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PF recebe lista de quem ameacava fiscais

OESP, Cidades, p.C1
30 de Jan de 2004

PF recebe lista de quem ameaçava fiscais Nomes são a primeira pista na investigação do assassinato de 4 servidores em Minas
EDSON LUIZ Enviado especial
UNAÍ - Investigadores que apuram a morte dos auditores fiscais João Batista Soares Lages, Eratóstenes de Almeida Gonçalves e Nelson José da Silva e do motorista do Ministério do Trabalho Aílton Pereira de Oliveira admitem que a hipótese mais provável é de que fazendeiros ou agenciadores de mão-de-obra, os conhecidos gatos, sejam os mandantes do crime. Os servidores foram mortos numa emboscada, anteontem, quando faziam inspeções em Unaí, Minas.
A Polícia Federal acredita que os dois pistoleiros não sejam da região. "São profissionais. Não atiraram a esmo", disse um dos delegados. Até a noite, as autoridades não tinham nenhum suspeito. A PF recebeu uma relação com nomes de pessoas que teriam feito ameaças a alguns auditores, no ano passado.
Entre os ameaçados estava Silva. Uma equipe analisa documentos encontrados no hotel onde o grupo ficou, além de papéis que ficaram no carro onde foram mortos. Há relatórios de vistorias e talonários de multas.
O problema é o estado em que tudo foi encontrado. "Muitos documentos estão manchados de sangue, o que dificulta a análise. Além disso, temos antes de colher as impressões digitais nos papéis para verificar se, além dos fiscais, outras pessoas os manusearam", disse um dos investigadores.
Carro - Todos os processos e autuações feitas pelos fiscais nos últimos meses também serão enviados à Polícia Federal. A esperança dos investigadores é encontrar o Fiat Strada utilizado pelos assassinos. As características do veículo foram dadas pelo motorista Oliveira que, apesar de ter sido baleado na cabeça, conseguiu dirigir a caminhonete em que estava com os auditores até uma estrada a 50 quilômetros de Unaí. Ele morreu a caminho do Hospital de Base, em Brasília.
Policiais federais do Comando de Operações Táticas (COT) fizeram ontem um percurso semelhante ao que teria sido feito por Oliveira e chegaram a um local onde os auditores fiscais podem ter sido mortos, a 17 quilômetros da rodovia que liga Unaí a Arinos, no interior de Minas.
Na estrada, havia marcas de pneus de carros de pequeno e médio porte, como o Fiat Strada que teria sido usado pelos matadores e a caminhonete do ministério.
Uma informação levantada pela polícia é a de que os auditores, antes de ser mortos, estiveram em Natalândia, a 154 quilômetros de Unaí, e podem ter sido seguidos pelos pistoleiros. A PF apurou que os servidores mortos estavam realizando um trabalho sigiloso e não conheciam detalhadamente a região. "O mistério é saber o que fizeram na terça-feira", afirma o delegado do Ministério do Trabalho em Minas, Carlos Calazans.
Buscas - Cerca de 20 policiais e três delegados federais estão trabalhando no caso, auxiliados por agentes da Polícia Civil e por cem PMs, que vasculham todas as estradas vicinais e fazendas à procura do carro dos criminosos. A Polícia Militar ainda está usando cinco patrulhas rurais, soldados do Batalhão Florestal, o serviço de inteligência e poderá ganhar reforço na próxima semana de mais policiais de Belo Horizonte.
"Estamos fazendo um verdadeiro pente-fino na região", admitiu o major Roginaldo Elias, subcomandante da PM em Unaí.
Entre os moradores de Unaí, clima é de tristeza e curiosidade
UNAÍ - As aglomerações formadas na frente do Fórum da Justiça do Trabalho mostram que a cidade, de 70 mil habitantes, não estava habituada à violência, apesar de ser o centro de conflitos envolvendo sem-terra e fazendeiros. No município, que tem o segundo maior rebanho de gado de Minas, o clima é de tristeza e curiosidade. "Ninguém sabe exatamente o que aconteceu. Por isso, não gostamos quando as pessoas tacham a cidade de terra de pistoleiros", afirma o vendedor ambulante José Maria de Oliveira.
Segundo ele, é pouco provável que os matadores sejam da cidade. O subcomandante da PM, major Roginaldo Elias, concorda e diz que os principais casos registrados no município são os de roubo de gado.
Nos primeiros três meses do ano, Unaí recebe em torno de 30 mil pessoas, que chegam à cidade para trabalhar na lavoura. Muitos vêm agenciados pelos "gatos", e trabalham de forma degradante ou sem registro profissional. É o caso de Raimundo de Oliveira Silveira, vindo do Maranhão e um dos curiosos que se aglomeravam na frente da funerária local. "Tenho de trabalhar e esta é a única forma que encontrei."
O movimento de policiais e de jornalistas chama a atenção da comunidade, acostumada com o tráfego de poucos carros e muitas bicicletas. "É no campo que está o movimento, mas parece que a paz também está acabando por lá", observa a costureira Margarida da Silva, de 48 anos. (E.L.)
'Não é possível que se mate para defender trabalho escravo', diz Lula Presidente fala à mídia internacional e garante empenho total na resolução do crime
JAMIL CHADE Correspondente
GENEBRA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a comentar a morte dos fiscais do Ministério do Trabalho, durante uma inspeção em Unaí, Minas Gerais. Em uma entrevista coletiva para jornalistas de todo o mundo, Lula deixou claro: "Estamos no século 21 e não é possível que se mate alguém para defender trabalho escravo."
Segundo Lula, os fiscais estavam na região apenas para cumprir a lei brasileira. "É proibido ter trabalho escravo no Brasil. A escravidão acabou no Brasil no dia 13 de maio de 1888", afirmou o presidente, que está em Genebra participando de reuniões com empresários.
Lula chegou a falar por telefone com o vice-presidente, José Alencar, sobre o assunto e garantiu que a Polícia Federal e o governo "fariam o possível não apenas para colocar na cadeia quem matou, mas também para saber se existe um mandante".

OESP, 30/01/2004, p. C1

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