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Rússia salva tratado ambiental

JB, Internacional/Ciência, p. A14
23 de Out de 2004

Rússia salva tratado ambiental
Convenção entra em vigor em 2005, a despeito de recusa dos Estados Unidos em assinar o documento

OSLO - Depois de um nascimento difícil, com a ajuda da Rússia, o protocolo de Kyoto agora precisa conquistar os outros grandes poluidores, como os Estados Unidos, a China ou a Índia, para não correr o risco de se tornar irrelevante no combate ao aquecimento global. Os partidários do acordo comemoraram a aprovação, ontem, do protocolo na Duma (Câmara dos Deputados) russa, o que garante sua entrada em vigor, depois da desistência dos EUA. A convenção passará a vigorar 90 dias depois do fim das formalidades em Moscou.
O Protocolo de Kyoto, um projeto piloto criado em 1997 para tentar conter a emissão de gases que provocam o efeito estufa, aplica-se apenas aos países desenvolvidos. O tratado exige o apoio de um mínimo de 55 países, cujas emissões constituíam 55% da poluição global em 1990. Com a adesão da Rússia, que emite 17,4% desses gases, seria superado o mínimo requerido para que o tratado entre em vigor, já que os 126 países que o aprovaram somam 44,2% das emissões globais. Cada país desenvolvido signatário deve cortar suas emissões de gases poluentes em 5% até 2012, tomando como base o índice de 1990.
- Mas precisamos redobrar os esforços para obter cortes ainda mais profundos nas emissões - alertou após a votação russa, Klaus Toepfer, chefe do Programa Ambiental da ONU.
- O grande desafio será conseguir o envolvimento dos EUA e de grandes países em desenvolvimento, como a China, a Índia, o Brasil e a Indonésia - acrescentou Paal Prestrud, chefe do Centro para Pesquisa Internacional do Clima e do Ambiente, em Oslo.
O governo brasileiro assinou e ratificou o tratado em 2002. Mas países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia, não têm de cumprir metas de corte de gases poluentes.
As chances de recrutar os EUA, o maior poluidor do mundo, aumentarão se o senador democrata John Kerry vencer as eleições presidenciais de 2 de novembro. O documento chegou a ser discutido quando Bill Clinton estava no poder, mas no governo seguinte, o republicano George Bush recusou o tratado por considerá-lo prejudicial aos interesses das indústrias americanas.
E ontem, contrariando a torcida inclusive da União Européia, o governo americano reafirmou que não tem intenção de seguir o exemplo russo e ''assinar ou ratificar'' a convenção internacional.
- Não mudamos de idéia. Ainda não acreditamos que o Protocolo de Kyoto seja algo realista para os EUA - disse o vice-porta-voz do Departamento de Estado, Adam Ereli.
Ainda assim, Jennifer Morgan, do grupo conservacionista WWF, acredita houve um avanço com a entrada da Rússia na convenção.
- Vai ser muito mais difícil para países como os EUA e a Austrália apresentar propostas menos ambiciosas - afirmou.
O governo conservador australiano, que na terça-feira inaugura mais um mandato de quatro anos, também continua impassível. O premier John Howard afirma que o país vai realizar cortes de poluentes similares ao da convenção, mas que não assinará o tratado porque ele ''afugentaria indústrias e empregos para países que não apóiam o Kyoto''.
A ONU estima que as temperaturas médias no mundo podem subir entre 1,4oC e 5,8o C até 2100. Isso provocaria a elevação do nível do mar, o alagamento de terras costeiras e o surgimento de desertos.
Mesmo que seja totalmente implementado até 2012, o Protocolo de Kyoto reduziria esse aumento em apenas 0,15oC. Cortes adicionais nas emissões de gases que causam o efeito estufa exigiriam gastos de trilhões de dólares.
Para Prestrud, o mundo precisa desenvolver uma tecnologia limpa num grande esforço global. Mas os críticos questionam as bases científicas do protocolo e afirmam que os dólares seriam mais bem gastos no combate a doenças como a Aids e a malária.

JB, 23/10/2004, Internacional/Ciência, p. A14

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