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Povo Apurinã mantém floresta em pé em meio ao desmatamento

Observatório 3º Setor - observatorio3setor.org.br
Autor: Iara de Andrade
06 de Jul de 2022

Por meio dos SAFs, ação de plantio ecológico que produz alimentos sem desmatar ou usar agrotóxicos, povo Apurinã luta para garantir que a floresta, dentro dos limites do território, siga fornecendo serviços ecossistêmicos fundamentais para o equilíbrio do clima no planeta

Por Iara de Andrade

A Segunda edição do Sistema de Estimativas de Emissões Gases do Efeito Estufa (SEEG) Municípios foi divulgada em live no Youtube e coloca Lábrea, Sul do Amazonas, como a quarta colocada no ranking de cidades brasileiras que mais emitem gases do efeito estufa.

É lá que se encontra a Terra Indígena Caititu, um oásis verde que estoca e absorve carbono da atmosfera pertencente ao povo Apurinã, que luta para garantir que a floresta, dentro dos limites do território, siga fornecendo os serviços ecossistêmicos fundamentais para o equilíbrio do clima no planeta, a despeito da pressão e intensa degradação ambiental no entorno.

A região que faz fronteira com os estados de Rondônia e do Mato Grosso apresenta os maiores índices de desmatamento do estado, resultante dos efeitos do avanço da fronteira agrícola, de acordo com o que foi exposto no seminário produzido pelo Observatório do Clima.

A área de 308 mil hectares está cercada pelo desmatamento e é conservada por iniciativas dos povos indígenas como os Sistemas Agroflorestais (SAFs) e o manejo sustentável de castanha-do-Brasil, apoiadas pelo projeto Raízes de Purus, da Operação Amazônica Nativa (OPAN) e patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental.

Por meio dos SAFs, ação de plantio ecológico que produz alimentos sem desmatar ou usar agrotóxicos, a extensão de reflorestamento equivale a 13 campos de futebol. Trata-se da produção de um sistema ecológico saudável a partir da combinação de diferentes espécies.

Áreas antes degradadas e sem capacidade de absorver e estocar carbono tornam-se altamente produtivas e voltam a contribuir para o conforto térmico e no regime das chuvas e a prestar demais serviços ecossistêmicos.

"Os SAFs são estratégicos na mitigação das mudanças climáticas, porque eles potencializam muito a capacidade do solo, através da vida microbiana, de reter esses gases, evitando que subam para a atmosfera", completa Sebastião Pinheiro, referência nacional da Agroecologia e assessor na implementação dos primeiros SAFs na Terra Indígenas de Caititu, em 2014.

Atualmente, o povo Apurinã cultiva 22 unidades de SAFs em 20 aldeias. Antonio de Miranda Neto, indigenista da OPAN, explica que a temperatura dentro destes sistemas tende a apresentar uma diferença de pelo menos 10o Celcius em relação a áreas abertas. "As frutas atraem também animais, pássaros, formigas, insetos, que são importantes para a conservação do ecossistema".

São fornecidos alimentos saudáveis e orgânicos e comercializados em Lábrea quando excedentes, garantindo uma renda sustentável para os indígenas; a exemplo do urucum utilizado pela família do cacique Marcelino Apurinã para produção do colorau que é referência na região.

Também há o manejo e a conservação de castanhais em Caititu, onde são estocados mais de 61 mil toneladas de carbono. Só em 2021, houve uma remoção de 183.661 toneladas. A Bertholletia excelsa é uma espécie de castanha que pode viver até 1000 anos, mas está em extinção. A árvore necessita da conservação da biodiversidade para se reproduzir, uma vez que suas flores são polinizadas por alguns tipos de insetos atraídos por orquídeas que crescem próximas.

Durante temporada de coleta das castanhas, os manejadores costumam circular por grandes extensões territoriais e visitam pontos remotos para inibir ação de invasores.

"Os indígenas conservam a natureza. E isso não é valorizado pela maioria, como deveria ser. Estamos conservando a nossa terra com nossos conhecimentos, nossa força, e nossa luta", comenta Maria dos Anjos, liderança da aldeia Novo Paraíso.

Estima-se que haja, anualmente, uma recuperação de 18 hectares e remoção de 4.366 toneladas de carbono e outros gases do efeito estufa até o fim do projeto Raízes do Purus, em 2024.

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