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Proteção para o mar

O Globo, Planeta Terra, p. 15
Autor: EGIT, Alexander
15 de Mai de 2012

Proteção para o mar

Entrevista: Alexander Egit

Graça Magalhães-Reuther
ciencia@oglobo.com.br
BERLIM CORRESPONDENTE

Integrante da delegação austríaca na Rio-92, Alexander Egit, do Greenpeace, vê um acordo de proteção dos oceanos como um possivel marco da Rio+20. Mas o ecologista adverte, em entrevista ao GLOBO, para que o uso do conceito de economia verde, um tema central da conferência, seja detalhado para que não passe a servir apenas de etiqueta para as grandes empresas.

O GLOBO: Quais são as expectativas das ONGs europeias para a Rio+20?

ALEXANDER EGIT: As nossas expectativas não são muito grandes, e os preparativos dão motivo para pessimismo. Diferentemente da cúpula de 1992, os preparativos agora são difusos. Até na definição da pauta de discussões há pouco consenso. Será muito importante se for negociado um acordo de implementação de proteção ao oceano, da convenção dos direitos marítimos. Atualmente, apenas 1% das áreas marinhas é protegida. Nós precisamos, porém, de 40%. No alto-mar, não existe até agora nenhum tipo de proteção ao meio ambiente. Por isso, um acordo, para o qual eu vejo chance, seria muito importante. Outra medida é a valorização do Programa do Meio Ambiente das Nações Unidas (Pnuma, com sede em Nairóbi, no Quênia). Ou seja, eu espero que o Pnuma deixe de ser um programa para tornar-se uma organização autônoma, como outras da ONU. Um outro tema importante, onde não espero decisões mas pelo menos discussões, são os subsídios que resultam na destruição do meio ambiente.

O GLOBO: O senhor poderia especificar?

EGIT: Nós calculamos que U$ 1 trilhão são investidos no mundo inteiro em medidas e programas que resultam na destruição do meio ambiente, sendo que a metade ocorre no setor da energia. Um tema central no Rio será a economia verde. Nesse caso, nós, do Greenpeace, temos uma posição muito crítica, porque o conceito é usado por muitas empresas como uma etiqueta, sem conteúdo. As empresas destroem o meio ambiente, em parte até com subsídios, mas usam uma capa verde para se definir como verde. Uma etiqueta verde para continuar destruindo o meio ambiente não é o que desejamos. É importante que seja definido porque até agora trata-se apenas de uma palavra vazia. Vejo o risco de uma agenda de transferência da proteção à natureza e desenvolvimento sustentável para as empresas privadas. No caso da proteção às espécies e alguns outros setores, não é possível uma abordagem econômica e, por isso, é importante o controle do Estado.

O GLOBO: Como avalia hoje, 20 anos depois, os resultados da Rio-92?

EGIT: A Rio-92 foi, sem dúvida, um marco importante, que abriu novos caminhos no sentido do desenvolvimento sustentável e da convenção de biodiversidade. O processo é lento. Muito do que foi iniciado há 20 anos ainda não foi concretizado. Ainda hoje, observamos uma perda dramática da biodiversidade e desertificação de grandes regiões. O balanço dos últimos 20 anos é mais negativo do que positivo.

O GLOBO: Como o senhor explica um resultado tão tímido depois de tantas conferências?

EGIT: O processo é lento porque trata-se de um processo com grandes implicações econômicas. Depois de uma fase de um certo entusiasmo, nos anos 90, observamos hoje um retorno ao nacional, muitas vezes até ao regional. No caso dos Estados Unidos, observamos um distanciamento cada vez maior da política multilateral. Países emergentes, como a Índia, demonstram pouco interesse em proteção ao meio ambiente.

O GLOBO Há 20 anos, o encontro do Rio contou com mais participação de chefes de Estado e de governo que o esperado para agora. Isso significa um esvaziamento de importância dacúpula?

EGIT: Certamente que o significado da conferência de junho não é tão grande quanto o do encontro que ocorreu 20 anos antes. Acho que o número de chefes de Estado vai ser bem menor do que 120. Obama não vai. Merkel também não. Serão poucos os líderes dos países do primeiro mundo que vão comparecer. Trata-se de um sinal muito negativo. Imagine que se trata de uma cúpula com o objetivo de traçar o futuro do planeta e os líderes das nações mais importantes não estão presentes. Trata-se de uma perda dramática de importância.

O Globo, 15/05/2012, Planeta Terra, p. 15

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