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Reciclagem na capital

FSP, Editoriais, p. A2
30 de Jan de 2010

Reciclagem na capital
Coleta seletiva de lixo é ineficiente na maior cidade do país; 35% dos detritos reaproveitáveis acabam indo para aterros

Quem vê os milhares de garrafas plásticas de refrigerante a entupir rios e córregos pelo Brasil afora, neste verão incomumente chuvoso, não imagina que o país ostente o segundo maior índice de reciclagem do material. Com 54,8% alcançados em 2008, só fica atrás do Japão (69,2%). A União Europeia, com toda sua tradição ecológica, reaproveita meros 46%.
No que respeita às latas de alumínio, recicla-se por aqui mais de 90% do total em circulação, recorde mundial. Tal desempenho se explica por vários fatores, a principiar pelo alto gasto de energia na fabricação do alumínio e consequente vantagem econômica da reutilização.
O sucesso do alumínio decorre também, por outro lado, da abundância de brasileiros pobres, para os quais os centavos angariados com latinhas podem pesar no orçamento familiar. O trabalho informal e precário daqueles que antes se chamavam de "garrafeiros" evoluiu, a partir de experiências pioneiras como a de Belo Horizonte, para cooperativas de catadores integradas num esquema empresarial de coleta seletiva.
Calcula-se que 800 mil catadores trabalhem hoje nessas redes. Graças a eles, 12% do lixo urbano no Brasil termina reciclado. São 6,4 milhões de toneladas de um total aproximado de 55 milhões, segundo estimativa para 2007 da organização Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre). Em 2008, uma população de 26 milhões de pessoas tinha acesso à coleta seletiva de lixo reciclável em 405 municípios (em 1994, eram só 81 cidades).
Na cidade de São Paulo, 6 milhões de 11 milhões de habitantes contam com coleta seletiva na porta de casa. Acesso ao serviço, contudo, não garante que ele seja eficiente. Estima-se que só 7% das 17 mil toneladas diárias de lixo domiciliar paulistano acabem de fato na reciclagem.
Nem todos os paulistanos, decerto, chegaram já à consciência de que separar o lixo reciclável beneficia a todos. Na pior das hipóteses, a reutilização reduz a necessidade de criar mais aterros sanitários e o entupimento de bueiros, galerias pluviais e córregos canalizados, uma das razões das enchentes. Mas há ineficiências mais urgentes a combater, que podem e devem ser enfrentadas pela prefeitura.
Reportagem da Folha revelou que mais de um terço (35%) do lixo reciclável separado pelos moradores acaba nos aterros sanitários, onde se mistura com dejetos inaproveitáveis e poluentes. O principal motivo do desperdício é técnico: caminhões utilizados por empresas coletoras fazem prensagem excessiva dos resíduos, para carregar mais peso em cada viagem.
Ora, essa prática impossibilita sua separação nas cooperativas (por exemplo, plásticos de metais). Compete à prefeitura exigir das concessionárias Loga e Ecourbis o cumprimento da norma de não carregar os veículos com mais de três toneladas.
Como cidade mais rica do país, São Paulo tem de dar o exemplo. Precisa contribuir -inclusive por sua escala- para elevar o baixo percentual brasileiro de reciclagem dos detritos urbanos.

FSP, 30/01/2010, Editoriais, p. A2

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