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Sem obra, represa perde 35% de água

OESP, Metrópole, p. A32
24 de Ago de 2014

Sem obra, represa perde 35% de água
Reservatório, que comportaria 46,9 bi de litros, há 3 anos espera para ser inundado; sistema ganharia 9% em capacidade

Fabio Leite - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Mais de três anos após a remoção das famílias que ocupavam seu território, a Represa Taiaçupeba, em Suzano, na Grande São Paulo, ainda opera com 35% a menos da capacidade de armazenamento. A área onde cabem 46,9 bilhões de litros adicionais para a produção de água do Sistema Alto Tietê está tomada de mato e cortada por uma estrada. Se o reservatório tivesse sido inundado desde 2011, o segundo maior manancial que abastece a Região Metropolitana poderia estar hoje com um volume disponível 9% maior.
"Se esses braços da Taiaçupeba tivessem sido inundados lá atrás, certamente nós estaríamos hoje em uma situação melhor. Talvez não precisássemos usar o volume morto do manancial", afirma o engenheiro José Roberto Kachel, ex-funcionário da Sabesp e integrante do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. Segundo ele, o volume útil do sistema, que também enfrenta crise de estiagem, pode zerar em cerca de cem dias, caso não volte a chover.
Capacidade. Na sexta-feira, o Alto Tietê estava com 17,3% da capacidade, a mais baixa da história. Isso significa que restam hoje, nas cinco represas do manancial, cerca de 90 bilhões de litros. Se a Taiaçupeba, segundo maior reservatório do sistema, estivesse operando com capacidade máxima, o volume poderia ser de 137 bilhões de litros, ou 26,3% da capacidade total do Alto Tietê, que só fica atrás do Sistema Cantareira em volume armazenável.
O imbróglio envolvendo o enchimento total da Represa Taiaçupeba já dura mais de 30 anos. A inundação deveria ter ocorrido no fim dos anos 1970, pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), mas o processo ficou suspenso porque a empresa de papelão Manikraft entrou na Justiça contra a desapropriação de sua fábrica no local.
Em 1992, a Taiaçupeba começou a operar parcialmente, com a capacidade que tem hoje, de 85,2 bilhões de litros. O litígio só foi resolvido em junho de 2008 e a Manikraft deixou o local. A partir daí, o impasse passou a ser a remoção de 741 famílias que moravam na área. O processo começou em 2009, organizado pelo DAEE, pela Sabesp, pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), todos do governo paulista, e pela prefeitura de Suzano. Em um informativo da época, o governo afirma que, sem o enchimento total da Taiaçupeba, "cerca de 3 milhões de pessoas poderão sofrer com racionamento".
Transbordo. Segundo moradores, as famílias foram retiradas em 2010. Em abril daquele ano, as represas transbordaram, e o sistema superou 100%. A Sabesp afirma que o processo terminou em abril de 2011. À época, o Alto Tietê estava com 81,8% da capacidade. Agora, com nível baixo, a companhia planeja retirar cerca de 25 bilhões de litros do volume morto das Represas Jundiaí e Biritiba.

Sabesp diz que área tem alagamento previsto para 2015
Acordos ambientais estão sendo fechados com a Cetesb; segundo estatal, medida não impactará na produção de água

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou, em nota, que as obras necessárias para "o enchimento complementar" da Represa Taiaçupeba, em Suzano, começarão a partir de 2015, ao custo estimado de R$ 45 milhões, e se ampliará a capacidade de reserva de água do Sistema Alto Tietê em 9%.
Segundo a estatal paulista, porém, a medida "não impactará na produção de água" do Sistema Alto Tietê. A concessionária destacou que a Estação de Tratamento de Água (ETA) Taiaçupeba, ampliada em 2011 por meio de uma parceria público privada (PPP), "opera hoje em sua capacidade máxima, liberando uma vazão contínua de 15 mil litros por segundo".
Hoje, a Sabesp afirma que está finalizando, em conjunto com a Companhia Ambiental do Estado (Cetesb), "os acordos ambientais para a execução de obra". O processo de licenciamento ambiental, com a elaboração de diagnóstico complementar da fauna na área de inundação da represa para manejo e conservação, foi contratado em 2013.
Durante a atual crise de estiagem, iniciada no Sistema Cantareira, a Sabesp tem utilizado a capacidade máxima de produção do Alto Tietê para abastecer cerca de 1 milhão de pessoas que antes eram atendidas pelo maior manancial paulista. O remanejamento de água também ocorre de outros sistemas que abastecem a Grande São Paulo, como Guarapiranga, Rio Grande e Rio Claro.
Segundo a Sabesp, enquanto a produção média de água do Cantareira caiu de 31 mil litros por segundo, em janeiro, para cerca de 21 mil litros por segundo hoje, os demais sistemas têm operado no inverno com o ritmo de produção de verão, quando o consumo de água é maior. Para , especialistas, foi essa reversão de água que levou o Alto Tietê a entrar em crise. A Sabesp, contudo, afirma que "ainda não há perspectiva de utilização imediata" do volume morto do manancial./ F.L.

OESP, 24/08/2014, Metrópole, p. A32

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