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Produtores Temem mais Demarcações

Valor Econômico - http://www.valoronline.com.br/
26 de Ago de 2010

De Boa Vista

O destino escolhido por parte dos produtores rurais que saíram da reserva indígena Raposa Serra do Sol está na mira do governo federal. Parte do município do Bonfim, em Roraima, pode ser transformada em unidade de conservação ambiental e, dessa forma, não poderá ser habitada nem ter exploração agrícola. Um estudo do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), autarquia do Ministério do Meio Ambiente, prevê a criação do Parque Nacional do Lavrado na região. Moradores da cidade reagiram e o governo federal recuou, ao afirmar que o projeto ainda está sob análise. Os proprietários rurais, no entanto, temem que a proposta seja retomada após as eleições deste ano.

Quatro dos seis maiores arrozeiros que estavam na Raposa Serra do Sol têm plantações no Bonfim, município próximo à reserva indígena: Nelson Itikawa, Ivo Barilli e Genor Faccio e Tiaraju Faccio. O governo federal, por meio de estudos do Ibama e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, detectou quatro áreas na cidade onde poderia ser criado o Parque Nacional do Lavrado. As duas principais são a Serra da Lua e a Serra do Tucano.

A Serra do Tucano, onde o Exército tem terras, foi descartada e o governo federal, por meio do Instituto Chico Mendes, aprofundou os estudos sobre a unidade de conservação na Serra da Lua. Os moradores da região tomaram conhecimento do projeto antes da fase de audiências públicas e articularam-se junto ao governador de Roraima, José de Anchieta Junior (PSDB), para tentar impedir a criação do parque do Lavrado. O protesto teve repercussão negativa para o governo federal. Com a proximidade das eleições e o desgaste político que a proposta poderia trazer, foi postergada.

O fazendeiro Genor Faccio teme ser afetado novamente por decisão do governo. ´´Sempre tive consciência de que a máquina de demarcação de terras iria continuar depois da Raposa´´, diz. ´´Estou correndo atrás de políticos para tentar barrar esse processo.´´ Em situação semelhante, Regina Barilli comenta: ´´Tenho 500 hectares de plantação no Bonfim. Se me pegar ´tô´ lascada´´, afirma.

A criação da unidade de conservação ambiental afetaria mais de 200 produtores da Serra da Lua, que vivem em 155 mil hectares. A região fica na fronteira do Brasil com a Guiana. A justificativa do governo federal é que as savanas de Roraima podem vir a ser alvo de especulação imobiliária, grilagem de terra e forte avanço da soja, arroz irrigado e da silvicultura. A criação da unidade de conservação está prevista em decreto presidencial que repassou 6 milhões de hectares de terras federais para o Estado, em 2009. Procurado, o Instituto Chico Mendes não se manifestou oficialmente.

O estudo preocupa também pequenos e médios produtores da região, como a família de Alceu da Silva Thomé. ´´Mal acabou o problema na Raposa Serra do Sol já aparece esse no Bonfim´´, reclama a filha de Alceu, Cristiane. ´´Nossa família está na região há 106 anos. Estamos na sexta geração e agora nos tratam como grileiros. Estamos indefesos. Se perdemos a terra, para onde vamos?´´, questiona. Na entrada de uma das fazendas da família Thomé, na Serra da Lua, uma faixa estampa o protesto recorrente entre os moradores da região: ´´Ontem a Serra do Sol, hoje a Serra da Lua. Amanhã qual será?´´ (CA)

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