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Santo Antônio também paralisa obras

FSP, Mercado, p. B1, B4
19 de Mar de 2011

Santo Antônio também paralisa obras
Preocupação com tumultos em obras da vizinha Jirau leva à suspensão dos trabalhos em usina em Rondônia
Ontem, operários em Jirau atearam fogo em bloco de alojamentos de empresa terceirizada que atua na obra

RODRIGO VARGAS
ENVIADO ESPECIAL A RONDÔNIA

Em mais um dia de revolta de trabalhadores na usina de Jirau, o consórcio responsável pelas obras na hidrelétrica de Santo Antônio, que também está sendo construída em Porto Velho, decidiu paralisar os trabalhos.
Ontem, operários em Jirau atearam fogo em bloco de alojamentos da Enesa, empresa terceirizada que atua na obra. No momento do ataque, 183 trabalhadores da Enesa estavam no canteiro da usina.
O incêndio começou pouco depois de entrarem no canteiro jornalistas levados pela Camargo Corrêa, que dizia querer mostrar que a situação estava normalizada. "Os camaradas avisaram: "Se vocês não saírem, o alojamento vai queimar". Ninguém tomou providência", disse Sadinoel de Lima Santos, motorista da Enesa.
No local, policiais e homens da Força Nacional de Segurança usavam um caminhão-pipa para tentar controlar o incêndio. Um operador da Enesa, que se identificou como Pedro, disse que ainda "há muitos revoltosos escondidos na mata". Falou que "eles não querem que ninguém volte a trabalhar".
As obras em Jirau estão paralisadas desde quarta. A maior parte dos alojamentos foi incendiada após quebra-quebra iniciado supostamente devido a uma briga entre funcionários.
O sindicato local e a Camargo Corrêa dizem que a revolta ocorreu por vandalismo e não por motivações trabalhistas. Mas os operários falam que promessas não cumpridas estimularam a depredação. Atuam em Jirau 22 mil trabalhadores.
Sem alojamentos, os operários -a maioria de fora do Estado- foram levados para o centro de Porto Velho e devem ficar hospedados em abrigos provisórios.
A Camargo Corrêa, integrante do consórcio, afirma que não há como voltar já aos trabalhos.
Na usina de Santo Antônio, ainda não existe data para os cerca de 15 mil operários voltarem aos trabalhos.
A preocupação das autoridades com tumultos na outra hidrelétrica é agravada devido à proximidade da obra com o centro de Porto Velho -8 km. Jirau está a a mais de 100 km da sede o município.

DESOLAÇÃO
A Folha visitou o canteiro de obras em Jirau, onde há um cenário de guerra após o quebra-quebra.
Há dezenas de ônibus e carros incendiados. Onde havia mais de 200 alojamentos sobrou apenas a parede de alvenaria dos banheiros.
A área onde estão armazenados explosivos utilizados pela Camargo Corrêa foi a primeira a ser resguardada pela Força Nacional de Segurança. Cerca de 150 agentes do órgão devem ser deslocados para o canteiro.

Colaborou FELIPE LUCHETE, de Belém

Usinas passam por situações diferentes
Enquanto hidrelétrica de Santo Antônio tem oficializada sua antecipação de entrega de energia, Jirau se afasta da meta

AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

Indicadas como modelos de eficiência entre os projetos listados no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), as usinas hidrelétricas de Jirau e de Santo Antônio, ambas no rio Madeira (RO), começam a tomar rumos distintos.
Os dois projetos foram idealizados sob uma promessa: antecipar as obras e iniciar a geração de energia antes do prazo determinado no contrato assinado com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
A fúria dos trabalhadores no canteiro de Jirau e o atraso no licenciamento da linhas de transmissão que trará a energia de Rondônia para São Paulo começam a mudar os planos.
Por enquanto, somente a Mesa (Madeira Energia S.A.), empresa responsável pela construção da hidrelétrica de Santo Antônio, tem compromisso firme com a antecipação. A empresa assinou um aditivo ao contrato no qual se compromete a antecipar a entrega da energia da usina.
A previsão inicial para a operação da primeira turbina de Santo Antônio era dezembro de 2012. Agora, a operação está prometida para dezembro deste ano. É quando a primeira máquina começa a produção de energia.
Mas há um problema. A linha de transmissão de 2.400 quilômetros. O projeto de Furnas e da CTEEP (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista) aguarda a licença de instalação do Ibama. A solução da Mesa será gerar energia em 500 kV (quilovolts), rebaixar a tensão para 230 kV e distribuir no mercado regional.
A Energia Sustentável do Brasil, empresa encarregada da construção e operação de Jirau, também prometeu antecipar a geração de energia, mas pode não conseguir.
Diferentemente de Santo Antônio, a companhia apenas anunciou a antecipação, mas jamais topou assinar um aditivo ao contrato para oficializar a decisão junto à agência reguladora.
Por contrato, a empresa tem até janeiro de 2013 para acionar a primeira máquina.
A Energia Sustentável chegou a sugerir o mês de março de 2012 como início da operação da primeira turbina.
Mas a fúria dos trabalhadores nesta semana deve comprometer essa meta de vez. A volta ao ritmo normal de obras levará tempo, até a reconstrução da infraestrutura para alojar os 20 mil trabalhadores.

PARTE DA CONTA
Com a antecipação, a usina de Santo Antônio conseguirá obter uma receita para compor a engenharia financeira montada para bancar a construção da obra. Sem isso, a empresa Energia Sustentável pode ter dificuldades para fechar a conta.
Isso pode ser um problema, caso seja considerado o fato de que ambas as obras começam a estourar a previsão inicial de custo. Participante do mercado informa que o custo de Santo Antônio subiu de R$ 12 bilhões para R$ 14 bilhões.
Jirau também já teria subido de R$ 10 bilhões para além de R$ 13,5 bilhões.

Consórcio cobra segurança pública em obra privada

DO ENVIADO A PORTO VELHO (RO)

O presidente do consórcio responsável por Jirau, o Energia Sustentável, Vitor Paranhos, defendeu que obras privadas de grande porte, como a usina, tenham a segurança dos canteiros garantida por forças públicas.
"Jirau tem 20 mil pessoas. Isso é uma população maior que a de muitas cidades. E o que será feito quando formos fazer Belo Monte [PA] e for preciso cuidar de 30 mil peões no meio do nada? Não basta chegar para o investidor e dizer: "Problema seu"."
Paranhos diz ainda que a entrada em operação da Casa de Força 1, prevista para março de 2012, precisará ser reavaliada com a Camargo Corrêa. A empresa afirma que o cronograma será revisto.
A Camargo Corrêa fretou dois Boeings-737/800 e 200 ônibus para a operação que pretende encaminhar mais de 7.000 trabalhadores de Jirau a seus Estados de origem. A maioria vem de outras partes do Norte e do Nordeste.
No principal abrigo montado em Porto Velho para receber operários que ficaram sem alojamentos, milhares de pessoas passaram a noite em colchões estendidos no chão. Ao longo do dia, 10 mil refeições foram servidas no local, segundo a empresa.
A construtora se comprometeu a concluir toda a tarefa até segunda-feira.
A Odebrecht, que atua na hidrelétrica de Santo Antônio, disse apenas que o trabalho será retomado "assim que houver a normalização do ambiente na região". (RV)

Trabalhadores dizem ter sofrido "violência física"

DO ENVIADO A PORTO VELHO

Trabalhadores da usina de Jirau relataram ontem, em reunião com representantes dos Ministérios Públicos Estadual, Federal e do Trabalho, que sofriam "violência física" por parte de funcionários da Camargo Corrêa e que eram obrigados a comprar produtos a preços exorbitantes no canteiro da obra.
Outras queixas relatadas foram em relação a critérios do programa de participação nos lucros implantado pela empresa e a não concessão, pela construtora, das folgas concedidas a cada quatro meses de trabalho.
"A insatisfação contribuiu para a crise que se instaurou na usina na terça-feira", disse o MPF, em nota.
Após a reunião, foram definidas linhas de ação conjunta em relação aos empregadores. Entre elas, a garantia de alojamento e alimentação para os que ficarem em Porto Velho e o ressarcimento de bens e pertences "perdidos nos incidentes".
Procurada, a assessoria da Camargo Corrêa disse que a empresa mantinha o posicionamento contido em nota expedida no fim da tarde, na qual se declarou "aberta para dialogar com os sindicatos", embora diga não haver "registro de nenhuma reivindicação trabalhista".
A Justiça do Trabalho instalou ontem uma vara itinerante no canteiro de obras de Jirau para atendimento e análise das reivindicações dos trabalhadores.

Com a Sucursal de Brasília

FSP, 19/03/2011, Mercado, p. B1, B4

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1903201102.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1903201103.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1903201104.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me1903201105.htm

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