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PF prende 32 por fraude na Funasa

OESP, Nacional, p. A10
26 de Out de 2007

PF prende 32 por fraude na Funasa
Investigação em Roraima desmonta grupo que burlava licitações na fundação; prejuízo estimado é de R$ 34 mi

Vannildo Mendes

A Polícia Federal prendeu ontem em três Estados 32 pessoas acusadas de fraudar licitações da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Roraima. O grupo teria provocado um rombo de R$ 34 milhões nos cofres públicos.

Entre os presos estão o coordenador-geral da Funasa em Roraima, Ramiro Teixeira e Silva, apontado como cabeça da quadrilha, e o empresário do Paraná Hissan Hussein Dehaine, dono de uma empresa de táxi aéreo. Outros três envolvidos, um deles foragido no exterior, estão sendo procurados.

As investigações, que começaram há um ano e meio, revelaram que a maior parte do dinheiro desviado tinha origem em emendas coletivas da bancada de Roraima ao Orçamento, assinadas pelos três senadores e oito deputados do Estado. Por isso, conforme a PF, as investigações chegarão inevitavelmente ao Congresso numa segunda etapa.

Ramiro, indicado para o cargo por Romero Jucá (PMDB), líder do governo no Senado, seria o articulador do esquema, com o auxílio de vários funcionários da Funasa - entre os presos, 16 são do órgão.

A organização fraudava licitações para contratação de serviço de transporte aéreo para atendimento médico nas comunidades indígenas, compra de medicamentos e realização de obras de saneamento básico.

As suspeitas surgiram de duas fontes. Uma delas, um levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU) segundo o qual Roraima recebia o dobro das verbas do Estado do Amazonas, um território dez vezes maior e com muito mais índios. A outra decorre de uma investigação de tráfico de drogas envolvendo o empresário paranaense. A polícia descobriu que ele prestava muitos serviços para o governo de Roraima.

"Ao investigar contratos, começamos a descobrir as fraudes nas licitações e o desvio de dinheiro público", explicou o delegado Alexandre Ramagem, que comandou a operação.

As principais vítimas do desvio são os índios de Roraima, principalmente os da etnia ianomâmi, que não recebiam as benfeitorias prometidas nas emendas parlamentares.

Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara da Justiça Federal de Roraima. Ao todo 252 policiais participaram da operação, que leva o nome de Metástase (uma alusão ao câncer), em Roraima, Amazonas e Paraná.

Os agentes cumpriram 45 mandados de busca e apreensão e confiscaram 37 carros.

Na casa de uma mulher presa em Roraima, a Polícia Federal encontrou R$ 807 mil e US$ 7.720 em espécie, e descobriu, no quintal, uma rinha de galos.

Todos os contratos realizados pela Funasa nos últimos cinco anos foram vasculhados por agentes federais e por 11 auditores da CGU, que apreenderam ontem mais 32 computadores e dezenas de caixas de documentos. Os presos responderão por formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa e passiva, crime contra a ordem econômica e tributária, lavagem de dinheiro e fraude em licitações.

CPI do narcotráfico

No Amazonas, os donos da empresa de aviação Amazonave, os irmãos Antônio e Geraldo Picanço, estão entre os presos. Eles serão transferidos para a PF, em Boa Vista.

O empresário Dehaine, proprietário da Icaraí Turismo Táxi Aéreo, de helicópteros, foi preso em Cascavel (PR). Dehaine já esteve detido na PF em 1999, em razão de investigações desenvolvidas pela CPI do Narcotráfico, quando foi acusado de ser um dos principais traficantes da região metropolitana de Curitiba. Ele continua respondendo a processo por associação ao tráfico.

Irmãos negam terem trabalhado para fundação

José Alberto Simonetti, advogado dos irmãos e empresários Antônio e Geraldo Picanço, presos ontem na Operação Metástase, disse que seus clientes alegam nunca terem prestado serviço à Funasa de Roraima, apenas à unidade da fundação no Amazonas. Ambos estão em prisão temporária na sede da Polícia Federal em Manaus, mas devem ser transferidos para Boa Vista até o fim desta semana.

O advogado do coordenador-geral da Funasa em Roraima, Ramiro Teixeira e Silva, não foi localizado pelo Estado.

A reportagem não conseguiu identificar o advogado do empresário do Paraná Hissan Hussein Dehaine para comentar a operação da Polícia Federal.

OESP, 26/10/2007, Nacional, p. A10

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