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Responsabilidade social atrai mercado externo

OESP, Economia, p.B9
10 de Mai de 2004

Responsabilidade social atrai mercado externo
Produtos de empresa de cosméticos naturais estão à venda nos EUA e em Londres

FABÍOLA GLENIA

Empresas socialmente responsáveis têm o objetivo de vender mais do que produtos. Elas procuram difundir noções de ética e, assim, agregar a seu patrimônio valores intangíveis - e preciosos - como reputação, competência e respeito à sociedade e ao meio ambiente.
"Mais que um modismo, trata-se de uma questão de sobrevivência no mercado", aposta o diretor-executivo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, Paulo Itacarambi. De maneira resumida, a expressão serve para definir empresas que se preocupam com o impacto de sua atuação no entorno socioambiental.
"É uma nova ética que está em construção. Cada vez aceita-se menos que uma empresa seja bem-sucedida às custas de malefícios à sociedade e ao meio ambiente. Quem se posiciona com respeito ganha valor", diz.
Toda atividade econômica tem impacto na comunidade, no meio ambiente, na cadeia produtiva. Itacarambi explica que a empresa socialmente responsável analisa esse impacto, procura promover impactos positivos e corrigir os negativos.
Para ele, há uma inquietação no mercado. "A atividade empresarial do jeito que vem sendo feita não necessariamente leva ao bem-estar da sociedade. Há economias crescendo no mundo inteiro e, ainda assim, não se consegue resolver a questão da pobreza."
Responsabilidade social empresarial, porém, independe do tamanho da empresa, do faturamento e do número de funcionários. Tanto que o Instituto Ethos mantém parceria com o Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) há dois anos para, entre outras ações, disseminar esses conceitos entre as micro e pequenas empresas.
No mês passado, lançaram o manual Como fortalecer a responsabilidade social nas relações entre grandes e pequenas empresas que aponta as sete diretrizes básicas do conceito: adoção de valores e trabalho com transparência; valorização dos empregados e colaboradores; atuação em favor do meio ambiente; envolvimento com parceiros e fornecedores; proteção dos clientes e consumidores; promoção da comunidade; e comprometimento com o bem comum.
Mercado - De olho nesse filão, que além de politicamente correto ajuda a abrir novos mercados consumidores, surgiu há cerca de três anos a microempresa de cosméticos naturais e orgânicos Florestas.
Seu sócio-fundador, o doutor em economia Fernando Lima, rendeu-se a uma tendência familiar. Neto de farmacêutico, ele passou a se dedicar, paralelamente ao mundo dos negócios, ao estudo de aromaterapia, cromoterapia e medicina ayurvédica.
"Sempre tive vontade de abrir um negócio próprio. Então, observei essa tendência de crescimento na área de produtos naturais, principalmente no setor de cosméticos", diz. Segundo Lima, uma pesquisa publicada no Nutricion Business Journal, dos Estados Unidos - onde ele mora atualmente -, aponta que, em 2003, o mercado de cosméticos naturais movimentou cerca de US$ 4,1 bilhões. "O setor vem crescendo a uma taxa de 15% ao ano."
Durante dois anos, uma equipe técnica formada pela doutora em produtos fitoterápicos pela Universidade de São Paulo (USP) Adriana de Carvalho Osório, pelo mestrando em química pela USP Jorge Lampe Narciso Júnior e pela química Cecília Márcia Massuia, com mais de uma década de experiência na área de produtos cosméticos, dedicou-se ao desenvolvimento de fórmulas exclusivas.
"Fizemos um estudo intenso das plantas e ervas da Amazônia e a utilização desses ingredientes na cosmética. Queríamos fazer um produto superior, que trouxesse um diferencial para o cliente."
A empresa procura produzir artigos ecologicamente corretos e, para isso, não faz pesquisa em animais, não usa corantes nem fragrâncias artificiais, trabalha com recursos renováveis e investe em produtos feitos com extratos e plantas tipicamente nacionais como buriti, copaíba, açaí, cupuaçu, andiroba, entre outros.
A linha atual de produtos - lançada em setembro do ano passado - é composta de óleos vegetais para massagem, óleos essenciais, sabonetes líquidos, xampus, condicionadores, creme facial e loção corporal pré e pós-sol, além de massageadores de madeira, difusores de pedra-sabão, bucha vegetal e pedra-pome.
A criação da Florestas consumiu recursos da ordem de R$ 500 mil somente no Brasil, e atualmente, emprega dez funcionários. A expectativa de Lima é de exportar em torno de 70% de sua produção. "Estamos crescendo com valores e em sintonia com o mercado internacional."
No Brasil, os produtos Florestas podem ser encontrados em farmácias homeopáticas e de produtos naturais. Em Nova York, já estão disponíveis em cinco pontos-de-venda. Até o fim deste mês, também podem ser vistos no evento Brasil 40o, na loja de departamentos britânica Selfridges.

OESP, 10/05/2004, Economia, p. B9

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