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Quartiero dá entrevista marcada por xenofobia e ódio aos indígenas

BNC- http://roraima.bncamazonia.com.br
18 de Abr de 2017

O governador em exercício de Roraima, Paulo César Quartiero (DEM), disse em entrevista coletiva concedida à imprensa nesta segunda-feira (17) que demitiu o secretário do índio, Dilson Ingarikó, e adjunto, Hugo Cabral, por traição ao Estado de Roraima. "Ele [Dilson Ingarikó] apoiou e apoia a demarcação de novas áreas indígenas em Roraima", justificou. Quartiero anunciou que Silvestre Leocádio, ligado à Sociedade dos Índios Unidos de Roraima (Sodiur), entidade indígena alinhada com o agronegócio, será o novo titular da pasta. Ainda nesta segunda-feira, Quartiero fez uma visita ao presidente da Assembleia Legislativa, deputado Jalser Renier (SD).

A entrevista concedida por Paulo César Quartiero, como sempre ocorre, foi cheia de afirmações polêmicas e respostas truculentas, muitas delas marcadas por forte traço de xenofobia e preconceitos contra os venezuelanos e os povos indígenas. Quartiero defendeu, por exemplo, o endurecimento da relação do estado com os venezuelanos que fogem da crise econômica que assola o país vizinho

Para ele, na Venezuela não existe "toda essa crise que a imprensa brasileira alardeia". Ele disse ter visitado o país fronteiriço e encontrado uma situação melhor que em alguns lugares do Brasil. "Eu vi lojas abertas, outras sendo construídas. Vi as pessoas comprando", afirmou. Quartiero afirmou que miséria mesmo existe em Pacaraima, cidade vizinha à Venezuela que tem recebido centenas de migrantes que vivem em condições subumanas nas ruas locais

Paulo César Quartiero se colocou contra a decisão do Governo de Roraima receber bem os venezuelanos. Para ele, questões humanitárias devem ficar a cargo da ONU. "Nós estamos no limite. Temos que ajudar é o nosso povo. A população tem que se conscientizar e deixar de dar alimento, de dar apoio, porque isso aí vai nos levar à desgraça. Porque quanto mais se dá, mais vai vir gente. Nós vamos chegar ao limite e somos nós que vamos ficar pior que eles" afirmou.

O governador em exercício disse que os venezuelanos que estão vindo para Roraima em busca de abrigo "são pessoas que há 30 anos vivem de bolsa família da Venezuela". São, segundo ele, "pessoas que desaprenderam a trabalhar". "Temos que fortalecer o nosso estado. Nosso compromisso é o nosso estado", pregou, citando Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, de quem disse ser admirador.

Ações contra a Polícia Rodoviária Federal e a Funai

Em outra afirmação polêmica, Quartiero disse que planeja mover ações contra a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e contra a Fundação Nacional do índio (Funai) pelos prejuízos causados a Roraima. Para ele, a PRF tem prevaricado em sua missão ao permitir o fechamento da BR 174, na barreira do Jundiá, todos os dias a partir das 18h, impedindo a passagens de carros rumo ao Amazonas. O governador em exercício disse que Roraima tem tido prejuízo incalculável com a medida e, por isso, pensa em pedir indenização do Governo Federal pelos danos causados

Quanto à Funai, Quartiero disse que cabe uma responsabilização pelos entraves causados à construção do Linhão de Tucuruí, o que tem deixado o estado refém da instabilidade energética e fora do Sistema Interligado Nacional (SIN). "Não sei se vai dar tempo, mas eu pretendo mover essas ações", afirmou

"Sem energia nada vai funcionar em Roraima. Podemos esquecer desenvolvimento, pecuária. Roraima é o único estado que não está interligado ao Sistema Interligado Nacional (SIN)", disse. O governador em exercício disse que essa situação é prova inconteste da incompetência da classe política de Roraima. "Eu também faço parte dessa classe política", destacou.

Ao falar sobre seu futuro político, Paulo Quartiero disse que não tem a intenção de se candidatar a nenhum outro cargo eletivo. Afirmou ter embarcado em dois projetos políticos que não deram resultado e não tem mais interesse em ser candidato a nada. Disse que ao se unir à chapa de Suely Campos, no pleito de 2014, pretendia ocupar uma função no governo que lhe permitisse reestruturar o setor produtivo do estado, mas isso não deu certo. "Se você analisar, minha carreira política foi um desastre", frisou.

Sobre o governo de Suely

Durante toda a entrevista, Paulo Quartiero evitou dar declarações polêmicas sobre o governo de Suely Campos e se esquivou de perguntas sobre a sua relação política com a governadora. Disse que os motivos que o levaram a romper com o governo em 2015 foi um fato que ficou no passado e que não devia ser reavivado para não criar animosidade entre ele e o governo. Foi rude com os repórteres que insistiram no assunto.

Paulo Quartiero disse que continua "não concordando com o governo dela [Suely], mas torço para que o governo dela dê certo. Torço para estar errado nas minhas opiniões". Disse que Suely Campos tem se esforçado para acertar. O governador em exercício afirmou que vai procurar fazer o menos possível, de forma a não criar embaraços para a governadora. Disse que irá atuar em questões pontuais. Numa declaração, no mínimo curiosa, ele afirmou que "apesar de ficar apenas uma semana em Roraima [o seu governo] não será o mesmo governo. Será outro governo".

Em outra declaração truncada, Paulo César Quartiero afirmou que "a vice-governadoria não é dependente do governo. É autônoma", esquecendo-se que ele só foi eleito vice governador porque fez parte da chapa da governadora. Do contrário, não teria nenhuma participação no poder em Roraima. Depois, amenizou seu discurso e afirmou que iria ficar em Roraima "esses poucos dias sem procurar criar nenhum fato extraordinário que vá atrapalhar a administração.

Em outro momento disse que o fato de descordar da governadora não quer dizer que ele esteja certo. "A alternativa econômica que tem em Roraima é o governo. Qualquer abalo prejudica a população. E Roraima não aguenta mais governos fracassados. Eu acho que a governadora tem melhorado, tem se esforçado e mostrado condições de levar Roraima para o lugar que a gente sempre deseja", ressaltou.

Instado a falar sobre a questão indígena, Paulo Quartiero se recusou, a princípio, a falar sobre o assunto. Depois, desandou a criticar os indígenas e aqueles que os defendem. "Estou a Roraima há 40 anos e só se fala nesse assunto [a questão indígena]. Esse assunto é o meu carma". E continuou: "O governo, a população e os indígenas de Roraima foram enganados. Disseram que haveria projetos de desenvolvimento para os indígenas e não teve.

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