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A semana em que a poluição assustou SP

OESP, Metrópole, p. C4
29 de Ago de 2010

A semana em que a poluição assustou SP
Após a maior sequência de dias secos da década, cidade começa a estudar adoção de medidas para reduzir a emissão de poluentes

As salas de espera dos postos de saúde talvez sejam os melhores lugares para compreender os efeitos do ar seco na capital. Em Unidades Básicas de Saúde (UBS) da Região Metropolitana de São Paulo o número de atendimentos chegou a triplicar nesta semana em relação ao mês passado. É a ponta mais visível da pior sequência de dias secos da década: há nove dias, os moradores são obrigados a conviver com umidade do ar inferior a 30%, chegando aos áridos 12% anteontem - limite do chamado estado de emergência. A poluição por ozônio também bateu recorde.
Nas ruas da capital não teve quem não percebesse os efeitos colaterais tão diversos do tempo seco. Era difícil encontrar alguém que não reclamasse de boca e pele secas, garganta arranhando e irritação no nariz e nos olhos, entre outros incômodos. Na quarta-feira, a Secretaria Municipal de Educação foi o primeiro órgão público a se manifestar: recomendou que as aulas de educação físicas nas escolas ficassem mais leves. Na quinta, foi a vez de a Cetesb pedir para que motoristas deixassem o carro em casa. E, na sexta, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) também cogitou adotar restrições a veículos na cidade, caso a situação do ar piorasse. Mas não deu mais detalhes.
A Secretaria Municipal de Transportes já estuda até a possibilidade de ampliação do rodízio. Não seria a primeira vez que o governo é obrigado a implementar uma política para diminuir a poluição - de 1996 a 1998, os moradores da Região Metropolitana foram proibidos pelo governo estadual de usar o carro um dia por semana durante o inverno. Para especialistas, outras proibições se farão necessárias se a umidade continuar baixa e o nível de poluentes no ar aumentar ainda mais.
Algumas alternativas para evitar que a poluição torne o ar "irrespirável" já foram utilizadas em outros países que sofrem com longos períodos de estiagem. Como China, México e Chile.
Mas a Prefeitura de São Paulo ainda estuda como seriam essas novas regras. Pela portaria publicada em 2008, se a umidade chegar a 11%, a Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa) vai propor ao prefeito ações como a interrupção de atividades ao ar livre, cancelamento de aulas e suspensão de atividades em locais com aglomeração de pessoas, como shows e jogos de futebol.
"Nessas horas emergenciais, as únicas medidas que podem ser adotadas são cancelar aulas, principalmente de educação física, tirar carros da rua e aumentar as restrições do rodízio, para aliviar um pouco os níveis de poluição", diz o médico Nelson da Cruz Gouveia, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP. "Em outros lugares, onde a poluição é causada por indústrias ou pelas queimadas da cana de açúcar, as proibições deveriam ser outras. Mas em São Paulo, onde 90% da poluição é veicular, aumentar o rodízio é a única medida emergencial possível para lidar com esses dias de baixa umidade e pouca dispersão dos poluentes."
Política pública. Gouveia, no entanto, afirma que o rodízio tem eficiência limitada. "É uma política paliativa. Se fizerem uma lei falando que o rodízio no inverno será sempre ampliado, as pessoas vão simplesmente comprar mais carros. É preciso ter um plano emergencial, mas também é necessária uma política pública eficiente de diminuição da emissão de poluentes."

LÁ TEM...

Cidade do México
Quando a poluição atinge níveis considerados críticos, o rodízio de veículos é ampliado na cidade - assim, um final de placa não pode trafegar em dois ou até três dias da semana. Essa determinação pode durar semanas.
Pequim (China)
Durante a Olimpíada, 1 milhão dos 3,3 milhões de carros da cidade foram retirados de circulação e fábricas foram fechadas. Veículos também foram proibidos de circular por áreas onde ocorriam provas de atletismo.
Xangai (China)
Além de ampliar o rodízio em dias críticos e distribuir máscaras para moradores, o governo controla o número de veículos mediante um sistema que mantém altos os preços do emplacamento.
Santiago (Chile)
Além de ampliar o rodízio, como é feito na Cidade do México, a capital chilena proíbe o funcionamento de fábricas. No inverno, em dias muito secos e poluídos, quase mil fábricas fecham suas portas.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100829/not_imp601941,0.php

Nível de raios ultravioleta já é maior do que no inverno passado
Além dos índices de ozônio e da baixa umidade, especialistas alertam para os riscos da radiação solar

Paulo Saldaña

A persistência de uma forte massa de ar seco e quente sobre São Paulo tem aumentado a intensidade da radiação ultravioleta (UV). Durante todo o mês de agosto, a radiação esteve pelo menos um ponto acima do registrado no mesmo período do ano passado. Nestes últimos dias, o índice UV tem ficado em torno de 8, considerado muito alto, numa escala de 1 a 14.
Em dias ensolarados e de céu limpo, raios UV chegam com força à superfície e aumentam riscos de doenças de pele e câncer. Agosto já começou com radiação em torno de 6, valor classificado como alto, segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec). Entre 1 e 2, ele é baixo; de 3 a 5, moderado; entre 6 e 7, alto; de 8 a 10, muito alto. Acima de 11 é considerado extremo.
Com índice 8, como anteontem, uma pessoa de pele branca pode sofrer prejuízos com uma exposição ao sol maior que 7,5 minutos, segundo o Cptec.
O pesquisador do Cptec Plínio Carlos Alvala explica que praticamente toda a radiação solar possível nesta estação tem atingido São Paulo. "Com o céu aberto, a obstrução da radiação tem sido pequena", alerta. "Um tempo mais nublado chega a diminuir em até 15% o UV."
Alvala recomenda um cuidado maior na praia. "As pessoas permanecem debaixo do guarda-sol e acham que estão protegidas. Mas a areia reflete muito a radiação." Em cidades como Santos e Ubatuba, no litoral paulista, a radiação também tem ficado em torno de 8.
De acordo com o dermatologista Mauricio Mendonça, a combinação de clima seco e radiação UV alta é perigosa. "Com o clima seco, as pessoas já estão com a pele desidratada. O UV alto só aumenta o impacto", diz ele.
Especialistas chamam a atenção para o uso diário de filtro solar, mesmo no inverno . "O estrago da radiação é cumulativo. Se foi intenso hoje, vai ter consequências no futuro."
PRESTE ATENÇÃO

1.A intensidade dos raios solares é maior entre as 10 e as 16 horas, mesmo no inverno. É aconselhável não se expor nesse período.
2.A radiação está intimamente ligada à nebulosidade. Em dias de céu aberto, ela será maior, mesmo na sombra.
3.Médicos recomendam o uso diário de filtros solares, de acordo com o tipo de pele. O ar seco ainda é uma agravante, porque resseca a pele.
4.Na praia, guarda-sol não basta para proteger a pele. A areia reflete a radiação.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100829/not_imp601942,0.php

OESP, 29/08/2010, Metrópole, p. C4

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