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Roraima vira palco de guerra até entre grupos de índios

FSP, Brasil, p. A14
06 de Abr de 2008

Roraima vira palco de guerra até entre grupos de índios
Enquanto uma ala defende a retirada de não-indígenas da reserva Raposa/Serra do Sol, outra apóia a permanência dos arrozeiros
Série de protestos teve início no domingo passado; desde lá pontes foram bloqueadas e incendiadas e pelo menos duas pessoas foram presas

Andrezza Trajano
Colaboração para a agência Folha, em Boa Vista
José Eduardo Rondon
Da agência Folha

Pontes incendiadas, máquinas agrícolas bloqueando acessos às estradas, índios pintados para a guerra. Este foi o cenário encontrado pela reportagem ao trafegar no interior da terra indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima, nos últimos dias.
Desde o último domingo, quando os protestos contra a retirada dos não-índios da reserva tiveram início, a reportagem esteve no local duas vezes.
O clima de tensão e violência na área aumentou após a chegada a Roraima de agentes federais que farão a retirada dos não-índios que ainda permanecem na terra indígena. Na sexta-feira, desembarcaram em Boa Vista integrantes da Força Nacional de Segurança.
A retirada dessas pessoas -incluindo um grupo de arrozeiros- foi determinada pelo governo federal em 2005, quando Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que homologou de forma contínua como terra indígena a área de cerca de 1,7 milhão de hectares. Porém, parte dos não-índios, liderados pelos rizicultores da Raposa/Serra do Sol, permanece no interior da reserva e se recusa a deixar o local.
O "epicentro" do conflito é a vila do Surumu, na região de Pacaraima, onde há cerca de 300 famílias, a maioria não-índia. Ela também abriga o chamado "polígono do arroz", onde oito fazendas estão sediadas.
De um lado da vila estão concentrados os índios favoráveis à homologação, que defendem que a terra deve ser exclusivamente dos indígenas. Católicos, são ligados ao CIR (Conselho Indígena de Roraima).
"Queremos viver no que é nosso, em paz, sem interferência", diz o coordenador do CIR, Dionito de Souza.
Do outro lado, estão os índios contrários à medida do governo federal e que defendem a permanência de não-índios na área, inclusive os arrozeiros.
Eles pertencem em sua maioria à religião evangélica e são ligados à Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima).
Para a índia Deise Maria Rodrigues, contrária à homologação, a luta dos moradores é pelo "desenvolvimento". "Não compartilhamos com essa política do governo federal de nos isolar, de nos colocar sob a tutela da Funai e de nós termos que pedir bênção aos índios do CIR. Somos brasileiros também e queremos investimentos e a garantia dos nossos direitos constitucionais." Os grupos rivais se tratam como inimigos. Qualquer tipo de relacionamento é proibido.
Com manifestações contrárias à retirada de não-índios, que tiveram início no domingo passado, uma série de protestos tomou conta da terra indígena e pelo menos duas pessoas foram presas.
Com a destruição de duas pontes, a vila do Surumu e o município de Normandia ficaram isolados. Duas pessoas foram feitas reféns e artefatos explosivos foram deflagrados.
A repórter Andrezza Trajano viajou à terra indígena Raposa/Serra do Sol no avião locado pelo deputado federal Márcio Junqueira (DEM-RR)

FSP, 06/04/2008, Brasil, p. A14

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