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Projeto busca convivência pacífica entre homens e carnívoros no Parque Nacional da Serra do Itajaí

ICMBio - www.icmbio.gov.br
Autor: Márcia Neri - marcia.neri@icmbio.gov.br
27 de Fev de 2009

Atentos aos problemas que ameaçam os mamíferos carnívoros no Parque Nacional (Parna) da Serra do Itajaí, porção remanescente de Mata Atlântica em Santa Catarina, os analistas ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e colaboradores que atuam na unidade desenvolveram o Projeto Carnívoros. O objetivo é garantir a proteção de espécies vulneráveis à extinção, como a onça parda (Puma Concolor), minimizando os conflitos entre os predadores naturais e as comunidades que residem nas proximidades do parque.

O Parque Nacional da Serra do Itajaí ocupa uma área de 57 mil hectares do leste catarinense. A preocupação dos gestores da unidade em aumentar a possibilidade de sobrevivência dos carnívoros ameaçados foi reforçada após as avaliações ecológicas para a elaboração do Plano de Manejo do parque, iniciado em 2006. Os estudos constataram que, das 69 espécies de mamíferos identificadas no parna, 11 são representantes da ordem Carnívora, dos quais 40% constam na Lista Brasileira da Fauna Ameaçada de Extinção.

A unidade de conservação abrange nove municípios e 32 comunidades que ocupam o seu interior e a zona de amortecimento. "Com os estudos desenvolvidos durante a elaboração do Plano de Manejo, observamos que muitos pesquisadores tinham grande conhecimento da região e das espécies que habitam essa área. Isso nos incentivou a buscar parcerias, submeter a proposta ao PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e implementar esse projeto", explica Fábio Faraco, chefe do PNSI.

CONFLITOS - A bióloga e consultora do PNUD envolvida no projeto, Cíntia Gizele Gruener, lembra que a biodiversidade, particularmente a fauna de carnívoros, é constantemente ameaçada por conflitos com a população humana em diversos lugares do mundo. Na Serra do Itají, não é diferente. A área do entorno e do próprio interior do parque é habitada por pequenos produtores rurais de média e baixa renda.

Na região, são desenvolvidas atividades agropastoris que envolvem principalmente a criação de bovinos, ovinos, além de avicultura, apicultura e piscicultura. "Estas atividades atraem os carnívoros. Como as presas naturais têm sofrido grande pressão de caça, a disponibilidade de animais domésticos tem se tornado um novo recurso alimentar, ocasionando danos ao rebanho e severos prejuízos aos produtores rurais. O fato gera uma perseguição aos predadores pelos proprietários lesados, inclusive de espécies ameaçadas de extinção como a onça-parda", relata a pesquisadora.

ETAPAS - O Projeto Carnívoros será executado em etapas. Na primeira fase, em curso desde janeiro, os pesquisadores realizam trabalho de campo para avaliar a percepção das comunidades locais a respeito do parque e das espécies que precisam ser preservadas. "Vamos até as propriedades, entrevistamos os moradores, identificamos os problemas e propomos soluções, sempre considerando os aspectos sociais, econômicos, culturais e ecológicos da região. Com isso, incentivamos as pessoas que habitam regiões próximas a áreas naturais a se envolverem com a conservação. É um trabalho de conscientização em relação à finalidade de um parque nacional", afirma Cíntia.

A partir das entrevistas, a equipe de campo mapeia as propriedades do interior e da zona de amortecimento do Parna que apresentam predação de suas criações domésticas por onças pardas e outros carnívoros. Em seguida, são sugeridas medidas, de acordo com cada caso, para que os conflitos entre os predadores, os rebanhos e os moradores sejam minimizados ao máximo.

O trabalho dos pesquisadores apenas começou, mas a equipe que integra o projeto tem a exata dimensão da importância das informações que estão sendo coletadas. "Até o momento, entrevistamos 30 famílias. Parece pouco, mas o trabalho já nos dá a certeza de que expandiremos muito nosso conhecimento a respeito da zona de amortecimento e do interior da UC", adianta o chefe do parque. "Saberemos quem são as pessoas e o que pensam da unidade, de sua fauna e dos problemas referentes a ela. Obviamente, estamos também apresentando o parque aos moradores da região. Muitos ainda acreditam que a função dos gestores de unidades de conservação é apenas fiscalizar. Vamos estreitar esse contato e desenvolver medidas preventivas para evitar a extinção dos mamíferos que habitam a unidade", acrescenta Faraco.

PRESERVAÇÃO - Para a bióloga do PNUD, o levantamento é realmente fundamental para a preservação dos carnívoros. "Pelo que apuramos até agora, está claro que a ameaça a esses animais, especialmente da onça-parda, está diretamente ligada à falta de informação. Os agricultores desconhecem o real papel destas espécies na manutenção do ecossistema", alerta Cíntia.

A conclusão da primeira fase do Projeto Carnívoros está prevista para novembro de 2009. "Começaremos em breve a instalar armadilhas fotográficas para o monitoramento dos carnívoros, atividade que dará início a uma segunda etapa dessa empreitada", acrescenta a pesquisadora.

O objetivo dos pesquisadores é estimar a população de onças pardas que vivem no interior e arredores do PNSI e obter parâmetros do uso do espaço pela espécie. "Iremos identificar áreas de interesse para a manutenção da onça parda na unidade de conservação e elaborar um protocolo para o monitoramento contínuo desses carnívoros. Servidores da UC serão capacitados para monitorar o local e reforçaremos o trabalho de conscientização em escolas, associações de moradores e sindicatos rurais", revela Cíntia Gruener.

Estudos indicam que o estado de Santa Catarina era constituído em 95% por Floresta Atlântica. Segundo estudos que fundamentam o projeto Carnívoros, atualmente restam apenas 17% de remanescentes florestais. Desde a colonização do Estado, a ação do homem tem sido responsável pela descaracterização, por meio da exploração descontrolada das florestas para extração de madeira e atividades agro-pastoris.

O Projeto Carnívoros conta com o apoio financeiro do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e suporte técnico do Centro Nacional de Pesquisas para a Conservação de Predadores Naturais (CENAP/ICMBio), além do auxílio de instituições catarinenses interessadas nos estudos e na preservação da biodiversidade do local.

Ascom ICMBio
(61)3316-1977

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