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Pela 1ª vez em 120 anos, uma artista indígena é protagonista de um show no Teatro Amazonas

A Crítica acritica.com
Autor: Laynna Feitoza
23 de Ago de 2017

Havíamos chegado ao Teatro Amazonas, num dia qualquer de agosto, para gravarmos o vídeo que acompanharia a matéria sobre o show de Djuena Tikuna. Para fazermos as imagens, pedimos que ela cantasse, na plateia do Teatro mesmo. Era uma manhã em que o local estava recheado de visitantes, de outras partes do Brasil e mundo. E foi no meio do Teatro que Djuena começou a cantar, "acapella", para que gravássemos.

Eu, repórter que acompanhava a gravação, fiquei hipnotizada com a voz de Djuena ecoando ali, no salão do Teatro. Era como se houvesse floresta dentro daquele símbolo arquitetônico tão luxuoso. Foi quando experimentei olhar para os lados e vi TODOS os turistas que visitavam o TA, debruçados nas sacadas das frisas, para assistir o mini-show de Tikuna.

Assim que ela terminou, foi surpreendida com os aplausos dos visitantes, que chegaram ali sem imaginar que teriam, antes de algumas pessoas, o privilégio de ver uma indígena, pela primeira vez, ganhar o seu protagonismo enquanto artista no principal templo artístico do Estado - que possui a maior população indígena do País.

Nesta quarta (23), Djuena lançará o primeiro disco de sua carreira, chamado "Tchautchiane" ("Minha Aldeia", em português). O show possui caráter cênico-musical, uma vez que, antes do show, outros artistas indígenas se apresentarão ao público, nos entornos do Teatro Amazonas. A apresentação teve grande apoio da Secretaria de Cultura do Amazonas e de instituições de apoio ao indígena no País.

Djuena realizou uma campanha de financiamento coletivo no site Partio, onde queria arrecadar dinheiro para trazer o máximo de comunidades indígenas ao show da "parente" - termo que os indígenas usam para denominar-se entre si, independente de laço consanguíneo. Mas, infelizmente, Djuena não conseguiu arrecadar os R$ 11 mil, aproximadamente o valor estipulado para arrecadação.

Presentes

Independentes disso, as comunidades indígenas vão participar do show mesmo assim. Algumas pessoas patrocinaram a cantora com transporte para trazer as comunidades indígenas ao teatro. Várias comunidades indígenas da capital amazonense estão se mobilizando para prestigiar a parente em seu show histórico, que será acompanhado pela equipe do Greenpeace Brasil, e que vai virar documentário.

Nascida na aldeia Umariaçu, localizada na região de Tabatinga (AM), Djuena explica que o povo Tikuna é muito musical. "Sempre cantamos, desde cedo nos é oferecida a possibilidade de cantar. Os Tikuna tem cantoria pra tudo: pra ninar, para botar roça, para pescaria, para rezar. Tem cantoria de ritual, tem cumbia da fronteira, tem ragatoon, tudo na língua Tikuna", declara ela.

Sua chegada a Manaus aconteceu ainda na infância, e mesmo nascendo no Estado que detém a maioria da população indígena do Brasil, a cantora sofreu preconceito. Ao chegar na capital com sua família, ela sequer tinha chinelos quando desceu do barco que a trouxe. E sofreu preconceito na escola, por parte de uma professora, que a menosprezava por Djuena não saber falar português.

Como cantora, a indígena começou a cantar profissionalmente há 10 anos, na antiga feira "Puka'ar: Mãos da Mata", que acontecia na Praça da Saudade, no Centro Histórico. "A feira reunia toda a comunidade indígena de Manaus, com seus cantos, danças, artesanatos, pinturas, bebidas tradicionais. Era uma bela confraternização entre os povos indígenas que vivem aqui, pontua ela.

Djuena sempre foi uma grande ativista na promoção dos direitos de seu povo, e comemora o fato de que o irmão, Aguinilson Tikuna, tenha sido eleito recentemente para o Conselho de Cultura da Manauscult, uma vitória do movimento indígena local. "Os gestores públicos precisam entender que a comunidade indígena tem muito a contribuir com Manaus e o Amazonas. Agora, precisamos ser ouvidos", diz ela. O primeiro brado será dado hoje.

Serviço

O quê: Show de Djuena Tikuna

Onde: Teatro Amazonas (Rua 10 de julho, Centro)

Quando: Nesta quarta (23), a partir das 18h

Quanto: Gratuito

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