VOLTAR

"Pedimos que respeitem a nossa decisão": Lideranças Mura cobram respeito ao protocolo de consulta sobre a exploração de Potássio em Autazes

Coiab - https://coiab.org.br
Autor: Isabel Babaçu
10 de Out de 2023

Publicada em: 10/10/2023 as 22:07

Texto: Isabel Babaçu | Fotos: Vicente Taveira

Nesta terça-feira (10/10), lideranças do povo indígena Mura participaram de coletiva de imprensa em Manaus. Em meio à seca extrema no Amazonas, causada pelo agravamento das mudanças climáticas e o aquecimento do oceano, o povo Mura tem sido pressionado cada vez mais para a exploração de potássio dentro das terras indígenas.
A Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), articularam a coletiva para dar uma resposta às movimentações do governo do estado em pressionar para que o povo Mura desista da demarcação da Terra Indígena Soares/Urucurituba para que a Potássio do Brasil possa explorar o território. A pressão passa por promessas de infraestrutura que fazem parte de políticas públicas que deveriam ser garantidas pelo estado, como água potável, saneamento básico, moradia, escolas.

Além da Apiam e Coiab, participaram da coletiva os representantes da Organização das Lideranças Indígenas do Povo Mura do Careiro da Várzea (Olimcv), William Mura e Erton Mura, o tuxaua da Aldeia Soares, Sérgio Mura, a diretora do Departamento de Proteção Territorial da Funai, Janete Carvalho e o procurador da República do Ministério Público Federal no Amazonas, Fernando Merloto Soave.

No pronunciamento à imprensa, um dos representantes da Olimcv, Willian Mura, manifestou repúdio a toda pressão que está sendo feita em cima das lideranças do povo Mura. "108 pessoas não podem tomar decisão para mais de 8 mil Muras, não foi unânime. De acordo com nosso protocolo de consulta, é preciso ter consenso, está na página 17 do protocolo: quem toma decisões são todos os Mura de todas as aldeias, não um punhado de lideranças pró-mineração. Essa decisão de que o povo Mura é favorável a mineração não é verdade", ressaltou a liderança.

No dia 22/09, em reunião em Autazes, foi elaborada uma ata manifestando apoio de indígenas Mura ao projeto de exploração de potássio. Este documento está em desacordo ao Trincheira Yandé Peara Mura, Protocolo de Consulta e Consentimento do Povo Indígena Mura de Autazes e Careiro da Várzea, que prevê uma série de reuniões, sem a presença de não-indígenas.

Um dos representantes da Olimcv, Herton Mura, ressaltou os desastres e impactos relacionados à mineração, inclusive fora de terras indígenas. "Não tem exemplo em nenhum lugar do mundo que a mineração tenha dado certo. É importante que o governo ouça a fala dos parentes que estão lá. Já pensou você está na sua casa e alguém chega dizendo para você sair? É assim que os parentes da Aldeia Soares estão se sentindo, com essa propagação que de que queira ou não os indígenas da Soares, ou outras aldeias o empreendimento vai acontecer de qualquer jeito. Se isso acontecer, queremos que haja respeito", afirmou.

A coordenadora da Apiam, Mariazinha Baré, cobrou dos governos municipais, estaduais e federal alternativas econômicas que não precisem destruir territórios com a promessa de crescimento econômico de regiões. "Ilusão achar que esse empreendimentos vão trazer desenvolvimento para as comunidades. O que vai restar para nós é simplesmente contaminação de rios, de terra, nossos animais e peixes. O resultado vemos nesta seca no Amazonas, a maior bacia hidrográfica do mundo, maior floresta, está sucumbindo, qual resultado?", indagou.

Em uma carta divulgada hoje (10/10), assinada pela coordenadora da Apiam, Mariazinha Baré, e pelo coordenador-geral da Coiab, Toya Manchineri, convocam os governos da Amazônia e federal a declararem emergência climática na região e adotarem medidas "urgentes e sustentáveis" para mitigar os impactos do agravamento das mudanças climáticas e impedir o colapso do bioma. Leia a carta aqui.

As instituições atribuem o agravamento da crise ambiental no Amazonas a um "modelo de desenvolvimento insustentável" que expõe a Amazônia, suas comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, extrativistas e urbanas aos impactos de diversas ameaças, muitas delas escancaradas pela vazante extrema dos rios.

"A cada ciclo, os impactos das mudanças climáticas são piores e mais profundos. Este está sendo o pior ano de todos: o clima está cada dia mais quente, os rios estão mais secos e os peixes, que antes eram abundantes, agonizam e morrem por falta de água! Todos os rios distribuídos nas calhas do Amazonas, Solimões, Negro, Madeira, Juruá e Purus estão secando em tempo recorde, enquanto a floresta queima dia e noite, sufocando nossas cidades, comunidades e aldeias com fumaça e afetando a saúde, principalmente, de nossas crianças. Ainda não estamos nem perto do fim dessa vazante e os impactos já são avassaladores", dizem as lideranças em trechos da carta aberta.

https://coiab.org.br/conteudo/%E2%80%9Cpedimos-que-respeitem-a-nossa-de…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.