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Rockefellers apostam em energia alternativa

OESP, Economia, p. B8
23 de Set de 2014

Rockefellers apostam em energia alternativa
Herdeiros do petróleo aderem à proposta de investir em combustível menos poluente

JOHN SCHWART - THE NEW YORK TIMES/O Estado de S.Paulo

John D. Rockefeller construiu uma imensa fortuna com o petróleo. Agora, seus herdeiros estão abandonando os combustíveis fósseis. A família, cuja lendária riqueza brotava da Standard Oil, anunciariam ontem que sua organização filantrópica de US$ 860 milhões, o Rockefeller Brothers Fund, decidiu aderir à onda de desinvestimentos iniciada há poucos anos em algumas universidades.
O anúncio, que deverá anteceder a abertura da cúpula sobre mudança climática da ONU em Nova York, faz parte de uma iniciativa mais ampla e está ganhando mais adesões. Nos anos mais recentes, 180 instituições - organizações filantrópicas, religiosas, fundos de pensão e governos locais - bem como centenas de ricos investidores individuais prometeram vender suas participações em empresas de combustíveis fósseis em seus portfólios atuais e investir em alternativas menos poluentes.
Ao todo, os grupos prometeram redirecionar mais de US$ 50 bilhões investidos em seus portfólios, e os investidores individuais fariam o mesmo com ativos avaliados em mais de US$ 1 bilhão, informou a empresa de consultoria Arabella Advisors, que trabalha com filantropos e investidores que usam seus recursos para fins sociais.
As pessoas que estão vendendo participações na área de energia estão conscientes que sua iniciativa não deverá ter um impacto imediato para as companhias, dado seu enorme valor de mercado e fluxo de caixa.
Mesmo assim, de acordo com alguns, elas procuram harmonizar seus ativos com seus princípios em matéria de meio ambiente. Outras querem desacreditar companhias que, na sua opinião, contribuem para o aquecimento do planeta. E outras afirmam ainda que a luta para limitar as mudanças climáticas levará à imposição de novas regulamentações e a novas tecnologias prejudiciais que farão delas um investimento cada vez mais arriscado.
E, finalmente, afirmam os investidores ativistas, suas ações, como a da luta para o desinvestimento na campanha contra o apartheid, nos anos 80, poderão contribuir para estimular o debate internacional, enquanto a transferência dos fundos de investimento para energias alternativas permitirá solucionar o quebra-cabeça do carbono.
"Este é um momento crucial", disse Ellen Dorsey, diretora executiva do Wallace Global Fund, que coordenou os esforços no recrutamento de fundações para a causa. "O movimento, que começou como um pequeno grupo de ativistas, rapidamente se transformou numa tendência predominante."
Nem todos deixarão de investir nestas empresas nem mesmo imediatamente, observou Dorsey, e alguns estão deixando de investir apenas em setores específicos do setor de combustíveis fósseis, como carvão.
Entre os investidores individuais que aderiram ao anúncio está o ator Mark Ruffalo. A coletiva à imprensa incluiria uma mensagem em vídeo do bispo Desmond Tutu. Ele disse que, como as mudanças climáticas têm um impacto desproporcional sobre os pobres, elas constituem "o desafio para os direitos humanos do nosso tempo".
Não está certo até que ponto os vários fundos e instituições se mostrarão transparentes quanto ao progresso das vendas dos respectivos ativos.
No Rockefeller Brothers Fund, não há ambiguidade, mas cautela, disse Stephen Heintz, seu presidente. O fundo já eliminou investimentos em carvão e areias asfálticas, e aumentou seus investimentos em fontes de energia alternativa. Mas, para rescindir os demais investimentos na área mais ampla dos combustíveis fósseis será necessário mais tempo.
Steven Rockefeller, filho de Nelson A. Rockefeller e um dos administradores fiduciários do fundo, prevê problemas financeiros para as companhias que acumularam mais reservas do que podiam gastar sem contribuir para pôr em risco o clima. "Enxergamos nisso uma dimensão moral e outra econômica."
O ativismo propondo o redirecionamento de investimentos em empresas de combustíveis fósseis começou nos câmpus universitários, mas seu sucesso nesse ambiente foi limitado. A universidade que recebe a maior contribuição, Harvard, não quis abrir mão do investimento nessas empresas, apesar da pressão de muitos estudantes e organizações externas.
Drew Gilpin Faust, presidente de Harvard, emitiu comunicados dizendo que ela e seus colegas não acreditam que redirecionar tais investimentos seja "justificável nem sábio", dizendo que os US$ 32,7 bilhões em recursos doados "são um recurso, e não um instrumento de promoção de mudanças políticas ou sociais".
Stanford anunciou que redirecionaria seus investimentos em participação na indústria do carvão; o escritório de investimentos da Universidade Yale pediu aos seus administradores que examinem a relação entre seus investimentos e a mudança climática, evitando empresas que não adotem "medidas razoáveis para reduzir a emissão de gases-estufa". Tal declaração não satisfez os estudantes, que pressionavam pelo redirecionamento dos investimentos.
Mas o Pitzer College está entre as universidades que prometeram esforços mais abrangentes para remover os combustíveis fósseis de seu portfólio. Donald P. Gould, membro e presidente da comissão de investimentos da Pitzer e presidente da Gould Asset Management, disse que todos os envolvidos na decisão sabiam que os efeitos diretos e imediatos sobre as empresas seria mínimo.
Os fundos de pensão se mostraram mais difíceis de convencer. Enquanto o Hesta Australia, fundo da indústria da saúde avaliado em US$ 26 bilhões, anunciou que deixaria o ramo do carvão, muitos outros não o fizeram. O Pension Danmark disse que tinha investido 7% do seu portfólio de US$ 26 bilhões em energia renovável, e o plano é aumentar o valor.
Heintz, Rockefeller e Valerie Rockefeller Wayne, presidente do fundo, comentaram o antigo compromisso da família de usar o fundo para defender temas ambientais. Valerie disse que o compromisso da família transcende as gerações e vai prosseguir. Segundo ela, a filha de 8 anos a alerta para a destruição do hábitat dos orangotangos para a produção de azeite de dendê. "Se eu estiver de batom, ela se recusa a aceitar meus beijos", disse ela, "pois há azeite no batom". / Tradução de Anna Capovilla e Augusto Calil

OESP, 23/09/2014, Economia, p. B8

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