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PESQUISA DO INPA AVALIA IMPACTO AMBIENTAL DA CONSTRUÇÃO DE HIDRELETRICAS NO AMAZONAS

Assessoria de Comunicação da Fapeam
14 de Ago de 2007

Ainda não havia dados científicos sobre as conseqüências da construção da hidrelétrica de Balbina, a única de grande porte do estado do Amazonas.

Localizada no rio Uatumã, no município de Presidente Figueiredo, a hidrelétrica de Balbina sempre foi apontada como causa de impacto ambiental por especialistas das mais variadas áreas, desde o início de sua construção, em 1984.

O pesquisador Efrem Ferreira, do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa), finalizou recentemente um trabalho do Programa Integrado de Pesquisa Científica e Tecnológica (PIPT) sobre a análise do impacto ambiental na ictiofauna nesta hidrelétrica, fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

O pesquisador explica que escolheu Balbina como local de sua pesquisa pelas particularidades únicas ali encontradas e também pela falta de informações científicas sobre a ictiofauna do local.

Segundo ele, a hidrelétrica é a única de grande porte que foi construída no Estado do Amazonas e, na época, causou uma grande discussão sobre viabilidade da obra em virtude da potência que ela ia gerar na da área alagada.

"Na ocasião, início da década de 80, essas discussões ainda não eram muito democráticas, não havia um movimento ambiental bem articulado como hoje. Houve um desentendimento entre a Ufam (Universidade Federal do Amazonas) e o Inpa, as principais instituições de pesquisa da época, e a Eletronorte, empresa responsável pela construção da hidrelétrica. Por conta disso, não houve, em Balbina, um acompanhamento adequado sobre os impactos ambientais, trabalho de praxe que já havia ocorrido em Tucuruí, por exemplo", lembra Ferreira.

O pesquisador relata que não havia dados científicos sobre o impacto de Balbina.

"Tínhamos certeza de que o número de espécies teria diminuído, uma vez que sempre que se represa um rio o ambiente muda, torna-se lago, e isto acarreta o desaparecimento de algumas espécies. Mas não se sabia quais eram as espécies. Perdemos anos de registros, conseqüência dessa ausência de diálogo, dados, que hoje poderiam ser utilizados em outros empreendimentos", aponta, referindo-se à possível utilização desses dados para discussões e estudos sobre impactos ambientais em outros rios da região.

A pesquisa de Ferreira registrou 104 espécies de peixes, 17 a menos que em 1985, quando foram coletadas 121 espécies. Isso signifca uma redução de 15% no número de espécies.

Os pesquisadores utilizaram a malhadeira (rede de pesca) para coletar os peixes. Os pontos de coleta foram os mais próximos possíveis das coletas anteriores à construção da barragem, respeitando as alterações do leito do rio para o do lago.

Na área, havia jaraquis, pacus, curimatã, aracus, que atualmente vivem apenas abaixo da barragem, uma vez que não podem mais manter seus ciclos de vida na área alagada, acima da barragem.

Entretanto, Ferreira esclarece que os registros realizados anteriormente apresentavam problemas metodológicos, pois havia muita mudança nas equipes responsáveis.

O pesquisador explica que os poucos estudiosos que coletaram informações em Balbina foram pessoas que trabalharam para a Eletronorte de forma segmentada, não criando um acompanhamento único, uma base de dados em comum.

"Por vezes, os relatórios da empresa são incompletos, não servem como parâmetros para comparação científica, que é a maior utilidade para esse tipo de informação", reclama o pesquisador.

"Tenho certeza de que havia mais espécies do que estavam registradas e houve um problema sério de identificação de peixes, logo, o impacto deve ter sido maior", afirma o pesquisador.

Essas suspeitas foram comprovadas em um projeto de pesquisa, ainda não finalizado, no qual Ferreira orienta a mestre Odirlene Marinho Ribeiro. Em seu trabalho sobre o resgate de informações dos peixes de Balbina, ela busca reidentificar as espécies que haviam sido coletadas na década de 80 e estão depositadas na coleção de Peixes do Inpa.

Quando o trabalho estiver concluído teremos um quadro mais real das alterações ocorridas na composição da ictiofauna.

"A criação de uma hidrelétrica modifica as relações ambientais da ictiofauna, as espécies modificam seus comportamentos para se adaptar às novas condições. O lamentável é que, em Balbina, nós perdemos essa história, não temos dados sobre esses 20 anos", enfatiza Ferreira.

Segundo o pesquisador, Balbina é a única hidrelétrica no Brasil onde a área de captação de água é menor do que o lago.

"Quando você passa pelo lago de uma hidrelétrica sempre existem rios, afluentes, mas, em Balbina, após o lago, existem apenas igarapés pequenos. O lago é maior do que a área de captação e por conta disso Balbina produz pouca energia. Balbina tem a mesma área inundada de Tucuruí, por exemplo, mas produz apenas 250 megawatts, Tucurui produz 8 gigawatts, cerca de trinta e duas vezes mais energia", exemplifica.

Apesar desses problemas, o pesquisador acredita que a hidrelétrica é necessária nos dias atuais e teve grande relevância no final da década de 90, quando Manaus passou por dificuldades de geração de energia.

Ainda assim, havia outras opções na mesma época, como Cachoeira-Porteira no rio Trombetas.

"O que podemos fazer agora é procurar evitar anos perdidos, como em Balbina, ocorram em outras construções, para que possamos minimizar impactos ambientais ocasionados por estes empreendimentos. Afinal, tudo que diz respeito a impacto ambiental na Amazônia deve ser cuidadosamente estudado, uma vez que a biodiversidade aqui é enorme", conclui o pesquisador.

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