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Restos de pupunha para bovinos

OESP, Agrícola, p. 9
21 de Jul de 2010

Restos de pupunha para bovinos
Pesquisa no Vale do Ribeira mostra que subproduto da indústria do palmito é rico em proteína para o gado

Fernanda Yoneya

Pesquisa feita no Vale do Ribeira sobre o aproveitamento de resíduos de palmito pupunha na alimentação animal pode ajudar a reduzir o descarte desse material no ambiente e auxiliar pecuaristas a compor a dieta de bovinos e bubalinos em época de escassez de pasto. O resíduo da agroindústria que pode ser aproveitado na dieta de ruminantes é a casca do palmito, ou "bainha", subproduto rico em proteínas e minerais. "Amostras do material in natura apresentaram teores de 9% a 12% de proteína bruta. A cana-de-açúcar não chega a acumular 2% de proteína bruta e um pasto de Brachiaria brizantha bem manejado pode atingir de 5% a 6% de proteína bruta", diz o zootecnista José Evandro de Moraes, pesquisador-científico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta/Polo Regional Vale do Ribeira), vinculada à Secretaria de Agricultura.
Moraes, que estuda há um ano e meio o valor nutritivo e formas de utilização de resíduos do palmito pupunha na alimentação animal, explica que o aproveitamento de um tolete de palmito na indústria é muito pequeno e que a pesquisa pode agregar valor ao subproduto - no Vale do Ribeira, paga-se pelo tolete cerca de R$ 3. "Para se ter ideia da quantidade de material que sobra, de um tolete de palmito a indústria aproveita só 30%. Se a indústria recebe 1 tonelada de palmito, 700 quilos são descartados."
Enquanto a área cultivada era pequena, não havia problema no descarte. "Mas com tendência de aumento de produção de pupunha na região - cerca de 60% nos próximos cinco anos -, esse descarte pode virar um problema."
Falta de pasto. A opção é interessante sobretudo em épocas chuvosas, pois é comum haver inundações e perdas das áreas de pastagens. "A baixa luminosidade, característica da região, torna a recuperação do pasto mais lenta. O resíduo de pupunha pode ajudar a suprir a escassez de pasto", diz o zootecnista. No Vale do Ribeira a pupunha está ocupando antigas áreas de pasto degradado e de bananais comprometidos pela doença sigatoka negra. Hoje, o Estado possui 3.900 hectares de área plantada; deste total pelo menos 80% dos cultivos estão na região. Ao todo, são cerca de 450 produtores, responsáveis por 11 milhões de pés plantados. A região abriga pelo menos oito indústrias processadoras. "A indústria produz, em média, 131 toneladas de resíduos por mês. Por ano, o volume de casca chega a 12.576 toneladas. É um mercado em potencial."
Uma das possibilidades é fornecer a casca de palmito in natura picada, como é feito com a cana e o capim napiê. "Os animais levam cerca de três dias para se acostumar ao novo alimento." Moraes conta que criadores dão o resíduo ao plantel, informalmente. "A aceitação e a pesquisa podem ajudar a organizar esse fornecimento." Por enquanto, a indústria não cobra pelo resíduo e o pecuarista paga apenas o frete.
No segundo semestre, diz Moraes, o foco da pesquisa será a quantidade de resíduo a ser fornecida. "Na prática o gado que consumiu o resíduo à vontade, com acesso ao pasto, não apresentou problemas." Ele estuda também a possibilidade de produzir silagem com o resíduo. "É preciso que a silagem seja bem feita, porque o teor de umidade do subproduto é alto e temos de reduzi-lo de 85% para 30%, 35%. Vamos observar as características nutricionais dessa silagem e ver se o investimento compensa."

Mais informações
José Evandro de Moraes, e-mail joseevandro@apta.sp.gov.br

Para entender
1.
Palmito juçara (Euterpe edulis)
É conhecido como o mais nobre dos palmitos. A palmeira, alvo de extração ilegal, produz um só palmito por colheita (o 1. corte leva de 8 a 12 anos) e concentra-se no que resta da Mata Atlântica.
2.
Palmito açaí (Euterpe oleracea Mart.)
É nativo da Amazônia e começou a ser explorado por causa da extração predatória de palmito juçara na Região Sudeste. Tem consistência e textura mais rígida do que o palmito juçara e o pupunha.
3.
Palmito-pupunha (Bactris gasipaes Kunth.)
Palmeira precoce (2 anos para o 1. corte), dá um palmito branco-amarelado e bem mais doce que as demais espécies.

OESP, 21-27/07/2010, Agrícola, p. 9

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