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Seca mais rigorosa neste ano ameaça região do semi-árido

FSP, Brasil, p. A8
29 de Out de 2006

Seca mais rigorosa neste ano ameaça região do semi-árido
Índices pluviométricos em 4 Estados tiveram redução de 60% no período considerado como estação chuvosa
Paraíba tem pior média em 12 anos; em Pernambuco, 38 municípios já decretaram situação de emergência por causa da estiagem

Cíntia Acayaba
José Eduardo Rondon
Da agência Folha

Quatro Estados com cidades na região do semi-árido brasileiro devem enfrentar em 2006 uma seca mais rigorosa do que a dos dois anos anteriores, em razão de uma redução na média dos índices pluviométricos durante a estação chuvosa -que, no semi-árido, ocorre de fevereiro a maio.
Em três Estados do Nordeste -Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco-, órgãos dos governos relataram que a chuva ficou abaixo do esperado.
Cidades do norte de Minas Gerais, também localizadas no semi-árido, já enfrentam as conseqüências de uma estiagem mais acentuada.
Os índices pluviométricos apresentados no semi-árido desses Estados entre os meses de fevereiro e maio tiveram uma redução de 60% neste ano.
Em 2006, foi registrada uma média de 200 mm de chuva nesse período. Em anos anteriores, a média da estação havia ficado em torno de 500 mm, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Com isso, os efeitos da seca podem ser mais graves.
O semi-árido da Paraíba registrou sua pior média de chuva nos últimos 12 anos, segundo a Defesa Civil do Estado.
"A chuva foi tão fraca no Cariri e no Curimataú [regiões da Paraíba que ficam no semi-árido] que alguns açudes estão completamente secos", disse o coordenador do órgão, Álvaro de Pontes.
Em Pernambuco, a situação é semelhante. "A expectativa para o final do ano é das piores. Tivemos um inverno muito fraco em termos de chuva", disse Alexander Sá, gerente de recursos hídricos da Secretaria de Ciência e Meio Ambiente de Pernambuco.
Neste ano, 38 cidades pernambucanas já decretaram situação de emergência. Durante todo o período de 2005, 57 municípios do Estado assinaram decreto emergencial em razão da seca. No semi-árido, o período de seca é mais grave entre novembro e janeiro.
No Rio Grande do Norte, a baixa freqüência de chuvas preocupa mais as regiões do agreste e do litoral. "No agreste choveu muito pouco, muito abaixo do normal, lá quase não há açudes [há cinco para atender 40 municípios], e a água não é boa. No litoral não há reservatórios, e a água subterrânea é salgada", afirmou Josemá Azevedo, secretário estadual de Recursos Hídricos.
Neste ano, 78 municípios do Rio Grande do Norte decretaram situação de emergência pela seca. Em 2005, foram 64.

Atípico
A Defesa Civil de Minas Gerais classifica o índice pluviométrico registrado no Estado como atípico. "Já há um número muito maior de cidades com decreto de emergência [135 neste ano, contra 106 no ano passado] em razão da seca, principalmente no Vale do Jequitinhonha", disse Israel Cabral de Oliveira, sub-tenente da Defesa Civil de Minas Gerais.
O gerente de recursos hídricos de Pernambuco afirmou ainda que, diferentemente dos últimos anos, nenhum dos cem reservatórios do Estado "sangrou" (atingiu o nível máximo) neste ano. "Para ter uma idéia da fragilidade do Estado: a capacidade de todos os reservatórios de Pernambuco [3,2 milhões de metros cúbicos] equivale a um reservatório do Ceará", disse Alexander Sá.
Segundo a secretaria, todos os açudes estão em média com cerca de 60% de sua capacidade, o que é considerado pouco.
"Em algumas cidades, precisamos de carros-pipa para ontem", disse Pontes, coordenador da Defesa Civil na Paraíba.

Política de emergência atenua estrago

DA AGÊNCIA FOLHA

Apesar de a seca continuar trazendo prejuízos à população do semi-árido, o Brasil não registra número elevado de mortes relacionadas ao fenômeno há cerca de 60 anos.
Segundo o economista Gustavo Maia Gomes, da Esaf (Escola de Administração Fazendária) do Ministério da Fazenda, autor do livro "Velhas Secas em Novos Sertões" (Ipea, 294 págs.), desde 1942 -quando as políticas emergenciais começaram- o registro de mortes de pessoas e gado deixou de ocorrer em larga escala. "Em meados do século passado, as políticas emergenciais tornaram-se quase automáticas. O efeito destas medidas é positivo, e a mortandade diminuiu drasticamente", disse Gomes.
Ele cita a seca de 1877, quando, segundo documentos pesquisados pela Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), há estimativa de que cerca de 500 mil pessoas tenham morrido no Ceará -número que representava mais da metade da população do Estado na época. (CA)

FSP, 29/10/2006, Brasil, p. A8

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