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Sem aval de Salles, governos da Amazônia negociam apoio de países europeus

FSP - https://ambiencia.blogfolha.uol.com.br
Autor: AMARAL, Ana Carolina
11 de Dez de 2019

Sem aval de Salles, governos da Amazônia negociam apoio de países europeus

Ana Carolina Amaral

MADRI Com uma agenda de reuniões com as delegações francesa, alemã e norueguesa, os governadores da Amazônia aproveitam a COP-25 do Clima para alavancar a cooperação direta entre doadores internacionais e governos locais.

Para facilitar a interlocução direta, sem passar pelo governo federal, no domingo (8) eles chegaram a articular junto a parlamentares uma carta defendendo o protagonismo dos estados amazônicos no repasse das verbas negociadas na COP-25, incluindo a regulamentação do mercado de carbono.

No entanto, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não assinou o documento, que citava uma "autorização para que o Consórcio Interestadual [da Amazônia] e os estados associados possam captar junto ao mercado internacional".

"Já não precisamos de autorização. Podemos receber doações e só precisamos informá-las ao governo federal", disse à Folha o governador do Amapá e presidente do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal, Waldez Góes.

Ele explica que o documento ajudaria a fazer essa conversa com os interlocutores internacionais, "porque há uma cultura de diplomatas manterem as conversas entre os representantes nacionais".

A Folha acompanhou uma reunião do governador com o francês Pierre-Henri Guignard, enviado especial da Aliança pelas Florestas, criada em setembro pelo presidente francês Emmanuel Macron.

"Para além do apoio à conservação, precisamos de apoio da comunidade internacional para agenda de oportunidades para quem vive na Amazônia, muitas vezes com fome e sem saneamento básico", disse Góes.

"A Aliança também deve prover recursos para essa agenda de alternativas", respondeu Guignard na reunião, citando como exemplo a substituição do uso do carvão vegetal por energia solar.

O encontro também contou com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o conselheiro para assuntos globais da Embaixada da França no Brasil, Kevyan Sayar.

Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), governador Waldez Góes (AP) se reúnem com diplomatas franceses na COP-25 (Foto: Divulgação)
Em um referência sutil ao governo Bolsonaro, que não chegou a ser citado, as duas partes reafirmaram que a amizade entre Brasil e França é maior que as 'questões políticas'.

"Foi muito complicado fazer um envio rápido quando a Bolívia aceitou ajuda para combater as queimadas. A Aliança quer facilitar isso", acrescentou Guignard. A Aliança pelas Florestas pretende conectar países doadores com detentores de grandes florestas, especialmente da Amazônia.

"Ao falar com a gente [do consórcio da Amazônia], estão falando com toda a Amazônia, 61% do território brasileiro. E o diálogo pode ser mais produtivo", disse Góes durante a reunião.

Ao longo da COP-25, que vai até sexta (13), governadores e parlamentares da Amazônia devem se reunir também com a Alemanha e a Noruega. Os dois países são os doadores do Fundo Amazônia, bloqueado desde maio.

Segundo assessores do Ministério do Meio Ambiente da Noruega, o diálogo com o governo federal brasileiro também deve seguir, mas os noruegueses reafirmam que, assim como os alemães, não veem nenhuma solução imediata para o Fundo Amazônia.

Os dois países devem caminhar juntos nas análises e manifestações sobre o futuro do Fundo, ainda segundo fontes ministeriais da Noruega.

Os governos estaduais têm protagonizado a busca por cooperação internacional desde que o governo Bolsonaro passou a dificultar a relação com os países doadores, com o bloqueio do Fundo Amazônia e a recusa de doação dos franceses para o combate às queimadas na Amazônia.

No entanto, a vontade dos governos locais de receber os repasses é anterior ao governo Bolsonaro. Eles - junto a ONGs, empresas e municípios - já pleiteavam que as verbas do Fundo Amazônia não ficassem concentradas no governo federal.

Enquanto o governo federal têm suas aparições reduzidas na COP-25, em um ano sem estande oficial e sem eventos internacionais capitaneados pelo Brasil, os governos estaduais da Amazônia buscam angariar apoio político no evento Amazon-Madrid, que acontece entre terça e quarta paralelamente às negociações da COP.

Além de Góes, participam da COP-25 os governadores Hélder Barbalho (PA), Gledson Cameli (AC) e os vices-governadores Wanderlei Barbosa (TO) e Otaviano Pivetta (MT).

*A jornalista viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade (ICS).

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