (Stefani) chegou e deu dois tiros.'' O autor do disparo que matou o ruralista ainda não foi identificado. Sobre os reféns, Albari explicou que essa foi a única forma encontrada para pressionar por uma solução.

Cobrança
Segundo o cacique, as 41 famílias de índios moram há cinco anos em nove hectares de terra da localidade, mas querem a demarcação dos 2 mil hectares que eram de seus antepassados e foram vendidos a colonos. Como a questão está há um ano no Ministério da Justiça, os índios decidiram protestar.

No Mato Grosso do Sul, os índios guarani-caiovás, que ocupam três fazendas na região, estão pintados para a guerra e querem vingança contra os fazendeiros. No final da tarde do último domingo, durante confronto, o índio Décio Lemes foi atingido por um tiro e está internado no Hospital Evangélico de Dourados. A bala se alojou no pulmão de Leme. O disparo teria sido feito por um funcionário da fazenda São Jorge.

''A situação é grave e pode haver mortes'', advertiu o secretário estadual de Segurança Pública, Dagoberto Nogueira Filho. Ontem pela manhã, grupos indígenas patrulhavam a estrada de terra que liga Japorã a Iguatemi. A confusão ocorreu nessa rodovia. Os índios apreenderam um ônibus, ferindo a passageira Mariana dos Santos, 58 anos.

Com pedras e cassetetes, os índios quebraram o pára-brisas de uma caminhonete. Na confusão, foram disparados cinco ou seis disparos, um deles acertou Leme. O delegado encarregado das investigações, Claudinei Galinari, está ouvindo índios, empregados da fazenda e fazendeiros.

A fazenda São Jorge foi a primeira a ser invadida pelos caiovás, em 22 de dezembro. Depois, outras 13 propriedades rurais foram ocupadas entre Japorã e Iguatemi. Após negociação e ações na Justiça, os invasores deixaram onze fazendas. Eles permanecem em três áreas até que as terras que reivindicam sejam legalizadas pelo governo federal.

Segundo o fazendeiro Walfrido Medeiros Chaves, a confusão começou quando os funcionários da São Jorge foram buscar cavalos que os índios haviam levado para a aldeia Porto Lindo, mas teriam sido atacados perto da aldeia. De acordo com Chaves, seus funcionários foram cercados e, na tentativa de intimidá-los, os índios dispararam tiros. O índio Gumercindo Fernandes contesta a versão. Ele afirma que os tiros teriam partido dos funcionários.

"A situação é insustentável e o confronto poderá tomar dimensões incontroláveis"
Valdir Colatto, secretário de Articulação Nacional de Santa Catarina

"A situação é grave e pode haver mortes"
Dagoberto Nogueira Filho, secretário estadual de Segurança Pública do Mato Grosso do Sul

CB, 17/02/2004, Brasil, p.14

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