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Plano de combate à guerrilha

CB, Brasil, p.10
11 de Abr de 2005

Plano de combate à guerrilha
Comissão do Congresso elabora estratégia para evitar ação de grupos ligados ao tráfico internacional no país. Projeto será votado depois que parlamentares investigarem ligação do PT com cartel colombiano

A Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional tem pronto um plano de combate a ações, no Brasil, de grupos ligados ao tráfico internacional, como a Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). 0 projeto elaborado pela comissão foi encaminhado aos parlamentares na semana passada e, de acordo com o senador Cristovam Buarque (PT-DF), presidente da comissão, será mantido sob sigilo até ser aprovado. 0 trabalho dos parlamentares ganhou força depois que uma série de denúncias sobre a atuação das Farc no país. "Existe uma preocupação grande por parte dos senadores da existência de atividades terroristas de grupos internacionais no Brasil, mas não apenas com relação dos traficantes da Colômbia", afirma Cristovam. Reportagem publicada ontem no Correio Braziliense e no Estado de Minas, mostra que a guerrilha colombiana montou uma rede de suprimentos e de tráfico na fronteira brasileira.
Como moeda para compra, principalmente de armas e munição, as Farc usariam cocaína. A denúncia, também veiculada em O Globo, revela que uma espécie de associação de trabalho foi fechada entre traficantes brasileiros e representantes das Farc para a venda internacional da droga. 0 Paraguai seria a base geográfica para a atuação do grupo. De acordo com a reportagem, o fluxo de drogas para o país vizinho foi intensificado depois que o Brasil adotou a Lei do Abate, que permite a destruição de aviões clandestinos.
0 secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa, almirante-de-esquadra Miguel Ângelo Davena, confirmou que o tráfego não identificado reduziu-se bastante no espaço aéreo brasileiro. Durante audiência pública sobre a internacionalização da Amazônia, na última quinta-feira, Davena afirmou que, desde outubro do ano passado, quando a lei entrou em vigor, nenhum avião foi abatido no espaço aéreo brasileiro.
Interrogatório
O senador Cristovam Buarque garantiu que o plano de combate às ações das Farc no Brasil será votado pela Comissão assim que for encerrada a investigação sobre uma suposta ligação entre o PT e o cartel colombiano. Ele explicou que dois senadores governistas e dois da oposição devem interrogar, nesta semana, em reunião secreta, o espião da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que teria informações sobre a suposta relação entre o PT e as Farc.
Cristovam disse que considerou arriscado levar todos os integrantes ao encontro do espião. Por isso apenas quatro integrantes vão participar do interrogatório. Os senadores ouvirão o relato do espião, que diz ter recebido a informação de que US$ 5 milhões, cerca de R$ 13 milhões, seriam repassados das Farc para a campanha presidencial petista.
Se o espião confirmar de forma convincente a história, a comissão convocará novamente os ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Armando Félix, o diretor-geral da Abin, Mauro Marcelo de Lima e Silva, e chamará o coronel Eduardo Adolfo Ferreira, que confirmou a existência de mais documentos na agência que ligariam as Farc ao PT. Félix e Mauro Marcelo negaram, no Senado, a existência de documentos que comprovem a relação entre a guerrilha colombiana e o PT. Haveria, de acordo com eles, apenas um documento que, por não ter tido credibilidade, já estaria na fila de destruição. 0 espião e o coronel afirmaram que há mais informações do que revelou a Abin.

Apuração em parceria

Maria Clara Prates
Do Estado de Minas

A estratégia da Polícia Federal para enfrentar a ousada investida do grupo Guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs) em território brasileiro é a Operação Cobra (Colômbia e Brasil), que tem o desafio de agir em 1.644 quilômetros de fronteira entre os dois países. É exatamente esta ação, desenvolvida em parceria com o governo colombiano, que está possibilitando um conhecimento maior sobre a guerrilha no país. Todas as informações obtidas são depuradas pelos setores de inteligência da PF. Atualmente, a operação envolve o maior efetivo de homens da PF, recrutado em diferentes estados brasileiros. Pelo menos oito postos avançados de controle rastream todos as ocorrências de ações dos guerrilheiros no Brasil e outras atividades ilegais na região.
Apesar dos relatórios sigilosos, que registram pelo menos 40 ocorrências envolvendo ações das Farc no Brasil, nos últimos dez anos, a cúpula do Departamento da Polícia Federal, em Brasília, mantém o silêncio. Não falam em Farc e se referem aos guerrilheiros apenas como "grupos armados". Mas os próprios esforços para manter a Operação Cobra no Norte brasileiro demonstra a preocupação com o crescimento da rede de suprimentos que os guerrilheiros montaram no país para continuar enfrentando o governo colombiano, na luta que já consome mais de 40 anos. Outro indício desta preocupação é a expansão da operação também para a fronteira da Venezuela-aVebra-, hoje, o maior fornecedor de produtos químicos e combustível para as Farc.
Impostos
Foi em território brasileiro e através da Operação Cobra que a PF conseguiu provas de que os guerrilheiros das Farc cobram "impostos" de comerciantes legais para permitir a circulação de mercadoria no território colombiano. Um balsa carregada de combustível comprado na Colômbia foi interceptada pelos federais no posto de controle, no rio Ipiranga (AM). A PF verificou que a nota fiscal estava subfaturada, ou seja, o valor era inferior ao volume de combustível transportado.
Os tripulantes explicaram, então, que este é um expediente usado para evitar maiores prejuízos, já que além dos impostos do governo colombiano, eles são obrigados a pagar os homens das Farc para negociar a mercadoria em território colombiano.

CB, 11/04/2005, Brasil, p. 10

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