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Ribeirinhos do Amapá lamentam não poderem mais usar água do Rio Araguari

G1 http://g1.globo.com/
Autor: Fabiana Figueiredo
07 de Mar de 2018

Moradores de 5 comunidades da região conhecida como "Baixo Araguari", no Leste do Amapá, estão convivendo com a falta de água potável para serviços básicos, como tomar banho e lavar roupas. Anteriormente, o rio as abasteciam, mas, segundo eles, com a instalação de hidrelétricas na região, o volume do rio diminuiu, dificultando a coleta da água.

A Companhia de Água e Esgoto do Amapá (Caesa) informou que atende apenas as comunidades urbanas desses municípios.

O Instituto de Meio Ambiente e Ordenamento Territorial do Amapá (Imap) esclareceu que só age quando o prejuízo é causado ao meio ambiente, como ocorreu em fevereiro a mortandade de peixes na região, cuja causa foi uma atividade da hidrelétrica Ferreira Gomes Energia, multada pelo órgão. O instituto também atua quando é acionado por entidades ministeriais, em caso de prejuízos para a população.

Sobre a vazão do rio, das três hidrelétricas instaladas no Araguari, a Ferreira Gomes Energia declarou em nota que a geração de energia hidrelétrica não consome água do rio e que não acumula o líquido, que chega no barramento e é "vertida ou passa pelas turbinas".

Em uma garrafa plástica, o morador Francisco Gomes, de 67 anos, mais conhecido como "Mimi", guarda um pouco da água colhida do Rio Araguari, na comunidade Bom Jesus/Tabaco, no município de Amapá, onde ele mora.

O líquido é escuro, parecido com a coloração da gasolina, e possui um odor forte. Na região também ocorria o fenômeno da pororoca, que perdeu a força com o passar do tempo.

"Ninguém usa mais essa água. A água era boa, era uma delícia, e tinha a pororoca. Ainda tem gente que diz que foi búfalo, mas ele não sabe fazer isso. A água está muito feia, com um cheiro horrível de fedor, pitiú. Quando dá, a gente capta água da chuva para tomar banho e lavar roupa", disse.

De acordo com ele, outras 4 comunidades também sofrem com a falta do fornecimento de água: seguindo pelo rio, encontra-se Pracuúba (em Cutias), a maior delas; Santa Rosa (em Tartarugalzinho), São Paulo (em Cutias) e São Raimundo (em Amapá), a mais distante.

"No São Raimundo a situação é pior, porque lá já secou. Onde era rio, foi secando e está estreito, devido essas hidrelétricas. O igarapé de casa é fundo, não tem problema para atracar, mas depende da maré. Desde quando começou a instalação da hidrelétrica, de lá para cá, não tem mais o que tínhamos", alegou Gomes.

A cada 15 dias, o morador afirma que vai até a área urbana de Cutias, local mais próximo para recolher entre 4 e 5 mil litros de água para a comunidade dele, que tem cerca de 40 moradores. A viagem entre os dois pontos têm duração de 9 horas.

Para a Caesa, as casas dos ribeirinhos são distantes umas das outras e isso impede qualquer tipo de intervenção ou construção de sistemas de abastecimento coletivo.

A Ferreira Gomes Energia informou ainda que "monitora constantemente as vazões [do rio] através de medidores e não registra variações entre a vazão que chega e a que sai da usina".

Até a última atualização desta matéria, as outras duas empresas responsáveis por hidrelétricas no rio ainda não haviam se posicionado quanto aos danos registrados nas comunidades do "Baixo Araguari".

https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/ribeirinhos-do-amapa-lamentam-nao…

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