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Projeto quer inovar educação indígena

A Crítica, Cidades, p. C4
30 de Jan de 2004

Projeto quer inovar educação indígena

Uma equipe de antropólogos e educadores locais acaba de elaborar documento inédito que pretende revolucionar a educação escolar indígena no Amazonas. Trata-se de propostas que norteiam o curso de treinamento e capacitação de professores das redes municipal e estadual da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), o Proformar, desenvolvido em parceria com as prefeituras municipais.
O documento é mais um passo dado para se chegar ao texto base de um projeto político/pedagógico com conteúdo específico, calendário próprio e metodologia de ensino que concilie educação indígena e etnodesenvolvimento. "A educação indígena hoje faz parte do conteúdo curricular de formação dos professores estadual e municipal", explicou o antropólogo Ademir Ramos, coordenador do grupo de trabalho que elaborou os itens propostos para o curso de formação. No esquema de formação docente da educação indígena atual, segundo o antropólogo, a valorização do conhecimento tradicional será preservada na essência, assim como a diversidade cultural. "A escola é plural, devendo ser um espaço da interculturalidade, e tem de ser implantada somente aonde o contato entre povos indígenas e o branco foi mais intenso", explicou Ramos, para quem é importante sensibilizar os professores que irão trabalhar com as comunidades para o saber e a propriedade intelectual indígena. "0 conhecimento do pajé tem valor", observou.
0 pesquisador considera ainda que a educação indígena deve ser levada a cabo sob a perspectiva de política pública. "E dever do Estado oferecer as condições mínimas necessárias para que as comunidades indígenas tenham acesso à escola", comentou Ramos, que defende mais sintonia entre as esferas estadual, municipal e federal para investimentos em educação indígena.
"Hoje a escola indígena está focada no ensino de 1ª. à 4a. série. Então, há uma demanda reprimida de 5a até 8a e no ensino médio", explicou o pesquisador, sugerindo, em seguida, verbas próprias do orçamento para atender à demanda. Ramos acha que o modelo de escola indígena hoje na região está mais para rural, porque não leva em consideração as particularidades de cada etnia, até mesmo no quesito arquitetura.
Ainda assim, o antropólogo diz que o Amazonas serve de referência de educação indígena no país, sobretudo na parte de gestão "Temos em nível estadual uma gerência de educação indígena, um conselho de educação e uma fundação do política indigenista, com representantes das mais diferentes etnias. Falta apenas capacidade de articulação para políticas públicas e autonomia para capitar recursos", afirmou.
Os especialistas que elaboraram as novas proposições para a educação indígena local atestaram uma população escolar próxima aos 50 mil alunos indígenas, 600 escolas e 1200 professores que lecionam no esquema multiseriado. De acordo com o último censo demográfico, o Amazonas concentra a maior população de índios do Brasil, com cerca de 120 mil, espalhados entre 60 grupos étnicos diferentes.
Considerando números tão expressivos, de acordo com Ramos, os desafios mais breves seriam: disponibilizar recursos para a política editorial dos conteúdos elaborados pelos próprios professores indígenas em oficinas pedagógicas.
Proformar será aplicado ao vivo
Com uma nova dimensão pedagógica e estrutural, o programa de educação indígena do Proformar será aplicado, ao vivo, diretamente dos estúdios de tevê da UEA, de 20 até 28 de julho de 2004, abrangendo 61 municípios, simultaneamente, em aulas semipresenciais. Os professores titulares repassam em tempo real o conteúdo previsto diretamente dos estúdios e as dúvidas serão esclarecidas por meio de fax, e-mail, com o auxilio de professores em cada localidade. Será utilizada no processo toda uma tecnologia de comunicação para que as aulas sejam eficientes do ponto de vista didático e o público-alvo assimile o conhecimento em questão. A estratégia de repasse do conteúdo do curso será amarrada na exposição dos conteúdos,
discussão temática e análises de casos, a partir das demandas de cada grupo étnico indígena. Mas, até o início do curso, o foco será dado ao processo de publicação das propostas elaboradas pelos especialistas comandados por Ademir Ramos. Além de proposições do ponto de vista pedagógico, o grupo de trabalho traz um diagnóstico completo da realidade da educação indígena no Estado, com demandas e entraves do processo de ensino das populações. O documento inclusive serviu de referência para análise de técnicos do Ministério da Educação e Cultura (Mec), quando estes estiveram em
Manaus, no fim do ano passado. Nos mesmos moldes do Proformar, professores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), entre eles o próprio Ademir Ramos, ministrarão um curso de educação indígena nos municípios de Maués (a 267 quilômetros de Manaus) e Benjamin Constant (1.116 quilômetros distantes da capital). A diferença é que a ênfase será dada ao ensino de 1 a à 4Q série. O curso foi viabilizado por meio de convênio entre Suframa e as prefeituras das referidas localidades, e acontece entre os dias 2 e 7 do próximo mês.

A Crítica, 30/01/2004, Cidades, p. C4

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