O Globo, Cartas dos Leitores, p. 6
Autor: CASTRO, Ernesto Viveiros de
29 de Mar de 2005
Serra dos Órgãos
A indignação causada pela notícia da extinção local de mamíferos na Serra dos Órgãos errou de endereço. Pôr a culpa no Ibama é fácil, entender que a caça e a degradação ambiental são resultado do pouco interesse da sociedade em relação ao tema é mais complexo. Os 11 mil hectares do Parque Nacional não são suficientes para manter uma população de onças e populações isoladas nos parques e reservas podem se extinguir pela simples falta de espaço. A caça é um problema cultural sério e crime ambiental, praticado na Serra dos Órgãos antes mesmo da criação do parque e hoje mais uma forma cruel de lazer do que subsistência. Já a falta de fiscais é resultado do desmonte do estado promovido por governos passados. O Parque Nacional conta com apenas quatro fiscais para monitorar todo o parque e o último fiscal foi admitido há quase 20 anos. Apesar dessas dificuldades, um caçador acaba de ser condenado a 2,5 anos de prisão e apreensões de material da caça e palmito são freqüentes. Com parques isolados em meio a áreas degradadas e sem conscientização da população, não é uma meia dúzia de fiscais heróicos que vai salvar estas espécies da extinção.
Ernesto Viveiros de Castro chefe do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (por e-mail, 21/3), Rio
O Globo, 29/03/2005, Cartas dos Leitores, p. 6
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