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Selo de qualidade muda a vida de agricultoras no litoral de SP

G1 https://g1.globo.com
Autor: Neide Duarte
23 de Set de 2018

A vida de 15 agricultoras de Itanhaém, no litoral sul de São Paulo, mudou por causa de uma certificação. Elas são as primeiras a receber o selo Mulher Rural, que garante a procedência e a qualidade de produtos da agricultura familiar.

Concedida pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, a certificação foi criada em 2009 e agora, 9 anos depois, a mulher do campo, que sempre trabalhou igual ao homem, teve o seu trabalho reconhecido.

"Nunca passou pela minha cabeça. Foi uma emoção tão grande. Pelo menos reconheceram o esforço que a gente faz", celebrou com emoção a agricultora Teruko Tamashiro.

Banco de Alimentos
Antigamente, os produtores rurais de Itanhaém precisavam levar seus produtos para vender em Santos, a quase 60 km de distância, o que encarecia muito os alimentos. Agora eles conseguem vender tudo no próprio município.

Uma parte do que foi plantado vai para a feira. Outra é vendida para o único Banco de Alimentos da Baixada Santista, que também faz parte de um programa federal de incentivo à agricultura familiar.

Ele compra os produtos de assentados da reforma agrária, comunidades indígenas e pequenos agricultores de maneira geral. E distribui esses alimentos para mais de 60 escolas do município e também para famílias carentes.

Da banana à diversidade
Em 2008, quando o Itanhaém recebeu uma verba do governo federal para comprar os produtos dos pequenos agricultores, percebeu-se que existia um único produto à venda: bananas.

Mas a merenda escolar, que deveria ser abastecida com 30% da agricultura familiar, não poderia receber apenas esse produto.

"A gente montou uma estratégia para revitalizar, pegar esse cinturão verde, que na época só tinha banana, e iniciou uma tratativa para fazer com que esses agricultores apurassem a sua produção, atentassem para a diversidade", resume a diretora do banco, Luciana Melo.
Hoje as grandes fazendas da região estão arrendadas para os pequenos agricultores e, além de banana, eles já produzem pupunha, hortaliças, mandioca, batata doce, entre outros itens.

O selo de agricultura familiar também vai para os peixes, outro produto famoso da região.

Milho sagrado
Muito antes das bananas e dos pescadores caiçaras o litoral de Itanhaém era habitado por indígenas. E um dos alimentos que também recebem o selo agricultura indígena é o milho sagrado guarani.

A semente desse milho estava perdida, mas os guarani conseguiram resgatá-la com a ajuda da Funai. Desde 2016, o Banco de Alimentos compra o milho guarani e repassa, como merenda escolar, unicamente para as duas escolas guarani de Itanhaém.

O resgate do milho sagrado provocou os guarani a trazerem de volta também a produção de mel da abelha jataí. O milho e o mel são necessários para o ritual de batismo do milho, quando o pajé dá nome às crianças que ainda não têm nome.

Sonhando alto
A verba para esse trabalho caiu muito nos últimos anos. Mesmo com as dificuldades, o projeto continua a distribuir alimentos para famílias carentes.

Além do Banco de Alimentos, os guarani e os mais de 40 pequenos agricultores de Itanhaém vendem seus produtos na Feira do Produtor, criada em 2011 pela prefeitura com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social.

Os produtores sonham alto. Ana Lucia Silva, que vende nhoque de banana verde ao banco e na feira, lançou um livro de receitas junto com outras mulheres.

Mas, quando foi escrever a receita de farofa de feijão, ela parou pra pensar: "Como vou escrever uma receita se mal tenho a oitava série? Preciso estudar. Eu só sabia plantar e colher".

Por conta do livro, ela terminou o ensino médio e está cursando uma faculdade. "Quero ir para uma sala de aula dar aula. Quero ser agricultora e professora".

https://g1.globo.com/economia/agronegocios/globo-rural/noticia/2018/09/…

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