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Pesquisa descobre cana-de-acucar para cultivo no semi-arido do NE: Especie requer metade da agua da planta tradicional

FSP, Dinheiro, p.B12
09 de Dez de 2003

Espécie requer metade da água da planta tradicionalPesquisa descobre cana-de-acúçar para cultivo no semi-árido do NE
KAMILA FERNANDESDA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA Uma pesquisa da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) descobriu um tipo de cana-de-açúcar ideal para o plantio no semi-árido nordestino: a cana do sertão, como ficou conhecida, precisa só da metade da água usada no plantio da cana tradicional para produzir. O plantio da tradicional precisa receber mil milímetros de chuva por ano. O da do sertão, 500 milímetros.Depois de testada na própria universidade, a cana do sertão passou a ser produzida, neste ano, em engenhos de verdade.O primeiro plantio, de 860 toneladas, ocorreu em oito municípios do sertão pernambucano: Santa Cruz da Baixa Verde, Triunfo, Solidão, Tabira, Santa Terezinha, Itapetim, São José do Egito e Ibimirim.Nos dois primeiros municípios, a surpresa foi perceber que a cana estava pronta para a colheita com oito meses de plantio, dois antes que o habitual. Não há diferença entre os diversos tipos de cana, na aparência ou no resultado final."O excesso de sol é um fator extremamente positivo para o plantio da cana, pois afasta as pragas e estimula o desenvolvimento da planta", diz Pedro Lira, responsável pelo setor de cana-de-açúcar do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em Serra Talhada (PE)."Com o outro tipo de cana, que precisa de mais água, o clima seco e o sol forte têm um efeito destrutivo, mas, como antes não havia outra opção, o agricultor se habituou a rezar para ter sua colheita, mesmo com a estiagem."O clima do semi-árido, com o excesso de calor e de luminosidade o ano inteiro, criou uma barreira natural às pragas da cana e permitiu aos produtores optarem pelo plantio orgânico, sem defensivos agrícolas químicos. A redução dos custos de produção chega a ser de 75%.Existem cerca de 300 engenhos de cana-de-açúcar no semi-árido pernambucano, a maioria ainda funcionando "à força de boi", sem máquinas ou outra tecnologias: um boi faz o papel de processar a cana, ao puxar uma moenda manual, para transformá-la, depois, em rapadura ou cachaça, os dois principais produtos da região.Além de o plantio ser quase todo manual, com a cana tradicional, os produtores trabalhavam apenas quatro meses por ano, à espera das chuvas para a colheita."A maior dificuldade agora deixou de ser o plantio em si, mas é convencer os produtores a mudar, porque a cultura local é muito arcaica e eles têm uma forte rejeição às novidades", disse Lira. Segundo ele, excursões com donos de engenho têm sido organizadas para levá-los aos locais onde o plantio da nova cana está sendo executado.Apesar de consumir pouca água, a cana do sertão ainda precisa de irrigação para produzir o ano inteiro. "Com pouca água, mas uma quantidade que precisa ser garantida, a produtividade é triplicada", disse Lira. O Sebrae está implementando o plantio da cana do sertão no interior de Pernambuco em convênio com a própria universidade e com governos estadual e municipais.Não foi necessária nenhuma modificação genética nas variedades de cana-de-açúcar para se chegar a um tipo que se adaptasse melhor ao clima seco e quente do semi-árido nordestino.A pesquisa da UFRPE faz parte de um projeto chamado Cultivar de Cana-de-Açúcar, desenvolvido por outras seis universidades federais do país, cujo objetivo é verificar a melhor adequação das variedades da planta a diferentes tipos de solo e clima, até mesmo em locais de baixa fertilidade.Paralelo a esse projeto, a universidade está trabalhando para decifrar o sequenciamento genético da cana-de-açúcar. O programa Genoma/PE foi iniciado em 1999 e está sendo feito em colaboração com a UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e com a IPA (Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária).

FSP, 9/12/2003, p. B12

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