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Sertanistas se reúnem em SP por memória do indigenismo

Estadão - http://www.estadao.com.br/
Autor: Roberto Almeida
27 de Out de 2010

Em comemoração ao centenário do indigenismo no Brasil, seis sertanistas com extensa atuação em terras indígenas remotas se reúnem pela primeira vez nesta quinta-feira, 28, no Teatro Anchieta do SESC Consolação, no centro de São Paulo.

Eles deixarão registradas, durante o seminário "Memórias Sertanistas", histórias de expedições no Brasil profundo para proteção de grupos indígenas e relatarão como realizam a difícil tarefa, balizada pelo ideal de autonomia dos povos de Marechal Cândido Rondon e da proteção do Parque do Xingu pelos irmãos Villas Boas.

Participam das mesas de debates, a partir das 14h, os sertanistas Afonso Alves da Silva, Porfírio de Carvalho, Odenir Pinto, José Carlos Meirelles, Altair Algayer e Marcelo dos Santos, todos com experiência na proteção de terras indígenas e povos isolados do Pará, Amazonas, Acre e Mato Grosso.

As entrevistas serão realizadas pelo jornalista Felipe Milanez, idealizador do evento, pelo ex-presidente da Funai Mércio Gomes, por jornalistas e antropólogos. O seminário é gratuito.

Todos os sertanistas, vindos do Norte e Nordeste do País, confirmaram presença. A única baixa foi a de Rieli Franciscato, que cancelou participação para chefiar uma fiscalização na Terra Indígena Uru Eu Wau Wau, em Rondônia, que está sob alerta de invasão de garimpeiros.

Abertura. Coincidentemente, o seminário foi aberto nesta terça-feira, 27, com a exibição de dois filmes do cineasta inglês Adrian Cowell sobre os primeiros contatos com o povo Uru Eu Wau Wau, durante as décadas de 1980 e 1990, na área que hoje é fiscalizada por Franciscato.

Em seguida, especialistas participariam de uma mesa de debate com o chefe da Coordenação-Geral de Índios Isolados (CGII) da Funai, Elias Bigio, e a proteção aos grupos isolados no País. O evento, para ele, ajuda a trazer a realidade do trabalho de campo dos sertanistas à cidade.

"É uma grande oportunidade de diálogo, uma vez que esses sertanistas trabalham dentro das florestas e têm pouca chance de conversar com pessoas que vivem em São Paulo", disse Bigio ao Estado. "Parte das terras (dos índios isolados) estão asseguradas e demarcadas. Temos agora o objetivo de garantir a sobrevivência deles nesse território", continuou.

Centenário. O seminário celebra a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), primeiro órgão federal em defesa do indígena brasileiro, criado há 100 anos. A principal incumbência do SPI era garantir a sobrevivência do índio e ao mesmo tempo implementar uma estratégia de ocupação do País.

Seu primeiro diretor foi o então Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon. A filosofia positivista era a base de sua política integracionista: esperava-se que o índio, então considerado inferior, evoluísse aos poucos até poder ser integrado à sociedade.

Em 1967, durante o regime militar, o SPI foi extinto e deu lugar à Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão que até hoje exerce a proteção aos povos indígenas no País. A política integracionista se manteve em partes até o período da redemocratização, na década de 1980, em que passou a se discutir com mais profundidade o papel do índio na sociedade brasileira.

A diversidade cultural dos índios acabou sendo reconhecida somente a partir da Constituição de 1988. Os debates sobre o trabalho dos sertanistas, durante o seminário, pretendem registrar esse processo com histórias reais e trazer luz sobre a proteção dos índios durante o século 21.

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