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Produção agrícola avança em Roraima

GM, Agribusiness, p. B12
09 de Ago de 2004

Produção agrícola avança em Roraima

Terras mais baratas e perspectivas de boa produtividade atraem agricultores à Região Norte. Cada vez mais, na busca por terras baratas e produtividade, os produtores rurais desbravam o Brasil: primeiro o Centro-Oeste, depois o Oeste da Bahia e parte do Nordeste. Agora eles rumam mais ao Norte. O estado de Roraima começa a despontar como nova fronteira agrícola. A meta para os próximos cinco anos é uma produção de três milhões de toneladas de grãos, ou seja, todo o volume hoje cultivado no Norte do País. Isso significa multiplicar em mais de dez vezes a atual produção. "Todo dia tem gente chegando", é o que se ouve ali.
Nos últimos dez anos, o estado já vem registrando aumento na produção e área plantada. Há dez safras foram cultivados 16,8 mil hectares. Na passada, 56,9 mil hectares (aumento de 238%), segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No mesmo período, a produção cresceu 45%. Parte da pujança é resultado do trabalho do governo estadual em atrair empresários do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e Bahia.
Luiz Travassos, diretor-administrativo da Federação de Agricultura do Estado de Roraima (Faer), afirma que uma das vantagens da região é a vegetação rasteira, perfeita para a agricultura, além de 14 horas de sol e água em abundância. A federação não tem números da migração para o estado, mas ele diz que diariamente produtores pedem informações sobre a região, atraídos também pelos preços baixos das terras: entre R$ 300 e R$ 1,5 mil por hectare. Outra vantagem, segundo Travassos, é o fato de Roraima ter boa parte do território situado no Hemisfério Norte, fazendo com que o ciclo de produção seja diferente do Centro-Sul. "Podemos vender na entressafra deles", afirma.
Oscar Smiderle, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Roraima, afirma que nos últimos 15 anos a instituição vem pesquisando cultivares apropriadas ao cerrado local - semelhante às de Balsas (MA), o que propiciou uma boa produtividade - 60 sacas por hectare no primeiro ano. Além das sementes, Smiderle diz o clima apropriado para o cultivo, que faz com que o ciclo mais longo da planta chegue a 110 dias, diminuindo o investimento no campo e o solo arenoso, que facilita as práticas culturais.
Mas, o regime pequeno de chuvas faz com que o estado só possa cultivar duas safras se utilizar a irrigação. Atualmente, a técnica tem sido usada para o plantio de sementes. O pesquisador afirma que arroz de sequeiro e soja são os principais produtos cultivados, e que podem combinar na rotação de cultura. Ele destaca, no entanto, que há boas perspectivas para algodão, girassol e mamona.
Atualmente o estado ocupa com agropecuária menos de 10% do disponível para a atividade. Segundo dados da federação, existem hoje disponíveis 1,57 milhão de hectares para a agricultura (7% do total). Segundo dados da Faer, se o estado usasse 1 milhão de hectares nas áreas lavradas, poderia produzir três milhões de toneladas de grãos em cinco anos, sendo 1,1 milhão de toneladas de milho, 730 mil toneladas de soja, 540 mil toneladas de arroz sequeiro e 700 mil toneladas de arroz irrigado.
O produtor Paulo Tanaka foi atraído pela redução dos custos e aumento de sua rentabilidade. Vendeu sua área de 400 hectares em Minas Gerais e comprou três mil hectares em Roraima. Na última safra, cultivou 800 hectares com soja e tem conseguido produtividade de até 60 sacas por hectare. Grande parte da produção é comercializada com o Grupo Maggi, mas Tanaka também está em negociação para exportar para a Venezuela e Guiana Francesa.
"Em Minas Gerais era mais fácil comercializar, mas não estou arrependido", diz Tanaka. Segundo ele, o estado tem muitos atrativos, além das terras baratas - que já foram valorizadas em 200% nos últimos dois anos, segundo o produtor. Entre as vantagens, ele destaca a boa produtividade devido ao solo arenoso, ao regime de chuvas, à elevada temperatura e alta luminosidade. Além disso, há incentivo fiscal, com isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para os produtores ligados à Cooperativa Grão Norte. Tanaka conheceu Roraima por meio da Secretaria de Planejamento e Orçamento, que levava empresários ao estado.
De 2000 a 2002, equipes do governo do estado estiveram em regiões em que se acreditava haver empresários conhecidos pelo empreendedorismo. "Grande parte do que está ocorrendo hoje é resultado deste trabalho", afirma Damião Araújo, diretor do Departamento de Atração de Investimentos da secretaria. Ele cita como exemplo o crescimento da soja em comparação com o arroz. Foram necessários 20 anos para que a área cultivada com arroz chegasse a 20 mil hectares, enquanto em quatro anos o plantio da oleaginosa atingiu 12 mil hectares. Segundo ele, vieram pelo menos 50 produtores de outros estados, neste período, para cultivar o grão. A expectativa é que, em 2005, a área com a commodity chegue a 30 mil hectares, dobrando todos os anos.
Além das visitas, o governo também investiu subsidiando a comercialização de calcário e dando aval de 30% aos financiamentos agrícolas. Também instalou um silo com capacidade de armazenagem de 50 mil toneladas. E, para os próximos meses, deve fazer uma força-tarefa na recuperação das estradas.
O crescimento de Roraima porém está limitado. Os produtores reclamam da indisponibilidade de terras devido à legislação ambiental. Segundo Travasso, se a Medida Provisória n 2.166, que trata do Código Florestal, for revogada, a agropecuária poderia utilizar 15% do território (3,5 milhões de hectares). A atual legislação exige reserva legal de 35% nos lavrados e 80% nas matas. A Medida Provisória foi editada no governo passado e aguarda para entrar na pauta de votação no Congresso Nacional.

GM, 09/08/2004, Agribusiness, p. B12

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