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Pesquisas desvendam a fauna e a flora da rica Serra do Japi

GM, Saneamento & Meio Ambiente, p.A10
12 de Nov de 2003

Saneamento & Meio Ambiente
Pesquisas desvendam a fauna e a flora da rica Serra do Japi

Jundiaí (SP), 12 de Novembro de 2003 - O utilitário XTerra pintado de vermelho e amarelo ainda chama a atenção dos moradores da zona rural de Jundiaí, a cerca de 50 km da capital paulista. Mas eles já se acostumaram com a presença dos pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que, há 20 anos, percorrem a pé ou em seus próprios veículos, as trilhas e estradas de terra da Serra do Japi. Limitada entre São Paulo e Campinas, as duas maiores cidades do estado, a serra é um resquício de floresta nativa próxima à região mais povoada do País. São cerca de 350 km² de área, dividida entre as cidades de Jundiaí, Cabreúva, Pirapora do Bom Jesus e Cajamar, e altitudes que variam de 700 a 1.300 metros.
Biodiversidade
A serra está localizada em uma região ecotonal - termo que designa as regiões com áreas de transição ou junção entre duas ou mais formações florestais. O domínio é da Mata Atlântica, mas abriga ainda espécies vegetais representativas do cerrado e das florestas de terra roxa. "A serra do Japi é um grande mosaico. A heterogeneidade da flora deve-se às diferenças na altitude, no clima e à interligação com outros ecossistemas, como a Serra do Mar e da Mantiqueira", explica João Vasconcellos Neto, professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia da Unicamp. Cambarás, quaresmeiras, aroeiras, arbustos, musgos, samambaias e plantas herbáceas abrigam insetos como o besouro serra-pau e cinco espécies de aranhas sociais, consideradas raras por compartilharem suas teias. Já foram catalogadas 900 espécies de borboletas, o triplo de espécies encontradas em outras matas da região sudeste.
O pesquisador conhece cada trilha, brejo, córrego e cachoeira que se escondem entre a vegetação ora densa, ora mais esparsa. São duas décadas de estudos sobre a biodiversidade da serra, em especial sobre as interações entre animais e plantas e seus impactos recíprocos, como a importância dos insetos para a dinâmica das espécies vegetais. As populações de besouros, aranhas e plantas da família das Solanáceas (como jurubeba, pimenta e pimentão) são atualmente os objetos de interesse de Vasconcellos, que leciona para cursos de graduação e pós-graduação.
A bordo do XTerra, cedido pela Nissan do Brasil Automóveis, o professor leva seus alunos para estudos em campo, partindo da Base de Estudos de Ecologia e Educação Ambiental, desde 1993 mantida pela prefeitura de Jundiaí. É ali que pernoitam os pesquisadores em expedição e são ministradas aulas com ênfase em educação ambiental, por onde já passaram cerca de 10 mil crianças de escolas da região, desde a inauguração. A base serve ainda de espaço para treinamentos com o agrupamento florestal da guarda municipal. São cerca de 20 homens que fazem o monitoramento das áreas da serra que estão no território de Jundiaí (cerca de 47%) e ajudam ainda nas ações de reflorestamento.
Exploração
O fogo é um dos grandes problemas enfrentados pela Serra do Japi. No primeiro semestre deste ano, já foram registrados cerca de 30 focos, a maioria de natureza criminosa, segundo informa o grupamento florestal. Os guardas se desdobram para conter o fogo, e argumentam que as condições de trabalho são precárias, pois faltam equipamentos para contenção dos incêndios e veículos para ajudar na fiscalização da mata.
Hoje eles operam com dois carros de passeio e uma ambulância adaptada, que é usada para carregar o material de combate às queimadas, como enxadas, foices, abafadores improvisados e duas bombas costais, que armazenam até 20 litros de água que são levados para os focos de incêndio.
Mas a ameaça que salta aos olhos é o aumento da especulação imobiliária nas cercanias da serra, que foi transformada em área de proteção ambiental (APA) em 1984, pelas Leis Estaduais 4.095 e 4.023, que disciplina o uso de cerca de 191 km² das terras. Qualquer atividade em sua área deve ter autorização da Prefeitura ou do Departamento Estadual de Proteção aos Recursos Naturais (DPRN) para que não seja considerada infração. A região foi ainda tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico (Condephaat) em 1983.
No entanto, os condomínios residenciais de alto padrão avançam até na área de macrozona de proteção ambiental, delimitada por lei municipal. "Em torno de 90% das terras da serra do Japi são particulares, o que faz a região sofrer pressões do mercado imobiliário. As políticas conservacionistas existem, mas têm oscilado de prefeito para prefeito", alerta Vasconcellos. Ele explica que as características do solo da serra, quartzítico e pouco fértil para a agricultura, contribuíram para que a região ainda mantivesse um certo grau de preservação. Ainda assim, há muitos trechos desmatados para a pastagem do gado e plantio de espécies exóticas, como pinus e eucaliptos. O professor tem planos de fundar uma oscip (sigla para Organização da Sociedade Civil para o Interesse Público) com o objetivo de angariar parceiros para fomentar políticas de preservação da região. "Estas terras não têm outra vocação senão a da conservação ambiental", sentencia.
GM, 12/11/2003, p. A10

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