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Rio tem menor desmatamento entre 8 estados

O Globo, Rio, p. 18
13 de Dez de 2006

Rio tem menor desmatamento entre 8 estados
Levantamento por satélite identifica agressões à Mata Atlântica, mas não localiza pequenas áreas devastadas

Tulio Brandão

Um dia, o Estado do Rio esteve coberto pela Mata Atlântica.

Passados cinco séculos de exploração econômica da terra, restam apenas 20% de florestas, restingas e mangues, fragmentados em pequenos e frágeis remanescentes. Existe ao menos um consolo para os fluminenses: no novo levantamento por satélite divulgado ontem pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), feito em oito estados entre 2000 e 2005, o Rio foi o que apresentou menor desmatamento - 6,4 milhões de metros quadrados, menos de 0,1 % do bioma original.

O percentual pode ser considerado mínimo em relação à Mata Atlântica original no estado, mas é o equivalente a cinco Aterros do Flamengo. De acordo com a diretora de Gestão de Conhecimento da SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota, o desmatamento parece baixo em relação aos outros estados - Santa Catarina por exemplo, perdeu 450 milhões de metros quadrados - porque as poucas áreas que restam são protegidas ou estão em encostas inacessíveis. Além disso, o mapeamento feito pelo Inpe tem o detalhamento máximo de 50 mil metros quadrados.

Essa resolução, segundo a pesquisadora, não alcança grande parte do desmatamento ocorrido no estado.

- Muitas clareiras abertas no Rio são menores que o alcance do satélite. Observa-se no estado o que chamamos de efeito formiga, que é a derrubada de partes pequenas da floresta para ocupação imobiliária. A foto não pega esse desmatamento. Ainda assim, identificamos 6,4 milhões de metros quadrados desmatados. Diante desse cenário, a degradação foi grande - disse Márcia.

Costa Verde é a área mais preservada do estado
O pesquisador titular do Inpe, Flávio Ponzoni, explicou que no levantamento foram utilizadas imagens de satélite do sensor TM Landsat 5 e do sensor CCD do satélite Cebers 2.

Ele disse que, possivelmente, o próximo levantamento terá alguns trechos com um alcance mais restrito que o atual, de 50 mil metros quadrados.

- Numa parceria com a China, vamos implantar no satélite Cebers2 uma nova câmera com mais resolução, que poderá identificar desmatamentos em áreas pequeninas - disse ele.

O mapeamento atual revela que a Costa Verde mantém-se como a área mais preservada do estado. O município de Mangaratiba ainda conserva cerca de 92% da Mata Atlântica original. Em Angra dos Reis, o percentual é de 84% e, em Paraty, de 79% - este tem a maior área absoluta ainda preservada: 720 milhões de metros quadrados.

O núcleo mais conservado do estado, no entanto, é também um dos mais pressionados.

- Há grande pressão sobre essa região, por conta da especulação imobiliária que impacta os remanescentes com desmatamentos pequeninos, bem abaixo dos 50 mil metros quadrados mapeados. É bem possível que os desmatamentos estejam ocorrendo lá, mas infelizmente ainda não podemos detectá-los - disse Ponzoni.

Os municípios em que foram detectados os maiores desmatamentos são Resende, com um milhão de metros quadrados perdidos; Araruama (740 mil metros quadrados); e Itaboraí (64 mil metros quadrados).

Na capital, onde restam 18% do bioma, o desmatamento foi de 260 mil metros quadrados.

Os especialistas apontam, além da especulação imobiliária, a ocupação irregular como principal agente de degradação.

O Rio esteve na ponta da lista dos estados que mais desmaiavam a Mata Atlântica no levantamento feito entre 1990 e 1995. Já no estudo subseqüente, de 1995 a 2000, passou ao outro extremo, de estado que menos desmatava, com índice inferior a 1 %.

Atlas mostra remanescentes florestais

Adauri Antunes Barbosa

Floresta que abriga a maior diversidade de vida por hectare no território brasileiro, a Mata Atlântica está reduzida a menos de 7% de sua área original, conforme mostra a nova edição do "Atlas dos remanescentes florestais", divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Fundação Mata Atlântica.

A boa notícia é que a devastação da floresta foi pequena, passando de 7,1 % de sua área em 2000 para exatos 6,98%, embora esse dado seja conseqüência das poucas áreas que ainda restam. Setenta e sete por cento do desmatamento dos últimos seis anos aconteceram em Santa Catarina e no Paraná.

- São regiões extremamente críticas. Esses estados (SC e PR) são campeões por razões políticas, não econômicas. Os ruralistas promovem essa devastação. Grande parte das florestas das araucárias, áreas bem preservadas, está desaparecendo, em grandes extensões. Isso é muito grave - disse Márcia Hirota, coordenadora do atlas pela Fundação SOS Mata Atlântica.

0 atlas mostra que, de 2000 a 2006, foram desmatados 45.419 hectares em Santa Catarina. No Paraná, foram destruídos 28.142 hectares, o que representa 1,34% dos 10,03% que restavam.

Os dados do atlas abrangem Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo, onde estão 80 milhões de hectares, correspondentes a 60% da área total da Mata.

Os dados e mapas do atlas, que podem ser acessados no portal www.sosma.org.br, apresentam de maneira geral a queda do desmatamento. No entanto, segundo Flavio Ponzoni, coordenador do atlas pelo Inpe, essa não chega a ser uma boa notícia.

- A queda se deve muito mais à falta do que desmatar do que à adoção de medidas de preservação. Pense também no relevo. Sobraram remanescentes em áreas de difícil acesso. Creio que não há uma contribuição sincera dos estados - analisou.

Lei aprovada no Congresso pode frear devastação
Novidades incluem criação de fundo e créditos a proprietários de terra com boa gestão ambiental

A Lei da Mata Atlântica, que foi aprovada semana passada no Congresso Nacional e deve ser sancionada nos próximos dias pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, surge como uma esperança para o bioma ameaçado. Algumas novidades da legislação, como a criação de um fundo para recuperação e a concessão de créditos para proprietários de terra com boa gestão ambiental, podem frear o desmatamento.

Para a coordenadora nacional da Rede de ONGs de Mata Atlântica, Miriam Prochnow, os novos mecanismos da lei podem levar à recuperação de áreas hoje degradadas:
- O fundo ambiental criado com a lei, por exemplo, deve financiar projetos de recuperação de áreas muito desmatadas, como as matas ciliares da Bacia do Rio Paraíba do Sul. Outra questão importante é a prioridade no crédito para o produtor ambientalmente responsável.

Isso estimula a prática sustentável e desenvolve o estado.

Outro possível beneficio gerado pela nova lei, segundo a especialista, é a possibilidade de se regularizar o passivo ambiental dos proprietários rurais. Explica-se: a lei da reserva legal os obriga a conservar 20% da propriedade dentro da Mata Atlântica. Agora, quem não tem esse percentual pode comprar uma área do bioma em outra região e doá-la ao governo, em vez de reduzir a produção. A regularização permite que o produtor ganhe certificações ambientais, como a do ISO. Miriam acredita que essa novidade pode beneficiar áreas ainda vulneráveis do Estado do Rio e, principalmente, unidades de conservação com problemas fundiários:

- O Parque Nacional de Itatiaia, por exemplo, ainda sofre com proprietários de terra dentro da unidade.

O texto aprovado da Lei da Mata Atlântica foi considerado correto por ambientalistas, mas algumas lacunas foram abertas por lobbies de ruralistas e da construção civil. O diretor de Mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, que participou da elaboração do projeto, reconhece as limitações da lei na questão da ocupação urbana, considerada um dos principais agentes de desmatamento no estado:

- A lei é, antes de tudo, um reconhecimento da importância da Mata Atlântica para o país. Mas, nesse ponto, realmente a lei não tem o alcance que queríamos, por pressão da indústria imobiliária. Poderia haver, no texto, desconto de IPTU para os construtores que deixassem área verde no lote.

A gerente no Rio da Rede de ONGs da Mata Atlântica, Janete Abrahão, acredita que outros agentes de degradação no estado, como a ocupação desordenada do solo por favelas, o uso indiscriminado das matas ciliares e o solo impactado por vários ciclos econômicos, podem ser minimizados:

- A nova lei pode ajudar a frear o desmatamento, ao estimular a ampliação de unidades de conservação e a restauração de áreas desmatadas.

O Globo, 13/12/2006, Rio, p. 18

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