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Pnuma: natureza ainda pode ser preservada

O Globo, Razão Social, p. 21
21 de Set de 2010

Pnuma: natureza ainda pode ser preservada
Estudo da ONU mostra aumento de bens agrícolas certificados

Marcelle Ribeiro SP,
Especial para o Razão Social

Um relatório recente da Organização das Nacionais Unidas (ONU) mostra que a natureza ainda tem muitas oportunidades de negócio a oferecer.
Por outro lado, alerta que, como não são calculados os valores dos bens e serviços obtidos pelo meio ambiente - como a água, o ar limpo e a polinização - as empresas e pessoas tendem a achar, equivocadamente, que eles vão durar para sempre.
O estudo, chamado "A economia dos ecossistemas e da biodiversidade - Setor de negócios" (em inglês, Teeb), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), lançado em inglês em julho, foi traduzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e apresentado em São Paulo na semana passada.
O relatório mostra que, apesar de o mercado de produtos e serviços ambientalmente certificados estar crescendo - as vendas globais de alimentos e bebidas orgânicas, por exemplo, somaram US$ 46 bilhões em 2007, três vezes mais do que em 1999 - ainda há muito espaço para esse nicho aumentar.
Segundo o estudo da ONU, o mercado de bens agrícolas certificados, que chegou a cerca de US$ 40 bilhões em 2008 - o equivalente a 2,5% do mercado global de alimentos e bebidas - pode atingir US$ 210 bilhões em 2020 e US$ 900 bilhões em 2050. Já o de produtos florestais certificados, de US$ 5 bilhões em 2008, pode aumentar para US$ 15 bilhões em 2020.
O levantamento aponta ainda oportunidades em compensações de carbono em florestas, acordos de bioprospecção, e pagamento voluntário pela gestão de bacias hidrográficas, entre outros.
Segundo o coordenador do estudo do Pnuma, o economista Pavan Sukhdev, é possível conciliar os interesses de uma grande massa de consumidores com a preservação do meio ambiente.

- Se os governos incentivarem a aplicação da lei, as políticas forem mudadas e os produtores fabricarem mais produtos amigáveis ao meio ambiente usando menos materiais, os consumidores terão opções diferentes. Hoje, existem alertas contra o fumo, campanhas publicitárias contra a obesidade, mas não há controle e propaganda suficientes sobre o uso e abuso da natureza - disse Sukhdev.
Para o economista, as empresas e o governo devem tentar calcular o valor de serviços fornecidos pela natureza, e colocá-los na sua lista de ativos, pois só assim vão ter maior consciência de que a biodiversidade pode deixar de existir.

- Há legislação positiva sobre a natureza, mas apesar da boa vontade e da lei, nós ainda estamos perdendo ecossistemas e perdendo biodiversidade.
As abelhas não mandam a conta pela polinização todo mês. As árvores não mandam a fatura pela limpeza do ar e as florestas não cobram pela água e pela terra.

Estas coisas não são precificadas pelo mercado, então as pessoas tendem a ignorá-las - afirmou o economista.

Para Sukhdev, o Brasil tem bons exemplos de preservação do meio ambiente, mas deve ampliá-los. Já o diretorexecutivo da CNI, José Augusto Fernandes, disse que a indústria brasileira está atenta para a questão da biodiversidade e para chances de se desenvolver.

- A indústria que usa recursos naturais quer usar hoje e amanhã. Existem janelas de oportunidade em relação ao uso da biodiversidade. O Brasil tem um dos maiores patrimônios de biodiversidade do mundo e estamos observando isso como uma forma de desenvolvimento de negócios. Temos algumas indústrias, como a de cosméticos, a farmacêutica, que podem se desenvolver muito no país e desenvolver comunidades sustentáveis - disse.

O economista Pavan Sukhdev afirmou que o ecossistema pode ajudar a criar vagas de trabalho. De acordo com ele, devem surgir cerca de 20 milhões de empregos na "economia verde" nos próximos anos. No setor de energia, já há mais pessoas atuando com fontes renováveis do que com petróleo, segundo o Pnuma.

O relatório da ONU mostrou que 27% dos 1200 líderes empresariais (CEOs) ouvidos em pesquisa feita esse ano se declararam bastante ou extremamente preocupados com a perda de biodiversidade como ameaça ao crescimento de suas empresas. A região do mundo em que este número é maior é a América Latina, onde o índice chega a 53%.

Um levantamento divulgado pelo Pnuma, porém, mostra que das cem maiores empresas do mundo em 2008, 89 produziram relatórios de sustentabilidade, mas só 9 identificaram a biodiversidade como questão estratégica e 15 discutiram abordagens para reduzir o impacto na natureza.

O Globo, 21/09/2010, Razão Social, p. 21

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