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Sustentabilidade nem sempre é compatível com competitividade

OESP, Economia, p. B2
Autor: PLÖGER, Ingo
22 de Out de 2006

Sustentabilidade nem sempre é compatível com competitividade

Direto da fonte
Sonia Racy sonia.racy@grupoestado.com.br

Há muita controvérsia pelos países em desenvolvimento sobre os custos de projetos de sustentabilidade, se dão resultado efetivo em países de Terceiro Mundo. Para falar sobre o tema, a coluna ouviu Ingo Plöger, presidente da IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional, que organiza o 1o Fórum de Líderes em Sustentabilidade no Brasil, esta semana, no Transamérica Expo Center. O evento, que tem apoio do Estadão, pretende colocar um pouco de "cloro" no tema.

Aqui vão trechos da sua entrevista:

Empresas com políticas sustentáveis têm mais sucesso do que outras. Como se pode medir isso?

Uma forma de medição é a dos indicadores. Para empresas cotadas em Bolsa, já existem indicadores de sustentabilidade. Na Bovespa, desde o ano passado, já temos 28 empresas avaliadas pelo Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Um dos objetivos deste fórum que estamos organizando é justamente dar transparência a indicadores de sustentabilidade tanto de empresas como de instituições e governos.

O Protocolo de Kyoto está em plena vigência. Que projetos nesse sentido têm obtido sucesso até agora? Como anda a negociação desses créditos?

Antes da ratificação do protocolo, foi estabelecido um mercado de projetos Non Kyoto Compliance, que hoje movimenta muito mais vendas de créditos de carbono do que os projetos Kyoto Compliance. No Brasil, que tem um potencial estimado de créditos de carbono entre US$ 1 bilhão e US$ 3 bilhões por ano, já se deu um passo à frente: a BM&F tem em funcionamento um banco de projetos, que certamente dará visibilidade aos projetos e seus respectivos preços negociados, fornecendo um bom parâmetro para o mercado. É o primeiro país a oferecer essa opção.

Como identificar as áreas para investimentos com Responsabilidade Social hoje?

Nas áreas ambientais, os investimentos devem se dar com forte visão global e não apenas local. A mudança climática é uma delas, assim como a recuperação da fauna e da flora e as reduções das queimadas florestais, que requerem uma atenção muito mais abrangente do que as debatidas hoje em dia. Nas áreas sociais, os investimentos devem levar em consideração o apoio ao mais frágil, o combate à fome e à miséria. Uma nova esfera de atenção é a Educação. Sem uma Educação de qualidade não se pode imaginar uma sociedade evoluindo com sustentabilidade. No Brasil, os indicadores são assustadores, e estão sendo atacados por iniciativas como o Compromisso Todos pela Educação. A expectativa é que suas metas sejam alcançadas em 2022, no 200o aniversário da Independência: seria a verdadeira independência individual e coletiva da miséria no País.

Políticas de sustentabilidade são compatíveis com a competitividade entre países?

Nem sempre. Em se tratando de países não democráticos ou de baixo compromisso com os princípios da Agenda 21, existe um descompasso. No Brasil, cujo compromisso é alto, o custo e o tempo de maturação de projetos em relação, por exemplo, à China, são maiores, o que o torna menos competitivo no curto prazo.

Como adequar os Princípios do Equador, lançados pelo Banco Mundial em 2003, aos financiamentos de projetos, visando à sustentabilidade?

Algumas instituições financeiras no Brasil já utilizam esses princípios na avaliação de projetos. Aquelas empresas que não se adequarem terão de refazer seus planos de negócios ou correr o risco de não conseguirem a aprovação de seu financiamento.

Combate à fome, atendimento à saúde e geração de empregos, metas da sustentabilidade, são iniciativas sociais e compromissos individuais cruciais para as empresas que buscam as melhores práticas. Quais são as tendências nesse sentido, no Brasil e no mundo? Ainda nos encontramos no início desse processo. Algumas empresas internacionais já entendem que seu objetivo é orientar-se cada vez mais para o público de menor renda para possibilitar o crescimento. O comércio justo (fair trade) beneficia a pequena empresa junto a seu grande cliente, mas estamos ainda muito longe dessa prática. Um setor no qual se observam boas práticas também no Brasil é o dos produtos orgânicos, em franco crescimento.

Uma das questões mais relevantes da sustentabilidade hoje é a da matriz energética. O futuro entre as energias alternativas está mais voltado ao etanol ou ao biodiesel?

O ciclo do etanol está relacionado a uma concepção de motores a gasolina ou híbridos (elétricos e gasolina). Essa variante é fortemente encontrada no Brasil, EUA e Japão. Só aqui são produzidos mais de 1,5 milhão de veículos flex por ano. Já na Europa, 50% dos veículos de passeio são movidos a diesel e, portanto, a tendência de se utilizar biodiesel por lá será mais forte. Nos caminhões, ônibus e barcos, o uso de diesel é universal, e, portanto, o biodiesel terá preferência. Considero que a concepção do flex fuel, no qual o usuário é quem opta pelo combustível, é a melhor das variantes, porque introduz a real oferta e procura pelo melhor combustível, portanto, o preço justo aliado à consciência ambiental do usuário. A produção de etanol é da ordem de 30 bilhões a 40 bilhões de litros/ano, enquanto a do biodiesel é de 2 bilhões a 3 bilhões/ano. A grande discussão é qual será o conceito vencedor nos próximos anos, nos EUA e na Europa.

A tecnologia da informação melhorou a velocidade e aumentou a produtividade nas empresas, bem como os controles internos e externos. A administração tem cada vez mais opções para implementar inovações. São necessárias novas habilidades?

Sim, com certeza. A sustentabilidade começa na prancheta do engenheiro e acaba no processo do desuso do produto. A cadeia do ciclo de vida é fundamental. Além disso, as avaliações dos impactos sociais e ambientais dos produtos e processos são significativas. Podemos imaginar que produtos podem causar grandes danos, muito tempo depois de serem usados, consumidos, e que podem representar enormes perdas para as empresas, colaboradores ou consumidores.

OESP, 22/10/2006, Economia, p. B2

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