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Projeto ajuda a preservar Serra do Mar

OESP, Agrícola, p. 9
16 de Jul de 2008

Projeto ajuda a preservar Serra do Mar
Em Ubatuba, colheita de 2 mil quilos de frutos rende 1.300 quilos de sementes para polpa e replantio em parque

João Carlos de Faria

A merenda escolar da rede municipal de Educação de Ubatuba, no litoral norte paulista, vai receber em breve um reforço significativo, vindo de uma nova proposta de sustentabilidade para a Serra do Mar. Cerca de 700 quilos de polpa de juçara serão acrescentados à dieta dos alunos em forma de suco, com propriedades altamente nutritivas para o organismo das crianças, sendo também um passo muito importante para o futuro do meio ambiente naquela região.

A polpa vendida para a prefeitura é parte da colheita da safra do juçara - no ano passado já houve uma primeira experiência -, mas é a primeira com plano de manejo aprovado pela Fundação Florestal e uma estrutura de processamento de frutos aprovada pela Vigilância Sanitária.

MANEJO SUSTENTÁVEL

O plano faz parte de outra ação para combater a extração ilegal do palmito juçara, o projeto Educação Agroflorestal para o Manejo Sustentável nas Comunidades Tradicionais da Mata Atlântica, financiado pelo Subprograma PDA/Mata Atlântica do Ministério do Meio Ambiente e é executado pelo Instituto de Permacultura da Mata Atlântica (Ipema), com sede em Ubatuba.

A proposta visa a coleta de frutos de juçara no entorno e no interior do Parque Estadual da Serra do Mar e está vinculada a uma pesquisa para avaliar os impactos da atividade. A aprovação do plano de manejo possibilita que as comunidades que vivem no interior do parque possam ter renda com o manejo sustentável da floresta e agroflorestas.

As ações de produção de polpa de juçara estão sendo desenvolvidas em cinco comunidades tradicionais de Ubatuba: Ubatumirim, Quilombo do Camburi, Quilombo da Fazenda, Aldeia Indígena Boa Vista e Corcovado.

Segundo o coordenador do projeto, Luciano Corbelini, do Ipema, uma segunda fase, no valor de R$ 350 mil, está sendo negociada com o ministério, para estender o projeto para os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro, formando a Rede Juçara. "Além do Ipema, estão envolvidas outras 12 entidades que trabalham diretamente no processamento da polpa, de caráter socioambiental atuante, com foco na agricultura familiar e tradicional e a sustentabilidade da Mata Atlântica", explica Corbelini.

COMUNIDADES COMEMORAM

A colheita deste ano, apesar da quebra de cerca de 30%, por causa do excesso de chuva, que impediu que a coleta dos frutos fosse feita a tempo, e por causa de alguns problemas de manejo, deixou animadas as 13 famílias que fazem parte do projeto. No total foram colhidos este ano cerca de 2 mil quilos de frutos, com rendimento de mil quilos de polpa e 1.300 quilos de sementes para serem plantadas, repovoando a região.

"Foi a melhor coisa que aconteceu para a comunidade", afirma entusiasmada a agricultora Laura de Jesus Braga, moradora do Sertão da Fazenda, um remanescente quilombola, onde vivem mais de 40 famílias. Muitas dessas famílias, segundo ela, viviam do corte clandestino do palmito, única alternativa de renda que lhes restava. A comunidade colheu 115 quilos de frutos, o que deve resultar em 50 quilos de polpa e cerca de 75 litros de suco.

A produção será congelada, para ser vendida aos turistas na temporada, na praia, numa lanchonete cedida à comunidade pela administração do Parque Estadual da Serra do Mar. "No ano passado nós já vendemos e a aceitação foi muito boa", revela Laura.

Informações: Ipema, tel. (0--12) 3848-2682

Produção da polpa rende 5 vezes mais do que o palmito
Niza Souza
A palmeira juçara (Euterpe edulis) é nativa da Mata Atlântica. Por causa da exploração para consumo de palmito, está ameaçada de extinção. O corte para a retirada de palmito mata a planta, e a retirada dos frutos para a extração da polpa permite colheita anual das sementes, que também servem para o repovoamento da espécie e a sustentabilidade da floresta. Cada palmito é vendido por R$ 1 a R$ 2, e cada palmeira dá apenas um palmito. Com a extração das sementes, cada árvore rende em torno de 500 gramas de polpa. 'Com o quilo vendido por R$ 10, cada árvore rende, em pé, R$ 5', diz Guenji Yamazoe.

OESP, 16/07/2008, Agrícola, p. 9

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