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Se ele voltasse...

JB, JB Ecológico, p. 48-49
Autor: SILVA, Marina
08 de Dez de 2003

Se ele voltasse...
É o que imagina e responde aqui, em depoimento exclusivo para a JB Ecológico, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ex-companheira de luta de Chico Mendes

Marina silva

Se Chico Mendes pudesse sair de onde está e voltasse aqui para comer um tambaqui assado com a gente, ele veria que hoje não tem um só governador da Amazônia, por mais que tenha divergências políticas ou ideológicas, capaz de dizer publicamente que é a favor de derrubar a Floresta Amazônica, acabar com ela, levar para lá o progresso insustentável. Todos eles, hoje, são obrigados a dizer que querem a preservação da Amazônia. É claro que têm alguns que falam, fazem e desejam fazer. E têm alguns que falam porque senão seriam eticamente constrangidos a falar".
Chico veria, enfim, que avançou muito a consciência ecológica em relação à Amazônia. Os grandes desafios, porém, de transformar essa consciência em realidade ainda continuam sendo muito grandes. Mas, pelo menos, já temos boas sinalizações. Ele saberia que aquele rapaz magrelo, meio dentucinho, que trabalhava na Funtac, a Fundação de Tecnologia do Estado do Acre, chamado Jorge Viana, é o governador do Estado, e já pela segunda vez.
Ele saberia que, no Amapá, a proposta do próprio governador Waldez Góez é fazer com que 70% do Estado sejam transformados em área de proteção ambiental.
E além do mais, que o pessoal do PPS, que ganhou o governo do Amazonas, aquele rapaz chamado Eduardo Braga, tem um alinhamento e está fazendo um trabalho muito parecido com o que estamos fazendo no Acre.
Chico veria que as mudanças não pararam por aí.
Sobre o Pará, ele saberia que nós fizemos uma reunião em Brasília com todo o ministério, com todos os governadores da Amazônia e o Simão Jatene defendeu, com veemência, uma proposta de zoneamento ecológico e econômico para o Estado. E já está trabalhando em conjunto também com o Ministério da Reforma Agrária, para que tenhamos uma proposta correta de ordenamento territorial para o combate à exploração irregular de madeira na Amazônia paraense.
A situação lá é feia, né?, perguntaria Chico. E eu lhe responderia: é feia, sim. Mas a gente está no caminho certo, viu?
Ele ficaria mais feliz ainda em saber que o Lula foi eleito presidente do Brasil e está com o grande desafio de fazer uma política ambiental integrada, onde as questões do meio ambiente estejam presentes, em todos os setores de planejamento do governo.
E aí ele ia cair pra trás, quando eu lhe dissesse que sou a ministra.
Se Chico Mendes voltasse hoje em Xapuri e desse uma volta nos cinco Estados amazônicos, qual o sentimento que ele teria? Chico diria uma expressão assim bem típica de acreano: "Mas rapaz, pois não é que a reserva extrativista foi implantada, que a gente está fazendo funcionar lá o manejo comunitário?"

E ficaria surpreso com as coisas que conquistamos. Iria arregaçar as mangas para as coisas que a gente ainda não conquistou e nos mostraria com muita ternura, mas com muita firmeza, onde elas precisam avançar'.

Se Chico Mendes voltasse hoje em Xapuri e desse uma volta nos cinco Estados amazônicos, qual o sentimento que ele teria? Chico diria uma expressão assim bem típica de acreano: 'Mas rapaz, pois não é que a reserva extra ti vista foi implantada, que a gente está fazendo funcionar lá o manejo comunitário?'

Se eu voltasse...
Chico Mendes
"Meu sonho é ver toda esta floresta conservada, porque nós sabemos que ela pode garantir o futuro de todas as pessoas que vivem nela. E não é só isso. Eu acredito que, em alguns anos, a Amazônia pode se tornar uma região economicamente viável, não apenas para nós, mas para toda a nação, a humanidade e o planeta.

Não quero flores no meu funeral, porque sei que elas seriam tiradas da floresta. Só desejo que meu assassino sirva para pôr um fim à impunidade de pistoleiros que são protegidos pela polícia federal do Acre.

Se um mensageiro descesse do céu e garantisse que minha morte ajudaria a fortalecer nossa luta, ela até valeria a pena. A experiência nos ensina o contrário. Não é com grandes funerais e manifestações de apoio que iremos salvar a Amazônia. Eu quero viver".

JB, 08/12/2003, JB Ecológico, p. 48-49

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