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Rede de Sementes do Xingu promove encontro e associação realiza primeira assembleia

Instituto Socioambiental - ISA - www.socioambiental.org
Autor: Rafael Govari
17 de Ago de 2015

Assembleia e XII Encontro Geral da Rede de Sementes do Xingu aconteceram em Nova Xavantina (MT) com a apresentação de resultados, conquistas e planejamento dos próximos passos

A Associação Rede de Sementes do Xingu (ARSX) realizou entre 6 e 8 de agosto em Nova Xavantina-MT, sua primeira assembleia e o XII Encontro Geral da Rede. A programação foi variada. Incluiu conversas sobre o futuro da associação a partir da eleição da nova diretoria, avaliação da Campanha Y Ikatu Xingu, troca de experiências entre núcleos de coletores, preços das sementes, novos mercados e atividades culturais.

O coordenador do Programa Xingu do ISA (Instituto Socioambiental), Rodrigo Junqueira, um dos idealizadores da Rede, falou sobre o futuro da organização, que é promissor por conta da possibilidade de seu ingresso em novos mercados (cosmético, farmacêutico, culinário e artesanato). Além disso, o cenário político esteve na pauta, com a meta do governo federal de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, o que irá aumentar a demanda por sementes florestais em todo o Brasil.

"Mais concretamente, no cenário da demanda da região do Xingu-Araguaia, existe uma expectativa quanto ao aumento nos projetos de sequestro de carbono, iguais às ações já implementadas nos municípios de São José do Xingu e de Santa Cruz do Xingu, onde existem áreas em processo de restauração com sementes produzidas pela Rede de Sementes do Xingu", explicou Junqueira.

No ano de 2014, foram produzidas 17,5 toneladas de sementes florestais de 124 espécies florestais da região Xingu-Araguaia, gerando uma renda de R$ 344.000,00. Conforme pesquisa realizada pela Rede e apresentada pelo consultor do ISA, Danilo Ignacio Urzedo, a grande maioria das sementes comercializadas é destinada para restauração florestal, principalmente pela técnica de semeadura direta e também por meio da produção de mudas. "A pesquisa mostrou também que os compradores adquirem sementes da Rede do Xingu por conta da diversidade de espécies ofertadas, quantidade, preço, mas principalmente pela base social que forma a Rede", falou.

Para entrar em novos mercados, isso requer esforços iguais ou até maiores aos que já vêm sendo empregados para garantir a qualidade das sementes até então utilizadas apenas para a restauração. Lembrando que a coleta de sementes para reflorestamento também é motivada pela contribuição para a conservação do meio ambiente. Em meio às conversas, os indígenas do Parque Indígena do Xingu reafirmaram que trabalham como coletores principalmente porque essas sementes irão se converter em florestas - boa parte delas empregadas na restauração de áreas na região do Xingu-Araguaia, no entorno do Parque e onde ficam as nascentes do Rio Xingu.

Porém, nem todas as sementes apresentam padrão de qualidade para serem utilizadas para o plantio e acabam sendo descartadas, podendo ser utilizadas para outros fins. Isso envolve algumas estratégias - alguns coletores produzem farinha de baru com as sementes de baru danificadas e que não podem ser plantadas. Outras sementes descartadas também podem ser utilizadas para o artesanato. Portanto, pode-se alcançar novos mercados sem sair do objetivo principal.

Sementes para Artesanato

Mônica Carvalho era professora de inglês no Rio de Janeiro até 1998, quando conheceu uma artesã em um quilombo de Minas Gerais e aprendeu a tramar cesto com o pai dela. Quando voltou ao Rio levou material, começou a fazer artesanato e a vender para seus alunos. Hoje ela comercializa artesanato e bijuterias feitas com sementes e outros produtos da natureza, para o Brasil e para o exterior. Mônica falou para os coletores sobre esse novo mercado.

Atualmente, a maior parte da produção da artista é vendida para estrangeiros. "Precisou ir lá para fora para ser reconhecido aqui no Brasil. É um complexo de 'colonizado' achar que o que vem de fora é mais bacana do que o que está aqui dentro", disse Mônica, explicando que a partir disso seu trabalho ganhou mais projeção e é reconhecido como referência nesse ramo. Seu ateliê produz quadros, esculturas, objetos de casa e bijuterias.

A maior dificuldade enfrentada por Mônica é formar uma rede de fornecedores de sementes florestais sustentáveis e manter a qualidade no produto. "Por isso eu estou tão feliz de estar aqui, porque estou vislumbrando a oportunidade de, no futuro, ter fornecedores conscientes, de qualidade, sustentáveis e até chegar a ter um selo verde. Eu estou encantada pelo projeto [Rede]".

Mônica explicou também que esse mercado requer clientes que valorizem os produtos feitos com sementes. "Até conseguir esse cliente que eu tenho na Inglaterra, um costureiro, super chique, que valoriza o trabalho",conta ela. "É esse tipo de gente que a gente tem que procurar, uma parceria que agrega valor e que mostra que as sementes são, na minha opinião, pedras preciosas. Se você pegar uma semente que não é beneficiada e polir, aquilo se transforma numa semente linda e não requer muito técnica", afirmou.

A Rede pelos Coletores

Um espaço especial no Encontro permitiu que os núcleos de coletores apresentassem as suas histórias, forma de organização local e resultados da atividade de produção de sementes. Conheça algumas dessas trajetórias:

Ronaldo Nogueira da Silva tem 52 anos, mora em Santa Cruz do Xingu(MT) e é coletor de sementes florestais há oito anos. Ele contou que mora na região desde 1971 e vem percebendo mudanças no meio ambiente da região. "A quantidade de água que tinha, a quantidade de floresta, a quantidade de peixe e de bicho do mato, essas coisas que mudaram. E aí eu tinha na minha mente, através da diminuição de tudo isso, eu pensava como poderia mudar essa situação. Conheci a Campanha Y Ikatu Xingu e o que eu pensava estava acontecendo, havia a oportunidade de ajudar e disse: coletor eu quero ser".

http://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/rede-de-se…

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