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26 de Out de 2024
Rio é o único estado do país que ganhou área de floresta nos últimos 39 anos, revela levantamento
Houve expansão na área de Mata Atlântica de 30% para 32% do território, de acordo com dados do MapBiomas
Jéssica Marques
26/10/2024
O Rio de Janeiro se destaca em um cenário ambiental desafiador: tornou-se o único estado brasileiro a registrar aumento em sua cobertura florestal nos últimos 39 anos. Houve expansão na área de Mata Atlântica, bioma no qual está inserido, de 30% para 32% do território - o que equivale a um ganho do tamanho de 87 mil campos do Maracanã. Enquanto isso, no mesmo período, o país como um todo perdeu 33% de suas áreas naturais, fazendo com que a área verde passasse de 20% para 13%. Os dados são do Mapbiomas de 2023, uma iniciativa do Observatório do Clima, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia.
A boa notícia trazida pelo levantamento não consegue dissipar os estragos causados este ano pelas queimadas. Apenas de 11 a 27 de setembro, quando o Rio enfrentou altas temperaturas, o fogo destruiu uma área verde de 2.757 hectares em 16 unidades de conservação, de acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea). De janeiro a agosto deste ano, o Monitor do Fogo do Mapbiomas registrou 37.595 hectares queimados no estado, um aumento de 242,74% em relação ao ano passado inteiro.
Coordenador técnico do estudo e pesquisador do MapBiomas, Marcos Rosa atribui o resultado positivo do Rio à consolidação de projetos ambientais e políticas públicas voltadas para o reflorestamento.
- O Rio de Janeiro é um estado interessante porque, quando olhamos para seu território, vemos que a região tem projetos de replantio há anos. Podemos chegar à conclusão de que a consolidação de políticas ambientais é um dos caminhos para que os processos sejam contínuos - afirmou Rosa. - Todas essas novas áreas não absorvem tanto carbono como uma floresta mais antiga, mas absorvem e fazem a proteção da água, melhorando a qualidade das nascentes.
Impacto no clima urbano
Núbia Beray Armond, geógrafa e coordenadora do observatório do calor, afirma que, embora o resultado seja promissor, continua longe de ser o cenário ideal. A especialista explica que ainda não há estudos que analisem o impacto do reflorestamento no clima urbano:
- O dado de vegetação por si só não tem como nos dar essa resposta de forma linear, principalmente pensando na escala de cidade. Desconheço, hoje, estudos que façam essa relação para o Estado do Rio. Acho que todo município deveria ter estudos que apontassem a melhora efetiva do ar na cidade com base no reflorestamento. Mas é claro que podemos sentir que houve melhoras.
O crescimento vegetal, no entanto, é um testemunho de um compromisso coletivo, envolvendo muitas mãos: comunidades locais, organizações ambientais e governos. Um exemplo é o Parque Estadual da Serra da Tiririca, na Região Oceânica de Niterói, onde um coletivo recuperou seis hectares de manguezal na Lagoa de Itaipu nos últimos 15 anos, com o apoio do Inea.
- Nossa meta é tornar essa região uma área de preservação permanente, melhorar a qualidade da lagoa e expulsar o interesse da expansão imobiliária. Sou nascido e criado aqui. Eu vi essa floresta ganhar forma - afirmou Caio Ferreira, de 29 anos, morador de Itaipu que ajuda no projeto desde 2020.
O Rio está totalmente inserido na Mata Atlântica, um dos seis biomas do Brasil: os outros são Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal. De acordo com o Inea, responsável pela gestão de mais de 40 unidades de conservação, os maiores fragmentos florestais no estado estão concentrados na Costa Verde (Angra dos Reis, Paraty e Mangaratiba) e nas cadeias montanhosas da Serra do Mar. O órgão informou que os maiores ganhos florestais foram em Campos dos Goytacazes (dez mil hectares), Nova Friburgo (8.850 hectares), Teresópolis (6.750 hectares), Rio de Janeiro (6.700 hectares) e Petrópolis (6.450 hectares).
- O mapa destaca onde ocorreu essa regeneração, mostrando a importância de grandes fragmentos florestais como fontes de sementes. A estabilização do desmatamento, como indicado pelo relatório do SOS Mata Atlântica desde 2010, reflete um balanço entre perdas e ganhos, com queimadas e desmatamentos contrastando com o reflorestamento - afirmou Marie Ikemoto, subsecretária de Mudanças do Clima e Conservação da Biodiversidade da Secretaria estadual do Ambienta e Sustentabilidade.
O secretário de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, explica que o resultado positivo das ações de conservação são possíveis pela qualificação do corpo técnico.
- Além do corpo técnico altamente qualificado dos órgãos ambientais do estado, contamos com a tecnologia como grande aliada nessa missão em prol da Mata Atlântica. Com o trabalho de inteligência dos nossos técnicos e sistemas, conseguimos dar uma resposta muito mais ágil e eficaz no combate e paralisação de desmatamento em todo o estado - afirma o secretário.
Conscientização
Na pacata localidade do Parque São Pedro, em Campo Grande, na Zona Oeste, a casa de número 26 chama atenção de quem passa pela rua. A horta cultivada na calçada é regada e podada todas as manhãs pelo aposentado Roberto Paixão, de 72 anos. Ele conta que adquiriu o hábito de cultivar quiabos, abóboras e alface após o projeto Refloresta Rio, da prefeitura, começar uma ação de reflorestamento na Serra da Posse, no bairro, há quatro anos. Em 38 anos de projeto municipal, 3.500 hectares já foram reflorestados. Isso é equivalente a um Parque da Tijuca.
- Moro aqui desde que me entendo por gente. Essa região sempre teve queimadas. Era comum acordar com cinzas espalhadas na varanda de casa. O projeto trouxe uma conscientização ambiental para os moradores. A gente percebe que o clima ficou um pouco mais fresco - afirmou o aposentado.
O projeto Refloresta Rio está espalhado por mais de 76 bairros no Rio, incluindo as favelas da Rocinha, do Vidigal, do Alemão e do Chapadão, além da Vila Kennedy. Ao longo dos anos, foram mais de dez milhões de mudas plantadas, com mais de 360 espécies nativas de Mata Atlântica. Em Campo Grande, a Floresta da Serra da Posse é o campo de cultivo mais recente.
- Nos anos 1980, no início do programa, a gente plantava três ou quatro espécies. Hoje, plantamos mais de cem. A ideia é reflorestar a base da encosta do morro, fazendo um cinturão verde para evitar novos incêndios - explica Peterson Santos Silva, coordenador da restauração ambiental do Refloresta Rio.
Edson Duarte, de 57 anos, é encarregado de coordenar dez colaboradores que diariamente sobem a Serra da Posse para plantar em meio ao clima árido. Com enxadas e pás, o grupo, nas primeiras horas do dia, acompanha o amanhecer do alto do morro com vista para a cidade.
- Dificuldade tem, mas fazemos isso porque gostamos. Queremos ver a floresta ocupar o espaço, recuperar tudo isso aqui para que nossos filhos e netos possam viver em um clima melhor - disse Edson.
https://oglobo.globo.com/um-so-planeta/noticia/2024/10/26/rio-e-o-unico…
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