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Rodrigues troca diretoria da Embrapa

FSP, Dinheiro, p.B2
21 de Jan de 2005

Idéia é priorizar projeto de agronegócio, em detrimento da agricultura familiar
Rodrigues troca diretoria da Embrapa
Kennedy Alencar
Ricardo Westin
Da sucursal de Brasília
Depois de dois anos de divergências nos bastidores, o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) derrubou ontem a diretoria da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). A intenção agora é priorizar projetos ligados ao agronegócio, em detrimento da agricultura familiar, segundo a Folha apurou.
Cada vez mais fortalecido no governo, Rodrigues avaliava que a diretoria da Embrapa era muito petista e convenceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a deixá-lo indicar nomes de sua confiança. Foi demitido o presidente da instituição, Clayton Campanhola -um quadro petista. No seu lugar, assume Silvio Crestana, físico e funcionário da Embrapa desde 1984. Rodrigues indicará ainda os três novos diretores-executivos, que passarão pelo crivo da Casa Civil do ministro José Dirceu.
Além de Campanhola, foram demitidos os três diretores-executivos da empresa: Gustavo Kauark Chianca, Herbert Cavalcante de Lima e Mariza Marilena Barbosa.
A Folha apurou que a relação entre Rodrigues e Campanhola nunca foi boa. O ministro crê, por exemplo, que a Embrapa, mesmo sendo um órgão subordinado ao ministério, não ficou ao seu lado nas batalhas para a liberação do plantio de soja transgênica no país. Campanhola defendia, por exemplo, mais pesquisas antes de uma liberação total, posição semelhante à da ministra Marina Silva (Meio Ambiente).
Campanhola, que assumiu a Embrapa em janeiro de 2003, priorizou programas de agricultura familiar, como o de assistência técnica a assentamentos da reforma agrária. Rodrigues pensa diferente. Para ele, o órgão deve focar suas pesquisas no aumento da eficiência da grande agricultura comercial porque são limitadas as possibilidades de ganho comercial em larga escala por meio da agricultura familiar.
Campanhola dizia seguir determinações de Lula. Em abril de 2003, no 30o aniversário da Embrapa, o presidente discursou: "Chegou a vez de abraçar uma missão crucial que ficou para trás: viabilizar o segmento de pequenos agricultores esquecidos no processo de modernização".
Nota oficial
No comunicado sobre a troca da diretoria da Embrapa, divulgado ontem, Rodrigues se preveniu contra a versão de que relegaria ao segundo plano a agricultura familiar, ao recorrer à expressão "inclusão social" como um dos objetivos:
"O que se pretende é reforçar e retomar o papel histórico da Embrapa na área de planejamento de ações para a inclusão social do agronegócio".
Apesar de dizer que a entidade deve "retomar o papel histórico", o comunicado afirma que a troca é parte da "reestruturação administrativa do Ministério da Agricultura e não representa nenhuma mudança estratégica na gestão dos projetos".
Campanhola foi convidado a dirigir o Pólo de Biocombustíveis de Piracicaba (SP). Procurado pela Folha, Campanhola informou, por meio da assessoria, que não iria falar sobre o assunto. Os demais diretores também não falaram sobre a troca de comando.

Empresa "passa a porteira" e avança em tecnologia
Mauro Zafalon
Da redação
Há 31 anos no mercado, a Embrapa foi criada inicialmente para resolver os problemas dos produtores "dentro da porteira". Os objetivos eram buscar maior produtividade e reduzir custos de produção. Com braços em todos os setores da agropecuária brasileira -de grãos e frutas à pecuária-, a empresa teve grande participação na revolução agrícola das últimas décadas no país.
A Embrapa tem 37 centros de pesquisa e 15 escritórios de negócios tecnológicos espalhados pelo país. Com 2.200 pesquisadores, já se prepara para montar escritórios fora do Brasil.
No início da década de 80, o Brasil produziu 50 milhões de toneladas de grãos. Deve atingir 130 milhões de toneladas neste ano. A produção de carnes saiu de 2 milhões de toneladas para 8 milhões.
A Embrapa não foi a única responsável por essa evolução, mas atuou em todos os itens que tiveram forte crescimento de produção. Soja, trigo e milho são exemplos. A empresa desenvolveu dezenas de novos cultivares, adaptando esses produtos a regiões como Centro-Oeste, cerrado e Nordeste.
Novas áreas foram incorporadas à produção graças ao desenvolvimento de tecnologias relacionados à rotação de cultura, de fertilidade e de preparação de solos. Essas técnicas permitiram também aumento de produtividade.
No início da década de 80, para produzir os 50 milhões de toneladas, o país utilizava 39 milhões de hectares. Neste ano, os 130 milhões de toneladas serão produzidos em apenas 48 milhões de hectares.
Na década de 90, as preocupações da Embrapa avançaram para fora da porteira. As pesquisas visavam melhoria da qualidade dos alimentos e preservação do ambiente. A empresa volta-se também para o sistema de agroindústrias.
Nesta década, a visão muda. A Embrapa avança na biotecnologia, na sanidade animal e vegetal e nas soluções para o desenvolvimento sustentável do agronegócio, agora inserido ainda mais no contexto global.

FSP, 21/01/2005, p. B2

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