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Por trás da beleza, os riscos

CB, Cidades, p. 32
10 de Jun de 2006

Por trás da beleza, os riscos
Imenso tapete verde enfeitado com flores lilases é retirado das águas na barragem de Corumbá, próximo à BR-060. Aguapés consomem oxigênio e ameaçam a vegetação, os peixes e a saúde humana

Adriana Bernardes
Da equipe do Correio

Depois da inundação provocada pela barragem da usina de Corumbá, o Rio Descoberto está irreconhecível no trecho que corta a BR-060, na altura do povoado de Santa Rosa. Não é só pela represa que se formou onde antes corria apenas um rego d'água. Sobre o espelho do lago recém-criado nasceram milhares de macrófitas, plantas aquáticas conhecidas como alface-d'água (Pistia stratiotes) e aguapé (Eichhonia crassipes). À esquerda da rodovia de quem vai para Goiânia, o que se vê é um imenso tapete verde salpicado de flores lilases. Uma bela paisagem que esconde riscos ambientais e para a saúde humana.
A multiplicação desordenada das macrófitas, como a que aconteceu no local, impede que a luz do sol chegue até as camadas mais profundas do lago. O problema é agravado quando os aguapés ou alface d'água morrem. Isso porque durante o processo de decomposição elas consomem muito oxigênio. Uma combinação de fatores que ameaçam a sobrevivência das demais comunidades aquáticas, sejam elas de plantas ou peixes. "Além disso, essas plantas podem representar risco à saúde pública, porque favorecem a proliferação de organismos vetores de doenças, como por exemplo os insetos", explicou Gina Deberdt, técnica da coordenação geral de Infra-Estrutura de Energia Elétrica da Diretoria de Licenciamento Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Esses são riscos que o Ibama quer descartar. Em vistoria feita entre os dias 24 e 26 de janeiro, a equipe técnica constatou a presença de macrófitas no reservatório recém-formado e solicitou que fosse providenciada a retirada delas. Além disso, o instituto pediu à Corumbá Concessões, consórcio responsável pela usina de Corumbá IV, que apresentasse um plano de controle das plantas para evitar danos ambientais e à saúde das comunidades que vivem nas proximidades.
Gina Deberdt explica que o aparecimento desse tipo de planta aquática em lagos novos não é nenhuma surpresa. "Elas surgem em função da decomposição da vegetação inundada.
Nesse processo, acontece o enriquecimento da água com nitrogênio e fósforo. Aliado a isso, o lançamento de esgoto no corpo d'água favorece ainda mais a proliferação dessas plantas", explicou a técnica do Ibama.
Barreira de contenção
Para evitar que as macrófitas se alastrem ainda mais e aumentem os danos, técnicos da Corumbá IV fizeram uma barreira de contenção. Um cabo de aço foi esticado de um lado ao outro do lago que se formou ao lado da BR-060.
Além disso, duas equipes com barcos e uma espécie de rede arrastam as plantas para a margem. Em cima do barranco fica um trator com um braço em forma de garra que retira a vegetação da água e joga direto na caçamba de um caminhão. "Todos os dias retiramos em média 80 caminhões caçambas cheios de aguapés naquele ponto perto da BR-060. No prazo de uma semana teremos controlado a situação", garantiu Daniela Romão, gerente ambiental de Corumbá IV.
Os aguapés e alface-d'água também apareceram em quantidade preocupante no Rio das Antas, a 30km do Distrito Agroindustrial de Anápolis. Lá, a quantidade de plantas é menor e a retirada começará na próxima semana. Quando secarem, as plantas serão espalhadas ao longo da área de preservação permanente para fazer a cobertura vegetal. "É um excelente adubo orgânico. Onde ela ocorre, a qualidade da água melhora porque ela funciona como uma espécie de filtro. Só não podemos perder o controle para não provocar o desequilíbrio do ecossistema", explicou Daniela.

CB, 10/06/2006, Cidades, p. 32

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