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Sting se reencontra com Raoni após 20 anos em ato contra Belo Monte

O Globo, Economia, p. 14
23 de Nov de 2009

Sting se reencontra com Raoni após 20 anos em ato contra Belo Monte
Músico britânico pede para Lula ouvir indígenas, que recorrerão à OEA

Ronaldo D'Ercole

SÃO PAULO. Vinte anos depois de visitar o Xingu pela primeira vez, o músico e ativista britânico Sting se reencontrou ontem com o cacique Raoni, líder dos caiapós, e cobrou do governo brasileiro que ouça os povos indígenas da região antes de levar adiante o projeto de construção da usina de Belo Monte. Falando em nome das 24 etnias que habitam as áreas banhadas pelo Xingu, entre o norte de Mato Grosso e sul do Pará, Raoni acusou o governo de não ter consultado os índios sobre a usina e também de não responder ao pedido de diálogo.

Para assegurar o direito de serem ouvidos em questões como a construção da polêmica barragem, os índios irão recorrer à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA). A ação pode resultar numa recomendação da OEA para que o governo recue, algo indesejável para o papel de líder que o Brasil deseja exercer na reunião de Copenhague sobre o clima, em dezembro.

- Tenho certeza de que as razões econômicas para a construção da barragem fazem sentido. Por outro lado, há razões ambientais que indicam que a barragem não é uma boa idéia - disse Sting. - Sou estrangeiro e o importante para mim é que todos os brasileiros sejam ouvidos, e o povo de Raoni tem que fazer parte desse processo, pois estão na linha de frente.

'A barragem pode atingir a terra do meu povo', diz Raoni

Dois grandes encontros de líderes indígenas da região foram realizados desde o fim de outubro, e as deliberações servirão de base para que o Instituto Socioambiental (ISA), organização não governamental que desenvolve projetos no Parque Indígena do Xingu, elabore o pedido de medida cautelar à OEA.

- Vinte anos atrás conheci Sting e pedi ajuda. E ele me ajudou a demarcar nossas terras. Agora, naquela terra meu povo está crescendo, aumentado. E a barragem de Belo Monte me preocupa porque pode atingir a terra do meu povo - disse Raoni. - Estou preocupado com o futuro dos meus netos, bisnetos. O rio Xingu tem que ficar do jeito que está.

Após sua visita ao Xingu, em 1989, Sting criou a Rainforest Foundation, que passou a atuar em defesa da demarcação de terras indígenas em várias partes do mundo, inclusive da Amazônia. Na época, ele participou do "I Encontro dos povos indígenas do Xingu", realizado em Altamira (PA), que teve como tema central o já controvertido projeto de Belo Monte, que na época contemplava um complexo de sete usinas ao longo do rio Xingu. Na ocasião, uma índia ameaçou o então diretor da Eletronorte José Antônio Muniz com um facão. No ano passado, o engenheiro da Eletrobrás Paulo Fernando Rezende, responsável pelos estudos de Belo Monte, foi atacado por índios caiapós em uma reunião em Altamira.

Hoje, mesmo restrito a uma grande barragem, na "Volta Grande do rio Xingu", o projeto de Belo Monte é atualmente o maior empreendimento hidrelétrico em elaboração no mundo e prevê a produção de 11 mil MGW e investimentos de R$ 17,3 bilhões. O projeto é alvo de diversos questionamentos, que vão do valor da obra e o real impacto ambiental que produzirá até a sua real capacidade de geração.

O Globo, 23/11/2009, Economia, p. 14

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