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Perigo de deslizamento

O Globo, Rio, p. 14
29 de Nov de 2013

Perigo de deslizamento
Estudo revela que 91 dos 92 municípios do estado têm pelo menos 20 pontos de risco

TAÍS MENDES
tais@oglobo.com.br

Faltando pouco menos de um mês para o verão - a estação começa em 21 de dezembro -, um relatório anual do Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio (DRM), concluído este mês, revela que a situação das encostas é crítica, mesmo em condições de chuvas normais. O documento mostra os resultados do Programa de Cartografia de Risco Iminente de Escorregamento em 91 municípios do Rio (na capital, a responsabilidade é da GeoRio) e aponta que, em cada um deles, há locais com perigo iminente de deslizamento. Em cinco cidades - Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Angra dos Reis (incluindo Ilha Grande) e Niterói -, a situação é mais preocupante: elas acumulam mais de 200 pontos com risco iminente. Outros nove municípios têm entre 85 e 200 lugares e 20 apresentam entre 50 e 85.
O relatório alerta, a respeito desses pontos: "são setores nos quais os acidentes, muito provavelmente, serão deflagrados quando do registro de chuvas regulares e normais". Ainda segundo o documento, poderá haver problemas com a combinação de precipitações diárias com chuvas contínuas de quatro dias ou acumuladas em um mês. O presidente do DRM, Flávio Erthal, afirma que pode parecer assustador, mas tantos pontos de risco são resultado também de um maior conhecimento da situação das encostas do estado:
- A cada ano, à medida que as equipes visitam os municípios, descobrimos novos setores de risco. A situação no estado continua crítica. O resultado pode assustar, mas é um instrumento que mostra onde devemos atacar primeiro. Há três anos esse monitoramento não existia.
A especialista Ana Luiza Coelho Neto, professora do Instituto de Geociência da UFRJ, diz que, se em dezembro continuar chovendo como em novembro, a possibilidade de novas tragédias no próximo verão é grande.
- Quando a chuva é intensa nos meses que antecedem as chuvas fortes esperadas para janeiro e fevereiro, há a possibilidade de novas catástrofes. Está chovendo muito e não tivemos estiagem no meio do ano. A água continua se acumulando no solo. A granada já está pronta para explodir - afirma.
Ela critica a metodologia utilizada pelo DRM. Segundo a especialista, a autarquia estadual só monitora locais onde já ocorreram deslizamentos. Ana Luiza diz que é preciso fazer uma análise mais profunda do solo, inclusive com imagens de satélite. Quando se integram esses dados com informações sobre que danos podem ocorrer em caso de deslizamentos - como, por exemplo, o número de casas em perigo -, tem-se a carta de risco.
- Só depois, então, é que podemos fazer o monitoramento. O que os governos estão fazendo fica longe disso - diz.
O presidente do DRM reconhece que a metodologia utilizada não é a do "mundo ideal", mas diz que não há pessoal, informações cartográficas e nem verba para tanto.
- A academia tem uma visão a longo prazo. Isso não está errado, mas como podemos esperar? O nosso compromisso com o governo é de mapear rápido. E, no Brasil, não há cartas cartográficas recentes. Mas avançamos na mobilização. Os municípios estão mais organizados para uma resposta mais rápida. Além disso, o Rio é o primeiro estado brasileiro que está totalmente mapeado quanto ao risco iminente nos municípios - afirma Flávio Erthal.
Além de uma melhor organização nas cidades, com mais integração entre os diferentes órgãos e mais gente trabalhando, Flávio cita o sistema de alerta e alarme em vários municípios como boas medidas preventivas.
Na cidade do Rio, a Defesa Civil mantem 166 sistemas de sirenes em 103 comunidades. Atualmente, a capital conta com 86 pluviômetros, e, na última semana, a Defesa Civil iniciou a instalação de mais 20. No interior, 54 comunidades têm o sistema de alerta, que será instalado em mais 12 áreas de risco em janeiro.
Capital tem 110 favelas em áreas críticas
O presidente da Fundação Geo-Rio, Márcio Machado, afirma que a capital tem 110 comunidades em áreas com alto risco de deslizamento. As favelas ficam em encostas do Maciço da Tijuca e da Serra da Misericórdia. O problema atinge, entre outras, as favelas do Complexo da Penha e do Alemão.
Machado diz que, até o momento, a Secretaria de Obras tem cerca de R$ 350 milhões em recursos do governo federal para aplicar nessas comunidades até 2016, a fim de tirá-las da situação de risco:
- Até o início do ano que vem, já estaremos com essas obras nas ruas.
De acordo com ele, as encostas na capital não apresentam perigo de deslizamento no caso de chuvas regulares ou fracas, apenas se houver precipitações de grande intensidade. Machado lembra que as áreas de risco contam com sistema de alerta.

O Globo, 29/11/2013, Rio, p. 14

http://oglobo.globo.com/rio/dos-92-municipios-fluminenses-91-tem-pontos…

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