JB, País, p. A6
20 de Jul de 2004
Relatório da OIT aponta 25 mil escravos na Amazônia
Estudo elogia empenho do governo Lula e acusa Estados Unidos de omissão
Cerca de 25 mil pessoas são submetidas a trabalho escravo na região da Floresta Amazônica. A conclusão é de um estudo elaborado pela Organização Mundial do Trabalho publicado ontem no jornal inglês The Guardian. Apesar dos números preocupantes, o texto elogia o empenho do governo de Luiz Inácio Lula da Silva para libertar os trabalhadores e acusa os Estados Unidos de se omitirem no que diz respeito à questão.
O principal problema apontado pelo levantamento é a grande impunidade nas cidades do interior do país. O relatório descobriu uma nova área, em São Paulo, onde imigrantes da Bolívia, do Paraguai e do Peru são submetidos a trabalho análogo à escravidão.
O medo que estes imigrantes ilegais sentem da deportação faz com que se submetam a condições subumanas de trabalho. Segundo o relatório, no Estado de São Paulo, eles trabalham na crescente indústria de confecções de roupas. Muitas vezes essas pessoas são mantidas trancadas durante o trabalho e à noite.
O relatório acusa também os Estados Unidos de estarem se beneficiando da manutenção desse tipo de escravidão, pois 92% do metal utilizado na fabricação do aço produzido na Floresta Amazônica é exportado para engenhos americanos.
A maioria do metal é fundida por trabalhadores forçados, o que transgride um acordo feito pelos Estados Unidos em 1930, que proíbe a importação de mercadoria produzida por trabalhadores submetidos a regime de escravidão.
O coordenador do programa de combate ao trabalho escravo da OIT, Roger Plant, negou que o relatório estivesse sendo ocultado pela organização, conforme acusou o jornal inglês. Segundo ele, o levantamento estava sendo mantido em segredo para que mais estatísticas pudessem ser incluídas para publicação no ano que vem.
- É um excelente relatório, repleto de informações úteis para que o governo americano fiscalize a importação de mercadorias produzidas através de trabalho escravo ou infantil - afirmou Plant.
De acordo com o coordenador do estudo, o levantamento deixa claro que o governo brasileiro está se esforçando para combater a escravidão e que é injusto apontar apenas um país como culpado, já que Peru e Bolívia também têm trabalhadores nessa situação, provavelmente na mesma proporção.
Novas estatísticas mostram que desde a posse do presidente Lula, em janeiro de 2002, 5.400 trabalhadores foram postos em liberdade. Entretanto, a autora do relatório, Jan Rocha, disse no domingo que apesar de o governo ter apertado o cerco no começo, vem cedendo a pressões feitas pelo lobby dos proprietários de terra no Congresso.
O resultado seria a demora da votação do projeto de lei que regulamenta o confisco de terras onde haja trabalho escravo. Jan mencionou ainda o ''escândalo'' que foi a descoberta de trabalho forçado nas fazendas de alguns congressistas que se ''beneficiam da demora da votação do projeto''.
- É impossível ler os relatórios dos inspetores do governo e as entrevistas com os trabalhadores sem não se sentir profundamente envergonhado que no século 21 muitos brasileiros são tratados de maneira pior do que animais - lamentou Jan Rocha.
Ela descreveu ainda como esses trabalhadores vivem em cabanas cobertas com plásticos, sem saneamento básico. No caso dos que trabalham junto a caldeiras, fundindo metal, o calor é excessivo e não há qualquer tipo de proteção.
- Às vezes, trabalham sete dias por semana e são recrutados com a promessa de bons salários, mas depois que caem na armadilha, percebem que já estão endividados - contou Jan.
DPA
JB, 20/07/2004, País, p. A6
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