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Produto com selo renderá R$ 3 bi em 2005

GM, Saneamento & Meio Ambiente, p. A20
15 de Abr de 2004

Produto com selo renderá R$ 3 bi em 2005

São Paulo, 15 de Abril de 2004 - Começa hoje em São Paulo a Feira Brasil Certificado, que reúne produtores contemplados pelo FSC. O mercado brasileiro de produtos florestais certificados com o selo do Forest Stewardship Council (FSC), que atesta o bom manejo dos recursos naturais, deverá passar dos atuais R$ 1 bilhão anuais para R$ 3 bilhões até o final de 2005. Um dos indicadores do crescimento desse mercado é a Feira Brasil Certificado, que será aberta hoje, em São Paulo, com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O evento termina no sábado.

O País já ocupa a primeira posição em área de florestas certificadas pelo FSC entre os países em desenvolvimento: são 42 florestas e 1,5 milhão de hectares. Hoje existem 38 empresas certificadas na produção de madeira e 152 na cadeia de custódia, que inclui serrarias, indústrias beneficiadoras e moveleiras, entre outras. Os dados são da organização não-governamental Imaflora que, desde a década de 1990, atua como organismo certificador e responsável pelos procedimentos de auditoria.

"De 1996 até hoje, certificamos 1 milhão de florestas plantadas e 500 mil de florestas nativas, o que comprova o potencial de crescimento", afirma André de Freitas, secretário executivo do Imaflora. As áreas de reflorestamento certificadas correspondem a cerca de 15% da base florestal plantada no Brasil, e a estimativa da Imaflora é que chegue a 25% até o final de 2005. A área de manejo de floresta nativa, por sua vez, deve chegar a 1,5 milhão de hectares, segundo Freitas.

A Feira Brasil Certificado deverá mostrar o que o mercado brasileiro tem a oferecer em termos de produtos florestais madeireiros e não madeireiros, como matérias-primas para produtos fitoterápicos - óleos, extratos, sementes, castanhas, entre outros.

O investimento no evento é da ordem de R$ 300 mil e a organização está a cargo da WR São Paulo, com apoio das ONGs Imaflora, Imazon, Amigos da Terra e FSC Brasil. Serão 33 estandes com 50 expositores, e a expectativa dos realizadores é de receber um público de 5 mil participantes. Entre os patrocinadores, estão as empresas Klabin, Banco Real, Placas do Paraná, Frame Madeiras e o Ministério do Meio Ambiente.

A empresa candidata à obtenção do selo FSC deve estar coerente com uma série de requisitos válidos internacionalmente, explica Freitas. "Entre eles, o respeito à legislação ambiental, fundiária e trabalhista do País e a preocupação com o impacto do manejo florestal, ou seja, até que ponto a floresta suporta a extração dos recursos", explica. No Brasil, foram desenvolvidos quatro conjuntos de indicadores, que atendem às especificidades das matérias-primas extraídas e das regiões onde é feita a coleta (ver quadro).

Em termos mundiais, a certificação FSC já foi atribuída a 615 florestas em todo o mundo, o equivalente a 42 milhões de hectares em 62 diferentes países. "Há um movimento das empresas rumo ao uso de madeira certificada, e o Brasil tem grandes chances nesse mercado, devido ao seu grande potencial de produção de artigos florestais. A madeira certificada é mais competitiva", diz Freitas.

Sua afirmação é corroborada pelo mercado externo, principalmente pelos países europeus, ávidos por produtos que ostentam selos verdes. Paulatinamente, o mercado doméstico acorda para o diferencial competitivo das madeiras certificadas, como atestam as 50 empresas participantes da Feira Brasil Certificado e as outras 20 companhias atualmente em fase de obtenção do selo pelo Imaflora.

Entre os expositores, destacam-se o Grupo de Produtores Florestais Certificados do Acre, que tem o apoio da ONG internacional WWF e do Centro de Trabalhadores do Acre (CTA), entidade que reúne associações com experiência no manejo comunitário. Os trabalhadores vão expor produtos como bloco e pranchas de madeira, pequenos artefatos, óleo de copaíba (utilizado na indústria de cosméticos) e sementes florestais.

Floresce o mercado interno

A Klabin foi a primeira empresa do setor de celulose e papel do hemisfério sul a receber o selo FSC, em 1998. Anualmente, são vendidas 1,2 milhão de toneladas de madeira em tora para as indústrias da cadeia de custódia da madeira, localizadas na região de Telêmaco Borba, no Paraná, onde estão concentradas as áreas de plantio e floresta nativa da companhia. São 229 mil hectares, sendo 118 mil hectares de reflorestamento e 85 mil hectares de nativas.

A linha de fitoterápicos e fitocosméticos da empresa recebeu o selo em 1999. O ingresso da empresa nesse setor deu-se no início da década dos 1980, quando a empresa descobriu a possibilidade de aproveitar comercialmente a biodiversidade das florestas, rica em ativos farmacêuticos. Hoje, são 30 produtos na linha terapêutica e outros 30 em fitocosméticos.

Os próximos planos da empresa incluem a certificação FSC da unidade de Santa Catarina, localizada entre os municípios de Otacílio Costa e Correia Pinto, em fase de finalização. A Klabin estuda ainda a obtenção do selo para a celulose e produtos de papel. "Sem dúvida, a certificação abre novos mercados e ajuda a manter os já existentes. É uma prova atestada por meios independentes de que a empresa atua de modo sustentável", afirma Ivone Fier, coordenadora de pesquisa florestal da Klabin.

Revenda certificada

O interesse em divulgar o conceito e os benefícios do selo verde levou a Leo Madeiras, empresa paulistana com 61 anos de atuação na revenda de produtos de madeira e construção civil, a investir R$ 1 milhão na primeira loja especializada em madeira certificada no Brasil, a EcoLeo. Inaugurada em dezembro de 2003 em um espaço de 800 m² em São Paulo, a loja tem um público alvo formado por arquitetos, marceneiros e designers.

A EcoLeo comercializa serrados e compensados de madeiras nobres como muiracatiara, cedro, freijó, sucupira, timborana, curupixa, provenientes de áreas de manejo da Amazônia Legal. A revenda trabalha ainda com produtos de eucalipto e pinus. Entre os fornecedores, Karla cita o Projeto Comunidade Xapuri, no Acre e as empresas Cikel, Floresteca, Uliana eGethal, entre outras.

"Temos o certificado de cadeia de custódia, que garante a rastreabilidade do produto. Na parte final da cadeia, os designers e marcenarias que compram nossa madeira podem também usar o selo FSC em seus produtos", explica Karla Aharonian, gerente da EcoLeo.

Os artigos em madeira certificada custam em média 20% a mais do que os não-certificados. O motivo, segundo Karla, é o fato de que 95% da madeira certificada produzida no País é destinada à exportação. Os 5% restantes são vendidos pelo mesmo preço no mercado interno. O metro cúbico de madeira serrada com selo verde custa em torno de R$ 2.000.

GM, 15/04/2004, Saneamento & Meio Ambiente, p. A20

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